corpos correm, correm, correm
corpos se chocam
se movem
velozes
vão de encontro uns aos outros
correm de costas
sem olhar para onde pisam
se lançam no ar
se atiram no chao
corpos correm correm correm
trombam
se esbarram
se puxam
se atravessam
e passam por cima de outros corpos
em uma dança violenta
começam a se despir
e correm
se chocam
e param
o zumbido de mil mosquitos
paira sobre suas cabeças
corpos
imoveis
em transe
o objeto voador faz esvoaçar seus cabelos
a força do vento mexendo os fios
arrepiando os pelos
e eles lentamente se movem
juntos
como peças da mesma engrenagem
começam a se desmontar
pedaço por pedaço
pernas, mãos, braços
cabeças que caem
de encontro ao palco
são puxados, compelidos pela força do corpo
maior que o próprio corpo
se desmontam
e se remontam
de encontro ao chao
atirados violentamente
o apagamento
da vitimalgoz
o fim do sono
é o despertar?
acoplam luzes no topo de suas cabeças
e seus olhos só conseguem enxergar
um palmo à sua frente
eles então rodam
rodopiam
a dança violenta
dos corpos que caem
e correm
todas as outras luzes se apagam
eles continuam a rodar
como peões em antigas brincadeiras de crianças
peões rodam à meia luz
lentamente tudo se apaga
tudo se esvai
e o público fita o vazio da escuridão
dentro de casulos
corpos se transmutam em porcos
a pele de corpos disformes
a radicalidade de existir
e ser um corpo
com suas partes que não se encaixam
enquanto os homens vestidos de branco
como açougueiros
circundam o espaço
em todo o percurso do tempo
os corpos disformes rodam
se chocam
se tocam
se sodomizam
e se atiram
de encontro ao chão
se lançam no ar
na dança violenta dos corpos
o objeto voador paira em nossas cabeças
também nós estamos em movimento
arrancados da nossa confortável posição de espectador
dançamos a dança dos corpos
e nos atiramos
tateando o sentido de ser
em outros corpos

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