Enquanto negacionistas fingem que nada está acontecendo, as calotas polares derretem ano a ano. O mar absorve o excesso de calor e carbono da atmosfera aquecida e recebe em seu leito o lixo plástico de todo o mundo. As florestas, matas, bosques e campos  incendeiam e tudo vira cinza apocalíptica sob o tormento da fornalha infernal que virou o planeta.

Dois anos atrás contemplava a beleza de um flamboyant florido. E pensei: “devo fotografar”. Não fotografei e na outra estação ele não estava mais lá na esquina da rua de baixo. No seu lugar uma cratera aberta pelas raízes arrancadas a fim de evitar que brotasse outra vez.

Descobri depois que, naquele ano, dezenas e dezenas de árvores haviam sido abatidas no entorno da minha quadra. Porque digo abatidas? Porque são seres vivos. De cuja existência dependemos completamente.

Tem gente que acha chato falar disso, que é uma bobagem, uma fantasia.

Que árvores não sentem nem lamentam a morte implacável que lhe impõe essa humanidade demente, até que não reste nenhuma semente da árvore da vida sobre a terra.

A loucura está em acreditar que a natureza domada e subjugada pela domesticação das espécies, pelas tecnologias industriais, contaminada de todas as formas pelos resíduos produzidos no descarte urbano, explorada e ofendida profundamente, num instinto de morte, continuará a manter viva a humanidade.

Finalmente a espécie humana descobriu o jeito de se auto exterminar.

Sei que esta conversa está bastante pessimista, mas os últimos eventos mostraram claramente que vivemos uma emergência climática.

Na madrugada choveu. Uma chuva escura e ácida, manchando o chão da fuligem suspensa no ar. No entanto os pássaros estão cantando alegremente como se ainda houvesse amanhã.

 

 

2 Comentários

  1. Que texto! Não tem nada de exagero.Não tem nada de pessimismo. Tem muito da realidade que nos cerca. Gratidão por essas palavras Ana Amélia.

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