Inspirado no Trabalho de Conclusão de Curso de Benildes Oliveira Guimarães

Recebi uma chamada – 2017 em 2021

Literária. De Cuiabá a comunidade Campestre. O nome do passageiro não pode ser citado, mas vou chamá-lo de Agnaldo. A figura faz ciência em Gestão Ambiental. Fiquei sabendo de sua atividade na conversa que foi boa, e como você sabe, se @ passageir@ puxa assunto, eu engato a próxima sentença.

– Bom dia.

– Bom dia. Deixo as janelas abertas, mesmo?

– Sim, por favor, hoje está fresco.

Depois de 10 minutos de silêncio, Agnaldo perguntou: já foi ao lago do Manso?

– Rapaz, fui sim, há muito tempo, num show do Jorge Ben, se não me engano foi na inauguração das praias de lá. Você vai a passeio? Desculpe perguntar…

– A trabalho. Vou entregar um estudo sobre os impactos da hidrelétrica pra comunidade e pro pessoal da usina. E também a quem possa interessar, né!?

– Acho que interessa a todo mundo, não é? Coisas de tamanho impacto na natureza é assunto interminável! O lago é grande, sabe quantos metros tem de fundura?

– A parte mais funda tem 70 metros.

– Caramba. Vem cá, antes do lago era o quê? De onde vem essa água toda? Sei que vem de rio! Sei até que vem do rio da Casca, o mesmo das quedas da Martinha, em Chapada.

– Isso, Casca, rios Palmeiras, Quilombo e Roncador. Esses rios são afluentes do rio Cuiabá. Haviam pessoas que moravam lá, fauna e flora. Quanto maior a usina, maiores os danos causados. É bem séria essa questão de geração de energia.

Uóóuumm

– Nossa, tava correndo esse aí, ein.

Falei cruzando com veículos contrários. De Cuiabá a Manso 90 quilómetros. Como toda estrada, atenção na direção é bom! Dá pra dirigir e conversar com o motorista. Na pandemia é mais complicado. Com máscara é menos medonho o pavor de contágio.

– É Antonio, né?

– Sim!

– Então, Antonio, a usina do Manso é o que podemos chamar de grande projeto de investimento. Movimenta montantes extraordinários de dinheiro e outros recursos. Implantar uma coisa dessa só com o aval do Estado. Ou seja, a política é o palco. Problemas gerados por esse tipo de coisa são vários, alteração de regime hidrológico, emissão de gás metano, proliferação de vetores de transmissores de doenças endêmicas, dificuldade do uso múltiplo da água. A participação da sociedade é limitada, só chega informação para ser acatada. Mas não é só Estado, construções como essa é em parceria com a iniciativa privada.

– Tristeza. Deixa eu perguntar, por que construir a usina do Manso?

– Enchente do rio Cuiabá de 1974. Vários pontos da cidade ficaram tomados pela água. A barragem da usina segura a força das águas. Essa foi a posição científica em estudos iniciados em 1975. Outro objetivo foi a geração de energia.

– Poxa, se estourar a barragem Cuiabá vai inundar de vez, não?

PLROU. Plrou, plrou-plrou ….

Meus pneus são novos, difícil furar. Mas furou. Ainda bem que estava dirigindo-conversando e por isso, dirigia devagar. Fácil foi controlar o carro nessa hora. Qualquer acostamento vale, logo visualizei uma entrada de chácara. Agnaldo ofereceu ajuda. Agradeci e perguntei sobre um possível atraso. Deixa que eu troco esse pneu, disse eu, sou poeta profissional, ahahah., dei uma risada contida e pedi pra ele confirmar se o freio-de-mão estava puxado. A viajem tem que continuar. Lavei as mãos com a água que eu tinha pra beber. O vento das janelas abertas secou meu suor. Cuiabá-Campestre. Deixa eu ver aqui no painel do carro quantos kM faltam.

– Antonio, os empreendimentos foram reformulados, a prioridade deixou de pensar em conter as águas para gerar energia, como mais uma prioridade.

–  Parece golpe, ou oportunismo financeiro.

– O quê?

– Propor alteração na hierarquia sabendo que peixes não fazem questão de falar a nossa língua ou que peixes-artistas são “paz e amor” e as plantas falam a língua plantês.

– Antonio, você é muito engraçado. O palco não é da política simplesmente, é da sociedade interplanetária cosmos, kkkkkkkkkkkkk, você tinha falado do portal Cidadão Cultura? Vou anotar o endereço, como é mesmo?

– cidadaocultura.com.br 😉

– Legal, Antonio.  Antes do alagamento famílias foram desapropriadas e remanejadas e com isso a comunidade teve perdas econômicas, pois no novo espaço a terra é pouco fértil, só se consegue plantar mandioca. Essa é a real situação da Comunidade Campestre. A conclusão é a necessidade de se fazer um estudo minucioso de impacto socioambiental de longo prazo para implementação de usinas e ainda estabelecer estratégias que proporcionem melhorias na qualidade de vida dos afetados.

– Como é que se chega nessa conclusão, Agnaldo?

– Se você der uma lida neste documento irá entender mais: http://tga.blv.ifmt.edu.br/media/filer_public/95/df/95dfcbc8-21af-473b-9edb-c5d3965423a1/benildes_oliveira_magalhaes.pdf Chegamos, né?!

– Opa, sim. Boa sorte pra nós todxs!

– Boa sorte. Bom trabalho, cidadonsk!

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