tom-zé*Por Paulo de Tarso

Pense em alguém que nasceu para contestar, criar caso e ser inigualável em matéria de controvérsia musical. Já sei, pensou em Tom Zé.

Filho de uma família rica por conta de um bilhete de loteria viveu a infância no sertão baiano como todas as crianças da região e aos 14 anos muda-se para Salvador para seguir seus estudos ginasiais, não sem antes cunhar uma frase que marcou sua trajetória. “Minha cidade  natal era pré- Gutemberguiana“ , e explicou que sua música era transmitida por comunicação oral.

Adolescente, passa a se interessar por música e estuda violão. Sempre descontraído vai parar em alguns programas de calouros de televisão, e acaba entrando para a Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, que tinha ilustres professores na época, como Walter Smetak e o dodecafonista Hans Joachim Koellreutter.

Sua vida dá uma guinada no início dos anos 60 quando conhece a turma do que seria o movimento tropicalista, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethania.

Tom-Zé3Em 1964, participa do espetáculo “Nós, por exemplo”, que marcou a inauguração de um dos principais palcos em Salvador,  o Teatro Vila Velha, onde se apresenta ao lado da turma que viria a ser referencia na música popular brasileira. Ainda no mesmo teatro, apresentaram  o show “Nova bossa velha, velha bossa nova“ , onde se firma como um nome de destaque da turma da Bahia.

Segue para São Paulo, e participa ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa,  de outro espetáculo de relativo sucesso, “Arena canta Bahia”, dirigido por Augusto Boal e apresentado no TBC, antigo Teatro Brasileiro de Comédia.

Em 1968, lançou, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, dos poetas letristas tropicalistas Torquato Neto e Capinam, e dos maestros e arranjadores Rogério Duprat, Júlio Medaglia e Damiano Cozzella, o LP manifesto “Tropicália ou panis et circensis”, no qual o grupo firmou as bases do Tropicalismo. Nesse mesmo ano, participou do IV Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record de São Paulo, obtendo a primeira colocação com sua composição “São São Paulo, meu amor”, e a quarta colocação com “2001”, em parceria com Rita Lee, defendida pelo grupo Os Mutantes, e que também levou o Prêmio de Melhor Letra. Seu primeiro LP individual, “Tom Zé”, foi lançado ainda em 1968.

tomze_mimo_tratadas-8-718x479Na década de 1970, fundou em São Paulo a Escola Popular Sofisti-Balacobaco – Muito Som e Pouco Papo. Tom Zé participou também, como ator e cantor, da peça musical “Rock horror show”, dirigida por Rubens Corrêa, no Teatro da Praia, Rio de Janeiro.

Em 1977, trabalhou na agência de publicidade DPZ, ao lado de Washington Olivetto, Roberto Dualibi, F. Petit e Zaragoza.

Na década de 1980, trabalhou com música experimental. Nessa época, realizou um concerto no Teatro Municipal de São Paulo, onde sacudiu a platéia com sua música tida como atrevida e pouco palatável

ze9Ao final da década de 1980, foi descoberto pelo músico americano David Byrne, que comprou em um sebo seu LP “Estudando o samba”, lançado em 1974 pela Continental. As inovações propostas nesse disco levaram Byrne a lançar o compositor no mercado internacional.

Sua carreira internacional é marcada por homenagens que o controverso músico nunca teve em seu país, pois, seu trabalho é reconhecido nos Estados Unidos, Europa e Ásia como um trabalho revolucionário, a ponto da Revista Rolling Stones, e do jornal New York Times, o considerarem um dos mais criativos músicos da era moderna.

tom7Em 1993, apresentou-se em concerto no Moma (Museu de Arte Moderna de Nova York), sendo o primeiro e único músico brasileiro a se apresentar nesse espaço, onde não se fazem apresentações musicais habitualmente. Foi também o primeiro e único compositor da América Latina a se apresentar no altamente seletivo Walker Art Center, Minneapolis, que convoca apenas nomes como Phillip Glass, John Cage e Bob Wilson.

ze 8Tom Zé passou os últimos anos, da década de 80/90 até a atualidade, avançando ainda mais em seu pop-experimental criando álbuns relativamente herméticos, que não atraíram a atenção do grande público. Sua carreira é plenamente recuperada em concertos pelos Estados Unidos e Europa, e quando lança o revolucionário “Com defeito de fabricação“, eleito um dos 10 melhores trabalhos  por toda a crítica especializada. Tom Zé, também começa a compor com grande sucesso para o Grupo Corpo, de balé, e atua em seu filme “Fabricando Tom Zé“, dirigido por Décio Mattos Junior.

Inquieto, sertanejo cosmopolita, posto de gasolina em Irará, David Byrne, palcos do mundo, Moma e a arte levada às últimas consequências. Tom Zé é claro!!

Paulo de Tarso é jornalista, radialista, pesquisador e produtor musical. Palmeirense verde!

 

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