Ficha técnica:

Imagens: Bruna Maciel e Zadoque Nathan

Jornalista: Priscila Mendes

Apresentador: Sandro Lucose

Depoimento: José Maria – Cacique Guató

Edição: Rafael Crisostomo

 

*Texto de Priscila Mendes

Expedição de voluntários identifica queimadas ilegais em fazendas do Pantanal, com foco no desmatamento

Uma expedição solidária à Baía dos Guatós (localizada a 54km do distrito São Pedro de Joselândia, no município de Barão de Melgaço), composta por voluntários e representantes de instituições doadoras de donativos, identificou indícios de incêndios ilegais, ou seja, provocados com a intenção de desmatamento.

O grupo, a convite do ator e ativista Sandro Lucose, esteve nessa parte do Pantanal com o objetivo de entregar cestas básicas e água mineral a três comunidades dos indígenas pantaneiros Guató, vitimadas pela seca do Corixo do Bebe (um dos braços do Rio Cuiabá), pela escassez de peixes e pelo fogo nos pomares.

Nessa região, afastada das comunidades pantaneiras, é possível identificar três “tipos” de terras: as fazendas, as demarcadas para os indígenas Guató e a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Sesc Pantanal, com bases na região. A diferença dos ambientes era evidente: as matas indígenas preservadas, alguns focos de incêndio na RPPN – provavelmente provocado por alguma faísca levada pelo vento – e terras desmatadas em fazendas.

As evidências apontavam para incêndios provocados em fazendas, pois havia dezenas de árvores cortadas e queimadas, muitas das quais de grande porte, cujos troncos já estavam empilhados para transporte e o terreno já terraplanado, mesmo com as cinzas do fogo recente. Houve lugares em que se encontrava as raízes, mas não havia mais os troncos.

É importante destacar que as queimadas são proibidas no período de seca – 120 dias a contar de 15 de julho, conforme Decreto nº 10.424/2020. “Nós que estávamos lá pudemos ver claramente a diferença no meio ambiente entre as terras indígenas e as fazendas, o desmatamento é gritante, até fizemos um vídeo”, contou o ativista Sandro Lucose. A expedição, pensada para atender as comunidades Guató, gerou um importante arquivo de imagens.

“Quando voltamos a Cuiabá, procuramos os dois órgãos ambientais principais – a Sema e o Ibama. A Sema checou que a fazenda [Campo Novo] não está cadastrada no sistema deles, inclusive disseram precisar de nossa denúncia, por mais que o satélite identifique que tem desmatamento naquela área. Mas nos disseram que não podem fazer nada, por estar dentro de terras indígenas. O Ibama, por sua vez, informou que não tem condição agora de cuidar disso, que tomariam providência quando tiverem estrutura”, denunciou.

Indignado e buscando formas de barrar os incêndios e derrubadas de matas ilegais, Sandro Lucose tem procurado a imprensa, na perspectiva de que, por meio da denúncia social, sejam tomadas providências.

A expedição
A iniciativa do grupo voluntário partiu de um pedido de socorro da representante guató Jane Regina de Oliveira, que divulgou as grandes dificuldades que a Baía dos Guatós estava vivenciando.

Com a seca do corixo – episódio inédito, mesmo em tempo de seca -, os peixes estão morrendo por falta de oxigênio e as poucas poças d’água estão barrentas, dificultando o consumo. Além disso, um incêndio consumiu os pomares das aldeias. Para pescar, é necessário caminhar dois quilômetros, arrastando o barco e carregando o motor em uma carriola. Por tais situações, falta alimento aos indígenas e fonte de renda.

O patriarca das famílias da região Coqueiro, Guilherme Pedroso da Silva, denunciou que o incêndio que consumiu as terras indígenas partiu da fazenda Campo Novo. “Eles tacaram fogo na fazenda deles e usaram o contra-fogo para parar. Mas aí descontrolou e invadiu nossos mandiocais, bananais…”, contou.

O grupo de voluntários levou cestas básicas, água mineral, algumas frutas e sementes para plantio, doadas por voluntários e por instituições públicas e privadas sensibilizadas com a causa. Os donativos foram divididos igualmente entre as três comunidades indígenas da Baía dos Guatós: Coqueiro, São Benedito e Aterradinho, conforme decisão do cacique José Maria de Paula.

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