Tenho dificuldade em escrever diálogos que me convençam. E se não posso convencer a mim, como escritor faço o quê para convencer meu leitor? Esta é uma das questões que me acompanham há mais de vinte anos quando o assunto é escrita. Meus romances apresentam poucos diálogos, muito em função disso. Sei que tenho que me debruçar sobre o tema a fim de melhorar a condição, sem dúvida, e foi o que fiz praticando leituras sobre o assunto.

Um dos livros mais interessantes que li sobre o assunto foi o de Flávio de Campos, “Roteiro de cinema e televisão – A arte e a técnica de imaginar, perceber e narrar uma história”. Claro, é isso, imaginar.  Mas esse é apenas um dos aspectos intrigantes do que se convenciona chamar de Escrita Criativa, febre por aqui, mas que nos Estados Unidos da América é praxe, desde os tempos de Edgar Alan Poe. Se é bom para os Estados Unidos…

Pois bem, resolvi montar o meu curso de escrita também. Comprei mais ou menos setenta livros que cobrem várias vertentes do que se encaixa na proposta e ao longo de um ano e meio li uns quarenta e cinco. Montei a grade do curso depois de pesquisar a ementa dessa disciplina em cursos de letras e de cinema, além das grades de Escrita Criativa em cursos superiores do Brasil e de Portugal. Cheguei a um modelo híbrido que tenho colocado em prática.

EMENTA DO CURSO

Introdução à escrita criativa. Relação da leitura/escrita com os gêneros literários. Grandes autores falam de suas obras. Diálogos com plataformas contemporâneas e outras manifestações artísticas. Ênfase na tríade Leitura, Criação e Sistemas Literários. Transubstanciação: migração de textos literários para outros suportes, cinema, teatro, televisão, videoclips, jogos eletrônicos. Abordagem teórico-prática para a escrita de textos de ficção e não ficção, com foco na produção ensaística. Autoria e o lugar do leitor. Pós-verdade e outras questões contemporâneas na literatura.

Montei blocos a partir de unidades menores, como por exemplo, Poesia, Pequenas Narrativas, Autores e seus Processos, além de alguns mais teóricos, a fim de trabalhar a conceituação de processos específicos e modismos em geral. Questões ligadas à fancfiction, particularidades do conto, hibridismo em romances, auto ficção, testemunho dentre outros estilos também encontraram espaço. Minha bibliografia básica busca mesclar erudição com obras de iniciação. Destaco abaixo os principais pontos de apoio.

AIRA, César. Pequeno Manual de Procedimentos. Tradução de Eduard Marquardt. – Curitiba: Arte & Letra, 2007.

JAMISON, Anne. FIC. Por que a fancfition está dominando o mundo. Tradução de Marcelo Barbão. – 1. Ed. Rio de Janeiro: Anfiteatro, 2017.

KING, Stephen. Sobre a escrita. A arte em memórias. Tradução Michel Teixeira. 1. Ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

_____________. A Zona Morta. Rio de Janeiro: Suma de Letras, 2017.

MURAKAMI, Haruki. Romancista como vocação. Tradução de Eunice Suenaga. – 1. Ed. – São Paulo: Alfaguara, 2017.

__________________. Do que eu falo quando eu falo de corrida. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

NUNES, Lygia Bojunga. Intramuros. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2016.

___________________. Livro – um encontro. 6. ed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2007.

___________________. Fazendo Ana Paz. 6 ed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2007.

___________________. Paisagem. 6 ed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2004.

PIGLIA, Ricardo. Formas Breves. 2. reimpressão. Tradução de José Marcos Mariani de Macedo. – São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

PROSE, Francine. Para ler como um escritor: um guia para quem gosta de livros e para quem quer escrevê-los. Tradução de Maria Luisa X. de A. Borges. – Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

TEZZA, Cristovão. Literatura à Margem. Porto Alegre: Dublinense, 2018.

_______________. O professor. Rio de Janeiro: Record, 2014.

_______________. Trapo. Rio de Janeiro: Record, 2007.

WOODS, James. Como funciona a ficção. Tradução de Denise Bottmann. São Paulo: SESI-SP Editora, 2017.

VOGLER, Christopher. A jornada do escritor. Estrutura mítica para escritores. Tradução de Petê Rissati. – 3. ed. – São Paulo: Aleph, 2015.

Se você chegou até aqui deve estar pensando que agora eu domino totalmente o assunto, que meu curso foi um sucesso e que devo estar ganhando bastante dinheiro com isso. A resposta é não. Acho que ainda nem consegui melhorar meus diálogos. Pode reparar que o livro do Flávio nem está entre os da bibliografia básica do curso. E se você leu meus diálogos que estão no início desta crônica deve ter percebido que preciso melhorar muito mesmo antes de continuar, não é mesmo?

Durante sete meses debrucei-me sobre esses tópicos todos. A conclusão a que chego é a de que (e eu já sabia) a melhor maneira de estudar qualquer conteúdo é ter que ministrá-lo em forma de curso. Vivendo e aprendendo; é escrita que segue…

 

 

 

 

 

 

 

 

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Ao completar vinte anos da publicação de meu primeiro romance, fecho a trilogia prometida com este volume. Penso que esse tempo foi uma graduação na arte de escrever narrativas mais espaçadas, a que se atribui o nome de romance. Matrinchã do Teles Pires (1998), Flor do Ingá (2014) e Chibiu (2018) fecham esse compromisso. Está em meus planos a escritura de um livro de ensaios em que me debruço sobre a obra de Ana Miranda, de Letícia Wierchowski e Tabajara Ruas; o foco neste trabalho é a produção literária e suas relações com a historiografia oficial. Isso vai levar algum tempo, ou seja, no mínimo uns três ou quatro anos. Vamos fechar então com 2022, antes disso seria improvável. Acabo de lançar Gênero, Número, Graal (poemas), contemplado no II Prêmio Mato Grosso de Literatura.

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