Marcos Vinícius Garbin, nome artístico: Sheipz. Como outros habitantes da região Sul do Brasil, com um ano de idade veio do Paraná para Nova Mutum, em Mato Grosso. Começou na música como tantos garotos com 12, 13 anos, com aulas de violão, para frequentar as rodas e vencer a timidez. Teve banda de rock, acompanhou outras bandas, como Strauss e Engenho de Dentro, fez parceria com Rogê Além no disco Analosintético, é produtor e criador de música eletrônica na sequência de uma carreira musical em que divide o tempo como professor universitário e profissional de agência de publicidade.

Algumas conquistas do Sheipz chamam a atenção pela dimensão dos feitos: em apenas três anos no universo da música eletrônica ele já coleciona feitos inéditos para a cena mato-grossense. Emplacou duas músicas em coletâneas de selos europeus, fez ponta em séries nacionais de televisão, em um jogo eletrônico alemão, em filmes publicitários e no cinema cuiabano.

As primeiras produções, ainda na fase experimental, renderam um EP com seis músicas. Uma delas, intitulada Bang!, foi lançada pelo selo 4Beat Records, da Eslováquia, e entrou em uma coletânea chamada Various Artists – Ibiza Beach House Anthems, VOL.1, disponível no streming do Spotify.

Após essa fase experimental, produziu o single The Night, que no início de 2017 agradou ninguém menos que o famoso produtor musical alemão Jens Lissat, na época dono do selo Deepartament Records, especializado no estilo Deep House. O caminho até Berlim foi aparentemente simples: Marcos enviou a música a JL que gostou do trabalho e resolveu lançar. Simultaneamente, outros dois produtores alemães remixaram e lançaram suas versões de The Night, que podem ser encontradas no Spotify, bem como a versão original (todas as principais produções de Sheipz estão disponíveis em seu perfil oficial de artista no Spotify, Deezer, Rdio e SoundCloud).

Foi a partir do lançamento da Deepartament Records que Sheipz começou a definir seu estilo. “Como eu vim do rock, comecei a abrir um pouco a cabeça começando a ouvir The Chemichal Brothers, Fatboy Slim, The Crystal Method, que é a galera mais das antigas e que faz um eletrônico mais experimental, diferente do eletrônico de pista e de festival. Parti do experimental, testando um pouco de tudo, juntando referências, até maturar e chegar no meu estilo atual que puxa mais para o Deep House. Navego por todas as vertentes do House [House, Deep House e Tech House], sem me preocupar com rótulos, e sim, se a música vai soar bem aos ouvidos”, explica.

Os feitos continuaram. Presente no mesmo EP da música Bang!, a música Come On And Feel It caiu na graça dos produtores do seriado Me Chama de Bruna, do canal Fox Play, de São Paulo. A série baseada na história da garota de programa Bruna Surfistinha foi ao ar com dois minutos de Come On And Feel It trilhando cenas um tanto “quentes”. O licenciamento desses dois minutos de trilha sonora foi agenciado por uma empresa do Rio de Janeiro que trabalha com banco de áudios. Marcos cadastrou a música no site da empresa, através do qual os produtores da série a conheceram e escolheram. Outra importante ponta de Come On And Feel It em televisão foi em um trecho curto de um seriado do Casseta & Planeta no canal Multishow.

-Estou começando a viver a cena eletrônica e me ambientar no meio. Com a internet o artista independente tem muito mais facilidade, tanto como oportunidade para expandir seu trabalho quanto para procurar coisas, pesquisar, achar novos contatos, só não vai quem não quer. E foi através da internet que abri essas conexões em que meu trabalho pode expandir, buscando novos selos, formas de licenciamento.

Como está sendo sua trajetória na música?

-Faço teclados na banda Strauss, toquei com a banda Engenho de Dentro, fiz trabalhos com Rogê Além nos seu novo trabalho Analosintético, já nos conhecemos desde Nova Mutum. Na minha migração para a música eletrônica a gente acaba levando as influências/referências do rock, aliás, a partir daí comecei até mesmo a descobrir novas bandas, e passei a perceber também como as influências acontecem de um lado a outro, do rock para o eletrônico e vive versa – comecei a ouvir mais músicas alternativas, não comercial, que tem um universo mais rico em termos de sonoridades, comecei a me envolver mais e ouvir mais artistas, mais produtores. Minhas influências do rock são básicas, The Who, Beatles, Led Zepellin, isso acaba influenciando em nossa maneira de ver e fazer música.

Sheipz emenda sobre seu modo de fazer música ou, método de trabalho, que já incluiu alguns remixes utilizando bases já construídas ou a partir só de uma voz, um vocal, a exemplo de um músico/produtor canadense que liberou e Sheipz inseriu na voz do cara uma base musical – o canadense acabou compartilhando a obra remixada, pois ficou bastante satisfeito com o resultado. A partir dessa experiência eu quis saber sobre a questão do direito autoral, do licenciamento, de como isso funciona na cultura do remix, quando pegamos estruturas abertas de outros músicos e a partir daí criamos outra obra, como  fica isso, o direito é de quem?

Ele diz que quando trabalha seus sons originais cria a partir de samplers free que busca na internet. São estruturas livres, liberadas e disponibilizadas – ele trabalha a partir dessas células

Às vezes monta e produz suas próprias batidas – os beats, a linha do baixo – pode ser a partir de uma referência, um sample, uma guitarra, uma nota de baixo, uma voz…

Uma coisa que gostaria de saber, e sei que muitos também gostariam de saber, até pela falta de intimidade com as nuances e sutilezas da música eletrônica, uma questão que indago ao Sheipz: o que diferencia uma música da outra se as batidas para o leigo parecem tão iguais?

– A diferença está na maneira de trabalhar, na modulação dos sintetizadores, na escolha dos timbres, especificamente da bateria, vamos dizer da Machine Drum (bateria eletrônica) e do trabalho realizado em cima dos sintetizadores, isso que é fundamental! O som do baixo, um sequenciador, uma modulação bem feita, você tem filtros, tem efeitos como o delay, digo sempre que é a cabeça de músico, né? Você tem os produtores, por exemplo, ali, de pistas, de boate, o cara tá mais preocupado em fazer as pessoas se mexerem. Eu, por exemplo, não entrei com esse pensamento, entrei com a cabeça de músico, com aquela construção, da intro/estrofe/refrão…se funcionar na pista, ótimo! Se não funcionar vai servir para outros propósitos.

Nessa toada Sheipz vai colecionando histórias e indo cada vez mais longe em busca de novos contatos e novas possibilidades para, quem sabe um dia, poder se dedicar integralmente a criar e produzir músicas com a qualidade e intensidade com que vem desbravando novos espaços para suas viagens musicais.

 

 

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