Glauber Lauria*

Pensei em lhe escrever uma carta. Em lhe dizer tudo sabe? Eu sei que você tem namorado. Mas você me entende, né? No começo era apenas a escola, o trabalho, você empenhada. Depois era tão bom estar juntos e falar sobre todas as coisas. Me lembro aquele dia no posto. Eu lhe toquei e você teve um frêmito. Fiquei sem graça. O seu jeito sabe? Você foi se tornando uma necessidade. Eu tinha vontade de tocar em você. Então eu sempre escrevia Luna na sua pele. Aí teve aquele dia que você deitou e eu fiz uma foto, e eu nunca faço foto. Eu tentava não me dizer. Mas eu sabia que já estava apaixonado. E eu tinha medo que você percebesse. Você me dá um pouco de medo sabia? Você é tão delicada. Porcelana rara mesmo. Sèvres. Aí eu imagino você dizendo: Sim, eu sei, claro! E me deixando todo confuso. Porque eu nunca sei. Você tem isso. Me confunde. É tão insólito isso. A gente na praça. E eu conversando igual um danado. E o mais massa era que você gostava. Ler Shakespeare. Foi tão mágico aquele primeiro dia. Sabe, você foi um encontro. Quando algo é melhor do que se esperava. Quando a realidade é boa. E o mais massa é que você é de verdade! Mas se alguém me dissesse eu acharia que tinha te inventado. Você faz a poesia brotar das esquinas mais sórdidas. E quando você ri, parece que o mundo inteiro fica sem graça. O seu jeito de olhar é tão mágico, parece que você vai decifrar tudo e tudo vai ser bonito como deveria. Você faz a vida ser mais. Queria poder lavar teu cabelo. Cuidar de você toda. Foi tão legal aquele dia do bolo. E eu não gosto de bolo. Mas é isso que é legal em você! Você faz até um bolo parecer uma coisa massa! Acho só o fato de você respirar o maior barato. É como se o ar ao teu redor fosse imantado; entende? Não ria. Queria ler para você. Um livro enorme! Pra poder ficar olhando sua cara, e ver como o seu rosto muda a cada palavra. Eu sei que uma hora você vai traduzir o universo. E vai cobrar um preço super barato. Seu namorado não sabe que você é filha de Mnemósine. Você é uma das nove. E é por isso que você fala comigo. As Musas gostam dos poetas. As Musas entendem os poetas. Você faz as outras pessoas ficarem chatas. Você gosta de Arte, precisa dela para viver. E, não sei, mas acho que só um artista pode entender você. O texto tá chato né? Nada haver com o que você conhece que eu faço. É que na verdade eu queria conversar com você. E essa foi uma forma que achei pra trazer um pouquinho de você pra cá. Você me dá vontade de andar de mãos dadas. Deitar no colo. Dormir até tarde. Você me dá vontade de ser bobo. Acredita que hoje eu olhei uma echarpe? Fiquei te imaginando. Te acho tão bonita! Você é a menina mais bonita da cidade! Tem um texto que eu gostaria de ler para você. Acho que você acharia engraçado. Tem tanta coisa que eu quero compartilhar com você! Você bem que podia ser minha namorada. Eu queria te escrever uma carta. Mas saiu em forma de diálogo. Defeito da dramaturgia? Hum, lembra aquela estrela que você fez? Eu guardei. Ela fica aqui do lado…. Hoje estou de Bárbara Eugênia. E tem essa música, “Por aí”, que me lembra sempre você. Eu tenho isso com você, sabe? Me sinto de novo no colégio. A sua delicadeza, sua fragilidade, me faz lembrar de como eu era. E de como é importante ser frágil. Sabe, eu imagino a gente domingo de manhã. Eu indo a feira, você lendo jornal, eu fazendo almoço, você colocando música, eu tomando cerveja, você, suco; depois, dizendo que o chocolate acabou; eu vou ao mercado, na volta, suado, você de lingerie. Amor, um vinho, chocolate, filme; de noite a gente sorrindo, você de echarpe, pede uma pizza, me promete outra farra na cama, e a segunda acaba ficando bonita. Uso suas roupas, você pela casa, de calcinha. Nos despedimos e nem a gente acredita, como pode ser tão bom ficar sempre juntos. Eu chego, você comenta um livro. Falamos sobre teatro, e mal da política. Gosto da sua saia justa. Admiro suas pernas e você tem uma ideia súbita, uma viagem, uma escultura. Pega no sono. Lhe acordo com chá, torradas, um poema. Você não sabe como não me canso. Uma rosa abriu, é maio, os dias estão mais bonitos. A gente ouve Kid Abelha, fica imaginando como seria ter filhos. Você desenhou um vestido; eu digo que me casaria de novo contigo. Talvez morar na Itália, passar férias na Índia.

Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no mundo. 
Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, 
já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros 
e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, 
Expresso Araguaia e A Semana.

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