Sento-me diante do computador e me pergunto: o que vou escrever sobre Luisa? A Luisa Lamar! Já a entrevistei pelo menos duas vezes, para o programa que produzo e apresento na Rádio Assembleia, Sons de Mato Grosso e aqui na Tv de Quintal do Cidadã(o) Cultura.

O que retive disso tudo? Fora os outros encontros de encantos com Luisa performando, cantando, falando, descansando na sala de nossa casa na 43, criando, refletindo, falando, falando. E como fala bem, com fluidez coerência lucidez atitude e forte, forte como raiz do cerrado entranhada na terra. Firme, aguerrida, de luta sempre, mas amorosa terna suave e doce quando deve ser.

Mas não se atreva a mexer com Luisa. A língua afiada e o corpo rebelde se rebelarão. Isso não vai ficar barato. Ela é pura expressão. Gestual sonora poética e contemporânea. Vai nas raízes e volta com misturas valiosas criando novas poções para nos deliciarmos com a arte da música. Sons e corpos em movimento transfiguram espaços na urbe. Luisa é mulher trans. Ela encanta com seus manifestos de afirmação de liberdade.

Foto de divulgação. Soundcloud.

Liberdade para ser, escolher ser, estar na vida sem medo de ser feliz. As barreiras da intransigência social são formas criadas para controlar e determinar os comportamentos. Não convidem Luisa para essa mesa. Ela escolheu ser totalmente livre para encarar de frente de costas de lado deitada sentada de qualquer jeito suas escolhas, nos limites do seu corpo.

Foto: Secom (ALMT)

Sua arte é escracho e é poesia. É rebeldia, é afirmação de seu lugar no mundo, um corpo manifesto, esteticamente, sexualmente, em gênero, em música e provocação criativa. Ela inventou o lambatrans, uma variação do lambadão cuiabano, e é uma maravilha, bem humorado, inventivo e ousado.

Nesta sexta-feira (13), A Luisa Lamar lança seu primeiro single, intitulado “Reparação”. Com elementos do trap, “Reparação” marca a estreia em estúdio da multiartista e produtora cultural cuiabana e sai nesta sexta feira (13) nas plataformas digitais

A letra e melodia  foram compostas por Luisa já em período de quarentena e carrega um forte discurso explícito e político, relatando a revolta da população trans à sua condição de vida. De acordo com o último Dossiê dos Assassinatos e da Violência contra pessoas trans, feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) em 2019, Mato Grosso foi o segundo estado que mais matou pessoas transexuais a cada 100 mil habitantes.

“Esse trabalho veio como um lapso, compus a música depois que presenciei a chegada de uma amiga em minha casa após ela ter sofrido uma agressão física de um homem. A gente está preparada para isso, já esperamos que isso aconteça, mas quando acontece ainda destrói a gente, e essa canção é uma forma de criar forças entre nós, nutrir o nosso amor e carregar o nosso revólver de palavras para conseguirmos sobreviver”, afirmou A Luisa.

Deixando explícita na faixa suas referências à artistas como Lil’ Kim, Erykah Badu, Danny Bond, Monna Brutal, Deize Tigrona e Leona Vingativa, a artista optou por um “Trap” sem artifícios do autotune para dar o tom de toda a canção. “Herdei Kim, Erykah, Bond, Monna, Tigrona. Todas juntas num só ser com uma pitada de MT”, cita a artista na canção.

Ficha Técnica Single:

Letra, Voz e Melodia: Luisa Lamar – @aluisalamar

Produção Musical: MC RB8 (Anônima Beats) – @rbtrz e @anonimabeats

Captação de Voz: Paulo Monarco (Cerradolab) – @paulomonarco e @cerradolab

Ficha Técnica Videoclipe: 

Dramaturgia e Produção Geral: Luisa Lamar – @aluisalamar

Direção, Captação e Edição: MC RB8 (Anônima Beats) – @rbtrz e @anonimabeats

Elenco: Hend Santana (@hend_real), Angie Hope (@angiehopemagazine) e Alexsander Ijima (@oshirinnotabate)

Agradecimentos especiais a Marcos Salesse.

 

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