Os conflitos internos e externos da mulher moderna podem ser reavaliados através de um diálogo interno com a ajuda das mandalas. Conheça a história e a arte de Enizete Gomes.

As formas geométricas que desenham a nossa rotina, existem desde os tempos mais antigos que regem a nossa ancestralidade. Os quadrados, retângulos, triângulos, losangos, entre outros ‘ângulos’, vieram como uma forma de nos atender e criar significados aos nossos dias, além de melhorar a nossa comunicação com o mundo.

Mas entre os formatos que mais chamam a atenção, está o círculo.

Não só pelo formato infinito e sem pontas ou pela perfeição dos lados, mas pelo significado que esta forma carrega, que pode ir ao encontro com o nosso eu mais profundo. Uma vez que, desde a barriga da nossa mãe, nos movimentamos em círculo em uma ‘casinha’ arredondada.

E, logo nos nossos primeiros anos de vida, quando começamos a nos desenvolver cognitivamente, pegamos um lápis qualquer e rabiscamos este mesmo formato repetidas vezes, tanto no papel, nos móveis ou até nas paredes de casa.

Até que os anos se passam e todos aqueles rabiscos evoluem para outros campos. Nos trazendo diferentes tipos de interação e favorecendo o nosso meio de diversas formas. Tanto na praticidade do dia a dia, mas também na meditação mais profunda que é possível alcançar.

E todo esse encontro é possível em atividades simples. Com um lápis, um papel e alguém para te orientar nos caminhos do diálogo interior, até que os traços se juntem e se formem em lindas mandalas do nosso inconsciente mais que consciente.

Com mais de 20 anos de atuação na arte e 14 nas mandalas, a artista Enizete Gomes compartilha dos desafios da mulher moderna, sem deixar de estar conectada com o ‘divino’. Isso porque ela descobriu nas mandalas um meio de expandir a criatividade aliado com o autoconhecimento, capaz de explorar o seu ‘eu’ mais profundo de forma completa.

Para que isso fosse possível, ela teve que trilhar caminhos difíceis e pesados, com atividades pautadas como a maioria das mulheres: dedicadas ao lar, ao marido e ao trabalho exclusivamente.

“Para quem olhava de fora, podia falar que eu era uma mulher realizada e feliz. Mas para mim, interiormente, existia uma insatisfação, incompletude, como se eu não estivesse vivendo a minha própria vida”, revelou.

Até que aos 33 anos, descobriu uma doença chamada ‘neurinoma no acústico’. Um tumor na região do cérebro, que não era maligno, mas que consistia em uma área delicada para manusear. “E naquele momento eu decidi que algo tinha que mudar. E depois da cirurgia, resolvi parar de trabalhar com o que fazia e se reinventar”, conta.

Neste momento, descobriu o caminho das mandalas. Meio que repentinamente, através de um pedido específico de um cliente, foi capaz de despertar uma cura interna pós-cirurgia, que lhe acarretou fortes dores de cabeça que a ciência convencional não foi capaz de resolver.

“E eu me encantei com aquilo, porque conforme eu fui conhecendo as mandalas, mesmo não sabendo o que elas significavam, eu me envolvia cada vez mais. […] E comecei a perceber que algo estava acontecendo comigo, existia uma conversa interior que acontecia dentro de mim e com as minhas partes. E assim, fui me redescobrindo”, disse.

Cálculo de diversas ciências

Após aproximadamente quatro mil mandalas feitas nestes 14 anos de carreira, Enizete decidiu ir além e criar a “A Arte do Despertar”. Um meio que encontrou para passar para frente estes aprendizados que teve na prática das mandalas. E incentivar as pessoas que é possível se amar do jeito que é, através de uma arte milenar.

E para que isso fosse possível, houve primeiramente um entendimento sobre as causas das frustrações da atualidade. Uma vez que, segundo a artista, o mal da sociedade atual se baseia entre a ansiedade e a depressão que cada um sente.

“A ansiedade, a pessoa está pensando no que ainda não aconteceu e está sofrendo. E a depressão é a pessoa que está pensando no que já aconteceu e não tem mais o que fazer, e está sofrendo com isso. E ela está perdendo o tempo presente”, descreve.

Como parte dessa resolução, ela destaca os benefícios da arte de ‘mandalar’. Prática que serve como uma meditação capaz de organizar o campo interno. Com o silenciar da mente e, ao mesmo tempo, a busca do diálogo interior.

“Nossa mente foi criada para pensar, para racionalizar, estar presente o tempo todo enquanto estamos aqui. E meditar é você focar a sua atenção em algo, em um pensamento, por exemplo. E você estar aqui e agora, focada na atenção em você”, disse

Com isso, ela afirma: “Sim, o ato de ‘mandalar’ faz com que cada dia mais você esteja no aqui e no agora. Vencendo o seu presente e sentindo o seu bem estar. E a alegria de estar vivendo aqui este presente”, ressaltou.

Mandala para mulheres (e para quem se identifica como tal)

Nesta etapa de expansão da mente através de cursos e oficinas, Enizete conta que as aulas são dedicadas exclusivamente para mulheres. “Eu compartilho a minha jornada e sinto que a minha linguagem é voltada para mulheres e muito mais para mulheres urbanas. Pois eu fiz e ainda faço parte desse lado, sem deixar de me conectar comigo mesma nessas atividades”, explica.

E para quem acha que outros gêneros não se incluem nessa jornada, estão completamente enganados. A artista enfatiza que as aulas são direcionadas a todas que, por algum motivo, não se reconhecem nesse mundo e querem buscar o caminho para que isso ocorra.

“O lance das mandalas era que eu não estava feliz com quem eu era. Eu sentia que eu cumpria um papel que não era meu. E as mandalas me trouxeram o meu mundo, o meu papel, a minha vida”.

“Hoje eu posso não ter os mesmos bens materiais que eu já tive, mas eu sou feliz com o que eu sou. Estou vivendo a minha história, a minha identidade. Então, digo para qualquer pessoa que tem essa dificuldade de ser o que é, de não se sentir plena, confortável ou completa, vem encontrar benefícios com a forma com que eu aplico essas oficinas e essas mandalas”.

“Porque o objetivo desse curso é olhar pra gente como a gente é. Se abraçar, se amar, se olhar, se perceber. Primeiramente a gente e depois o que o mundo está cobrando com a gente. […] Então, oferecemos essas diversas possibilidades. O meu objetivo é compartilhar com as mulheres, principalmente nesse momento, uma oportunidade delas se reconhecerem e conectarem com elas mesmas e com a própria essência”, disse.

“O mundo que a gente vive, esse excesso de cobrança de informação, essa cobrança de sermos como a ‘Mulher-Maravilha’ eu acho um pouco pesado e injusto. A gente pode tornar a nossa vida mais leve, e eu vejo que as mandalas são um caminho para que todas nós possamos nos aceitar e sermos felizes do jeito que a gente é”, finaliza.

Conheça “A Arte do Despertar”
Site e curso online completo: https://aartedodespertar.com.br/

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Simone também é Sika. Jornalista e artista visual (não necessariamente nessa ordem). Ex-cinéfila que gosta de estudar música e seus personagens, assim como outras vertentes da arte. Feminista, mistura de asiática com paraguaia e cearense, natural de Rondonópolis (MT). Mora em São Paulo, mas leva Cuiabá sempre no coração e no 'djeito'.

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