Por Flamarion Scalia*

Um dos principais problemas do povo brasileiro é querer tratar tudo como se estivesse no estádio de futebol, uma síndrome bizarra, uma cegueira crônica, não sabendo separar o peso e a gravidade da situação proposta. O mesmo acontece no âmbito da religião, debates sobre uma convulsão política ou uma decisão seríssima como o aborto, estendendo-se por diversos caminhos onde a discussão deveria ser mais aprofundada.

Como tratar de forma simplista um caso de aborto em que a mulher foi estuprada ou mesmo que não queira, naquele momento, conceber uma criança: cabe a decisão da igreja, de um despreparo mental e emocional de um político com salário que o teto ultrapassa 11 000 reais? Para tais seres, existem as melhores clínicas, hospitais fora do país; sendo que, no entanto, votam contra a prática que eles mesmo cometem. Mas para alguns, não existem leis, coerção – permanecem além do bem e do mal.

Autor: René Magritte Data (1929) Técnica: Óleo sobre tela Dimensões: 63,5 × 93,98 nome da obra: Traição das imagens tradução (Isto não é um cachimbo)

Cabe somente à mulher e à família envolvida, decidir, sem qualquer entrave externo, o rumo com o qual conduz sua vida ou mesmo da criança, e ter total apoio e infraestrutura do governo para apoiar sua decisão. Vejo diversas pessoas em redes sociais, nos lugares onde frequento, tratando o assunto como se fosse pênalti ou não, se a bola entrou ou não. Atualmente alguns assuntos estão na “moda” de discussão; como por exemplo a PEC, a queda do avião da chapecoense e o aborto. Todos estes assuntos, estão sendo tratados de forma rasa e direcionados para os mesmos fins: superficialidade, análise desconexa e agressiva, erro lógico, modismo da tragédia – salvaguardando cada proposta de discussão – entre outras coisas que não convêm mencionar.

Renné Magritte

O grande filósofo grego, Aristóteles, em seu livro Organon, propõe a ideia da argumentação lógica perfeita – chamada de silogismo. Argumentação e a premissa que são um juízo prévio, que resulta em uma consequência com a qual é possível deduzir uma conclusão. Dentro dessa afirmativa, caso haja uma primeira falsa premissa ela resulta em um erro da conclusão lógica, mesmo que a premissa seja verdadeira. Um exemplo disso é o caso clássico: Se as ruas estão molhadas, é porque choveu recentemente. As ruas estão molhadas, portanto, choveu recentemente. As ruas estão molhadas não por causa da chuva, poderia ser por um rio ou alguém que molhou. Uma análise lógica simples não revela o erro desse argumento por não considerar a veracidade das premissas. O mesmo acontece com a análise simplista feita por muitas pessoas a respeito de assuntos que devem ter considerações mais aprofundadas e abrangentes.

Em uma estrutura lógica o autor X afirma a proposição P e há alguma característica considerada negativa em X, logo a proposição P é falsa. Simples assim.

Nome da obra: Criança geopolítica observando o nascimento do homem novo Autor: Salvador Dalí Data: 1942 Técnica: óleo sobre tela

Como considerar a argumentação de um autor X onde há algo negativo em termos de análise, estrutura, conclusão, premissa, aprofundamento, coerência, e até mesmo do simples conhecimento a respeito e por fim considerar a proposição P como válida? Ele comete um erro lógico e anula-se antes mesmo de existir. Os autores em questão existem na maior da população brasileira que sem um mínimo conhecimento prévio, dedica seu tempo em prol do pedantismo político, social, religioso e em diversos âmbitos de sua existência medíocre – deliberam sua curta passagem nesta vida em meros acasos, se lançam pelo mundo aleatoriamente como uma nuvem de gafanhoto ou uma manada desgovernada. É inconclusiva a origem dessa terrível idiossincrasia, e as causas pelas quais elas existem e persistem por séculos. O caso é tão grave que se expande no trânsito, ambiente de trabalho, núcleo familiar, nas urnas, nas decisões a respeito da vida do vizinho sendo que sua própria vida é fútil e incoerente. Vivem em um frenesi de consumo de porcarias televisivas e músicas que por 40 anos repetem uma onomatopeia idiota e “problematizam” assuntos passionais de forma estúpida e outra vez, retomam a síndrome do futebol – objetivando o indivíduo e reproduzindo de forma rasa o problema da infidelidade ou da separação, tendo em vista somente o lucro desse lixo ruidoso e radioativo.

Portanto, no uso argumentativo de sérias deliberações o uso do termo “argumentum ad hominem” (uma falácia identificada quando alguém procura negar uma proposição com uma crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo) é amplamente utilizado em discussões como medida de escape ou na tentativa e aludir uma condescendência inexistente em um nexo de causalidade: que é o caso da discussão sobre o aborto, a PEC ou do piloto do avião que levava os jogadores do chapecoense para Colômbia.

14021686_1091795530910694_8286884284358915762_n*Flamarion Scalia - Jornalista (colunista), 28 anos, 
morador de Goiânia. Permaneço,desde criança, imerso na filosofia 
e atualmente na deliberação da reestruturação das diretrizes 
fundamentais da epistemologia tradicionalista que para mim, 
é demasiadamente reducionista. Estudante de Artes Visuais (UFG), 
design gráfico e um aprendiz nas artes plásticas. 
Entusiasta da proposta surrealista e da crítica Dadá.

3 Comentários

  1. Citar a lógica Aristóteles para, indiretamente, defender o direito ao aborto é um contra-senso completo. Aristóteles, um dos homens mais notáveis da história, estudou detidamente a embriologia animal e honrava enormemente a alma e a vida humana. O mesmo Aristóteles afirmou categoricamente que a natureza não faz nada em vão.
    Sem dúvidas, falácias são falácias. Mas pra que serve esse texto? Pra choramingar dos que pensam diferente de você? Pra dizer que “a população brasileira” é ignorante e que os religiosos, conservadores e os políticos todos, sem exceção, são necessariamente imbecis?
    Parabéns, Einstein.
    Síntese do artigo:
    Não concorda comigo = Não tem senso crítico.
    Para o lixo vai.

    • Obrigado por ler e deixar seu feedback, pessoa anônima.
      Quando me refiro ao aborto faço uma crítica a estrutura de importância e também argumentativa da população diante de sérios assuntos que tange nossas vidas, que tudo parece simples como em uma partida de futebol – faço o mesmo com a PEC e o avião da Chape.
      Se você reler o texto e prestar um pouco mais de atenção, eu não falo em favor do aborto, nem da PEC tampouco do acidente de avião…Falo da liberdade de escolha para tomar uma decisão tão séria como o aborto. “Cabe somente a mulher e a família envolvida, decidir, sem qualquer entrave externo, o rumo com o qual conduz sua vida ou mesmo da criança, e ter total apoio e infraestrutura do governo para apoiar sua decisão.” (gostaria de saber como iria se deparar diante dessa circunstância, sem a liberdade de escolher tal como proponho no texto).

      Tenho duas dicas pra você, meu caro.
      No próprio texto falo do “argumentum ad hominem” (uma falácia identificada quando alguém procura negar uma proposição com uma crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo).
      Na próxima análise, preste mais atenção no que está lendo (pra não ficar grunhindo igual a um cão que levou uma surra). E não ataque o autor, e sim a ideia proposta, Einstein.
      Indico a você um livro para ficar mais por dentro do assunto e discutir com maior clareza da próxima.

      *Aristóteles constrói a primeira grande teoria filosófica sobre a liberdade na obra Ética a Nicômaco.

      “Nela, o filósofo elabora uma concepção de liberdade que integra o que é condicionado externamente (necessidade) ao que acontece sem escolha deliberada (contingência).

      Para Aristóteles, é livre aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir, isto é, aquele que é causa interna de sua ação ou da decisão de não agir. A liberdade é, pois, concebida como o poder pleno e incondicional da vontade para determinar a si mesma ou para ser autodeterminada. ”

      Boa sorte…
      e para o lixo vai!!

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