Por Gilda Balbino*

Após a Segunda Guerra, os audiovisuais, dentre os meios de comunicação de massa, consolidam-se como a principal via de acesso à vida urbana..

Hoje, nas cidades, a vida do cidadão é produzida e integrada ao imaginário coletivo através da negociação das leituras que os meios de comunicação oferecem por meio da reconstrução de espaços urbanos imaginários. Precisamos conhecer as peculiaridades dessas transformações urbanas recentes e as representações das mesmas nos meios de comunicação.

O final do Século XX e esse início do Século XXI nos traz a seguinte indagação: quais as transformações na vida urbana que contribuíram para um novo modo de perceber e vivenciar a cidade?

Os meios eletrônicos oferecem novas formas de acesso aos locais, às pessoas e às instituições que prescindem de espaço físico. Esse espaço urbano virtual criou uma nova utopia: um local de abrigo e proteção dos perigos da cidade.

A produção industrial capitalista cedeu espaço para a nova cidade: com rede e fluxo de informações, conhecimento, tecnologia e imagens. Sem o acesso ao conhecimento seria impossível o exercício da cidadania. A divulgação e a aplicação de novas tecnologias e descobertas científicas, são fundamentais para que os habitantes das cidades atuem de modo consciente na vida urbana.

Com a decadência das atividades de setores como indústria e serviços, as cidades, atualmente, investem cada vez mais em atividades culturais, recreativas, artísticas ou tecnológicas: turismo, festivais de música, teatro, cinema, literatura, artesanato, gastronomia, design e informática.

O homem, na sua organização coletiva tem uma relação mais complexa pois há nele a imaginação e a dimensão do desejo. Constrói imagens da cidade nas quais projetou seus desejos mais inconscientes e a mídia seleciona o que deve ser mostrado, descolado do sentido das cidades que é vivenciado, redimensionando a existência do ser humano.

Os seres humanos querem definir como serão representados na mídia. Contudo, nos noticiários que vemos nos meios de comunicação o que temos é a associação da periferia das cidades, dos morros do Rio de Janeiro, com o crime e a violência. Não são contextualizados dentro de uma situação específica e transmitem uma realidade ameaçadora e de insegurança a todos os moradores da cidade. Legitimam a violência da repressão armada que culmina com muitas mortes e medo.

Os moradores da periferia em nossa militância política nas décadas de 80, 90 eram considerados vítimas do sistema econômico e social injusto e deveriam ser resgatados pela sociedade através da transformação desse sistema pelo poder político.

Hoje não se fala em transformação. Fala-se em inclusão social que no imaginário veiculado pela mídia é o usufruto de benesses e participação do consumo de bens, o que termina por gerar conflitos e comportamentos de violência pela impossibilidade de acesso a essa vida que é proporcionada a membros da classe média e alta.

Diante desse cenário contraditório os moradores da resistência associados à música como o Punk e o Club, ocuparam espaço nas praças e parques e passaram a reconquistar e revitalizar o espaço público como lugar de interação não mediado pelo consumo de mercadorias. Nesse movimento, as novas mídias e tecnologias exercem importante papel como instrumentos na troca de informações e estratégias de  ocupação do espaço público.

Isso acontece em todas as metrópoles e, inclusive, em Cuiabá. Artistas de todas as categorias, músicos, dançarinos, artistas plásticos, artesãos, fotógrafos, escritores, orquestra, ocupam cada vez mais os espaços públicos numa percepção da cidade como espaço cultural híbrido, mesclando o centro, as cidades do interior, as periferias, o local e o global, o novo e o velho, a modernidade e a tradição, o popular e o erudito, numa relação dialética permeada de criatividade.

Nessa  efervescência vem a participação ativa e fundamental dos meios de comunicação como criadores de realidades sempre como lugares privilegiados da expressão das tensões surgidas nas metrópoles contemporâneas, com seus espaços urbanos imaginários e suas representações.

*Gilda Balbino é advogada e assessora parlamentar, especialista em gerência 
de cidades pela FAAP.

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