Por Luiz Renato de Souza Pinto*

Este ano pude conhecer alguns poetas de vigor performático e três momentos distintos em nossa capital. Luna Vitrolina e David Henrique, de Pernambuco, Alan Roosevelt (Pelé) e Everton Oliveira, de Belém do Pará e Renan Inquérito, de São Paulo. A primeira dupla pude assistir na entrada do SESC Arsenal, antessala poética apresentada por Luciene Carvalho. Naquele momento fomos brindados por um acervo poético de primeira qualidade, que mesclava poemas de mestres do Pajeú, Lirinha e outros valores do sertão, do agreste e do litoral pernambucano. David Henrique é de Belo Jardim-Pe, no agreste e Luna da região metropolitana do Recife, a cidade de Paulista. Pow!

Litchenstein

Ela viaja o país com projetos que envolvem mesas de glosas e outras guloseimas poéticas. Ele, junto ao “Virgulados”, mescla poesia e música experimentando novos ritmos com palavras ácidas e revoltas num bric a braque de ritmada fluorescência. Pude encontrar David em Petrolina em atividade poética no SESC de lá, o que foi um grande prazer para a continuidade das trocas simbólicas em torno do verso de pé quebrado do qual saímos inteiros. Pow!

Depois foi a vez dos paraenses, criadores e reprodutores de batalhas, que pude assistir em dose dupla: em uma tarde ensolarada nas proximidades da cantina do campus Octaíde, do IFMT, aqui em Cuiabá, e a noite no jardim do Arsenal, com luz e som que iluminaram trazendo muito azul para os amantes da poesia. A linguagem do RAP – Rithym and Poetry contagiou a plateia, tanto a tarde, quanto de noite. Alunos e alunas do IFMT revelaram seu prazer em ouvir esses repentes diferentes do cordel, mas com o mesmo vigor, já que artífices de uma resistência cultural. Pow!

Esta semana foi a vez de Renan Inquérito, rapper de carreira internacional, uma vez que já tem em seu currículo apresentações em Cuba, Portugal e outros países europeus, os quais não me recordo agora. Com parcerias destacadas no universo que mescla o cordel com a MPB, o universo pop, cruzando os jardins com a quebrada, o poeta salta seus versos da laje: teto e chão para brindar ao irmão de qualquer cor, credo e classe social com um pedaço de poema repartido feito pão. A poesia não tem partido, não tem dono, nem patrão. O verso encarado de frente faz seu barulho pra gente como tiro de canhão: pow!!!!!

Pernambuco, Pará, São Paulo: presentes no Mato Grosso com a palavra encalacrada na garganta nos fazendo vibrar e soltar o verbo na contramão. Linha Dura na plateia, Luciene Carvalho, Divanize, Maria Ligia, Neneto, a turma do Slam com seu Capim Cheiroso. Todos ruminamos a poesia que brota do chão. Otília e Pignati, os rappers cuiabanos, anônimos cheios de brilho e luz a partilhar com a gente desses momentos que engrandecem a alma. Renan desculpe aí; aceite a licença poética, irmão e pow!

Ouvir ao Renan foi como estar ao lado do Ferrez; Luna e David nos trouxeram São José do Egito, Monteiro e a Arcoverde, do Lirinha. Pelé e Everton com os poemas fora do mercado, a ver o peso do poema, da linguagem que tira, da linguagem que teima. A gente aprende a fazer versos com a criança que dá o refrão, com o presidiário, quando chamamos de irmão. Mas vivemos cheios de sim; demoramos pra nos acostumar com o não: pow!

Bala na agulha, navalha na liga, como diria Alice Ruiz. Poesia é coisa de amador, Renan está certo, sim; viva Leminski, Mário Quintana, João do Vale também. Três vivas para Cazuza, Renato Russo, Nei Lisboa e Paulinho Pedra Azul. Lenine, Chico Cesar e Chico Science, Nação Zumbi. É novembro, é consciência negra, do rap, do blue, do samba, de norte a sul. O couro come a bala some e mais um estampido de poema se ouve no andar de cima, pra lá da laje que encanta e todos no mesmo grito nos gritam, dizem mais um POW!!!

*Luiz Renato é poeta, escritor, ator e professor.
Compartilhe!
Ao completar vinte anos da publicação de meu primeiro romance, fecho a trilogia prometida com este volume. Penso que esse tempo foi uma graduação na arte de escrever narrativas mais espaçadas, a que se atribui o nome de romance. Matrinchã do Teles Pires (1998), Flor do Ingá (2014) e Chibiu (2018) fecham esse compromisso. Está em meus planos a escritura de um livro de ensaios em que me debruço sobre a obra de Ana Miranda, de Letícia Wierchowski e Tabajara Ruas; o foco neste trabalho é a produção literária e suas relações com a historiografia oficial. Isso vai levar algum tempo, ou seja, no mínimo uns três ou quatro anos. Vamos fechar então com 2022, antes disso seria improvável. Acabo de lançar Gênero, Número, Graal (poemas), contemplado no II Prêmio Mato Grosso de Literatura.

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here