A vida sem música seria um erro, diria Nietzsche, ou por causa de um impulso reprimido sublimaria, diria Freud, amiguxo de Kant. Eu sem discordar dos dois diria que é mais fácil, mais agradável e mais divertido fazer música. Peço licença filosófica para escrever este texto. Quero dizer “fazer música” o rearranjar das notas, das batidas e dos versos inevitáveis. Agora, destacar-se no mundo de tantos compositores originais, é uma tarefa que vou entregar aos críticos, cientistas e amantes da música. Pensando em música autoral, é certo quando faço música, evito o caminho que me leva a lugares já percorridos, mas não jogo fora certas sonoridades pelo capricho de fazer tudo pela novidade.

Observando o novo, vejo possibilidades: o desejo que você tem pelo que está fazendo é um possível caminho da conquista da novidade, ouvir o que outros compositores fazem, soma na caminhada. Eu prefiro fazer por gostar da música e não para provar que posso fazer o novo. Talvez aí está o capricho – fazer questão de superar, mas prefiro o caminho do prazer de compor, deixando de lado a finalidade; é como não saber o que vai acontecer no próximo acorde, movimento, sem distinguir o tom, quantos compassos, quantos minutos, qual o tema e de qual público ela merece participar. Você já ouviu de tudo nessa vida?

imagesO que seria o novo? Pode ser que novo seja a sonoridade que escapa das garras de um mercado de antigos mandantes, a pesquisa de uma vida inteira ou aquilo que causa o estranhamento ao já acostumado. Belo ou feio, o novo não tem medo do desconhecido, mas tem medo do manjado. Quando falamos em música nova, não necessariamente é o novo na música, assim, deveríamos falar: tem mais uma música pronta! Ou ainda, fiz mais uma música das mesmas de sempre.

Pensar em fazer sucesso com o que você faz na música é meio caminho andado para fazer o velho, agora, sucesso é continuar fazendo, e se possível fazer diferente do que você já faz. Aí é sucesso e diversão garantid@s. Reproduzir uma fórmula musical pode ser divertido no blues. Numa festa blues, numa vida blues, dos inventores do blues. Durante uma vida toda, não. Se cada pessoa é única, a música deveria seguir essa regra. Contudo não é assim que funciona, né, por quê?

musicaxOlha, não pretendo ser absoluto, esgotar e dar respostas indestrutíveis, preferindo aqui abrir um debate, o pensamento. Libertar-se e refletir sobre valores em nossa sociedade anda junto com o que fazemos com a música, ela, a música, parece que é o reflexo de nossa interação com o mundo, a resposta por meio da sonoridade e das escolhas de sonoridade. Repetição é gag de palhaço, ou na pior das hipóteses o trabalho de fazer todos os dias a mesma coisa.

A música, ou a arte tem a vibe de elaborar saída desse terror, ela tem a função de procurar o novo, abrir horizonte e inventar propulsores inspiradores para nossas relações, no sentido de elaborar mundos possíveis nessa mesmice que engendramos no dia a dia. O compositor quando faz música, negocia mundos, estabelece contato e provoca situações de pensamento e de sensações. Ao mesmo tempo não faz questão nenhuma de ser uma pessoa de negócio porque não é barganha, é bem mais primitivo que isso, é conquista no modo helênico-on, sem pedir nada, simplesmente ela toma da geral.  Ela toma tudo que é invisível. Ou seria: com o invisível ela toma tudo que se pode ver.

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