Gosto de ler notícias sobre coisas bizarras. Sinto uma atração pelos excessos, desde criança. Ontem li uma notícia que me remeteu a um tempo remoto, quando ainda morava no Rio de Janeiro e ficava ouvindo e aguentando gozação dos amigos: “Oi, tem onça na rua, lá em Mato Grosso?” Esse tipo de coisa sem noção, típico de alguns cariocas e paulistanos que não conhecem o Brasil para dentro. Só querem saber do Brasil para fora, ou seja, só têm olhos para Nova Iorque, Paris, Londres e, os mais bregas, para Miami, principalmente os novos ricos. Mas vamos lá, a chamada da pequena nota já causou furor: Boi bravo ataca motoqueiros e mata um deles.

Busquei imediatamente saber do fato. Um motoqueiro e um carona, numa dessas motocas cinquenta cilindradas, muito comuns no interior do país, pelo baixo custo, pouca manutenção e bastante econômica, serve muito para os novos peões que viajam de fazenda a fazenda, pelas vilas e corrutelas. Então, é muito comum, nos depararmos com esses rapazes nessas pequenas motos nas estradas de chão batido com cascalho que ainda tem em abundância em Mato Grosso. E estava lá a foto do rapaz morto sobre uma touça de capim. Certamente todo quebrado com as investidas do boi. Conta a pequena nota que os rapazes estavam indo pela pequena estrada de terra quando o boi saltou à sua frente, levando-os ao desequilíbrio, ao chão, e investiu sobre eles matando um e deixando o outro bem machucado. Segundo uma senhora que acompanhou o episódio o rapaz que foi a óbito levou mais de sessenta chifradas.

Fiquei imaginando a cena e matutando como é engraçada a vida: do nada surge um boi bravo à sua frente e te mata, sem mais nem menos. Touro sem toureiro, sem arena, sem público, sem ovação. Morte sem graça. Se é que existe graça na morte, seja comum, seja heroica ou não. No fundo, no fundo, ninguém quer receber a visita da indesejada. Lembrei-me de uma conversa que tive recentemente com meu pai. Ele insistindo que as pessoas morrem sim, antes da hora! Que acha bobagem dizerem, como é bastante comum, que todo mundo tem sua hora. Meu pai acha que tem morte que pode ser evitada e alongada, se cuidando, prevenindo e etc. Argui que não, se o cara morreu, a hora era aquela, uai. Não existe morte antes, muito menos depois. Só se morre uma vez, e não tem jeito. Uma hora ou outra o boi vai aparecer na sua frente e pronto. Já era! Do nada.

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