Após receber uma mensagem de um rapaz solicitando uma força na divulgação de seu trabalho, procurei-o, e conheci o cross dresser, rapper, Vítor Souza. Me enviou o link com uma música criada e produzida por ele, um rap, que me cativou de cara, assim como sua sensibilidade e consciência crítica, o que me fez abordá-lo para essa conversa que publico aqui e que serve para refletirmos sobre a condição do artista brasileiro que é muitas vezes vítima de preconceitos e intolerância de gênero, dentre outras coisas.

Quem é Vítor Souza? brasileiro, mato-grossense, ou de onde?

No dia 05 de Julho de 1999, na cidade de Cuiabá, Mato Grosso, nascia João Victor Martins Souza. Um menino negro, gay e afeminado. Vitor Souza, nome artístico pelo qual muitos o conhecem, sempre sonhou em ser artista. Mas por ter um vida limitada durante a sua infância, teve a oportunidade de colocar esse sonho em pratica somente aos 21 anos.

Como a música surgiu pra você? No começo de tudo…

Sempre quis trabalhar com a arte, mas nunca imaginei que seria com a música.
No ano de 2016, quando eu comecei a frequentar festas LGBTQIA+, tive a oportunidade de me lançar como DJ. Toquei em diversas festas, mas depois de um tempo percebi que queria algo a mais para o meu futuro, e então, no ano de 2020 no início da pandemia, comecei a escrever. Ouvia os beats no YouTube, e brincava de rimar. Foi a partir desse momento que criei a minha primeira música. Gravada no celular, dentro de um guarda-roupa, usei a minha experiência e produzi o meu próprio som. “Não vou deitar”, lançada no dia 25 de setembro de 2020.

Por quê o Rap? pop rap ou papo reto?

Durante a minha adolescência até hoje, o ritmo ao qual eu mais consumo e me identifico é o rap. Eu acho incrível a habilidade de rimar, a estética e a melodia…
O rap entrou na minha vida em um momento bem difícil para mim. Quando eu comecei a escrever, foi a forma que encontrei de colocar para fora tudo o que estava sentindo. Ali eu pude expressar meus sentimentos, dores e ego.
Mas por ser homossexual, não tive muitas referências, principalmente no rap, onde a cena é machista e homofóbica.

Existe mesmo homofobia no Rap? Como você identifica isso?

Com certeza! A indústria da música no geral é homofóbica. Já presenciei vários artistas da cena do rap fazendo piadinha, desmerecendo, olhando com indiferença…
Fora isso, tem também o machismo que é bastante presente na cena. E infelizmente existe. Quando eu decidi gravar o EP “PATRÃO”, fui atrás de vários produtores, e quando eu mostrava a letra, era nítida a reação de desinteresse deles. Um deles até aceitou produzir minha música, mas pediu para não citar o nome dele nos créditos finais do projeto.

Quebrar barreiras é a sua onda, ou não está nem aí?

A partir do momento que uma pessoa LGBTQIA+ decide se tornar uma pessoa pública, acredito eu, que ela tem esse dever com o público! Assumi esse compromisso no momento que me lancei como artista. Quebrar barreiras é necessário para conseguirmos alcançar
os nossos objetivos.

Como tem sido trilhar esse caminho musical e artístico?

Confesso que não é fácil! Mas o resultado de todo o esforço é gratificante. Tenho aprendido muito com essa nova fase da minha vida, vivenciei experiências incríveis, da qual sempre sonhei. E hoje, poder ser eu na música e na arte, é libertador…

A questão de gênero influencia? Como acha que pode romper as barreiras do preconceito?

Para nós artistas LGBTQIA+ é muito importante sempre ressaltar o respeito, deixar claro quem somos, e o que queremos. Jamais esquecer que o preconceito existe, e que está em todos os lugares. A forma que eu vejo de combater essa ignorância social, é com a educação e o conhecimento. Fatores que ainda sim, faltam na nossa sociedade.

Foto Edu Barreto

Fale da cena artística e cultural de Mato Grosso, como você a vê?

A cena cultural de Mato Grosso é repleta de conteúdo e história. Valorizar a nossa cultura, é reconhecer o esforço de quem faz ela acontecer. Por ser um cuiabano raiz, tenho muito orgulho de fazer parte desse estado. Já na cena artística, em Mato Grosso existem MUITOS artistas incríveis, mas que infelizmente não têm o reconhecimento que merecem, talvez pela falta de oportunidade.

E o futuro, o que espera pela frente?

Quero chegar em um certo ponto da minha vida, olhar para trás e sentir muito orgulho da minha trajetória. Sei que estou começando agora, e que ainda tenho um longo caminho pela frente. O que eu quero para o meu futuro ainda não tem nome, mas com certeza a palavra impossível não vai fazer parte dele…

Sobre o clipe da música “Patrão”, de Vítor Souza:

“O processo de criação começou no início da pandemia. Foi bastante importante pra mim, ali eu pude expressar meus sentimentos e transformá-los em música. Gravei todas as faixas no estúdio, e nesse período me veio a ideia de fazer o clipe da faixa “PATRÃO”. Então fui atrás de profissionais para me ajudar nessa parte do projeto. Marquei uma reunião com todos os envolvidos, e expliquei cada detalhe de como eu queria o clipe. Realizamos as gravações no Cine Teatro Cuiabá. E no dia 05 de Julho, dia do meu aniversário lançamos o projeto “Patrão”.”

Ficha técnica:

Artista/Compositor: Vitor Souza

Produtora: Produtora Osiris

Captação/Mix/Master: Alex costak

Direção/Fotógrafia: Dizão

Edição/Finalização: Rodrigo L7

Stylist: yohan matheus e Lucas paskually

Assistente de Produção: Vini Bueno

Assistente de Produção: Igor Amorim

Assistente de Produção: Eduardo Barreto

Assistente de Produção: Lucas Blank

Assistente de Produção: Josh

Locação: Cine teatro Cuiabá

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