*Por Paulo de Tarso

Estava escrito nas mais antigas escrituras que aquele menino nascido em Tietê seria alguma coisa diferente de outros meninos. Inquieto, sempre foi  chegado as coisas estranhas do mundo do som, em especial da percussão.

Menino ainda, Francisco José  Itamar Assumpção, viveu uma vida tranquila e aproveitou sua infância em sua plenitude brincando e batucando pelas ruas da sua inesquecível Tietê.

Aos 12 anos mudou-se para Arapongas (PR), onde estudou contabilidade, curso que abandonou para atuar em teatro e shows em Londrina. Nesta cidade conheceu Arrigo Barnabé. Autodidata no violão, apaixonou-se pelo contrabaixo ouvindo sua referência sonora, nada mais, nada menos que Jimmy Hendrix.

maxresdefault (1)Depois de anos conhecendo futuros parceiros, e se integrando à jovem música de vanguarda de São Paulo, Itamar começa a despontar no cenário da MPB. Estava criado o mais inovador movimento  paulistano de música, e seu local, o Teatro Lira Paulistana.

Em 1975, venceu um festival de música de Campinas com sua canção “Luzia”, e participou do Festival Feira da Vila com sua composição “NegoDito“, onde foi integrado à nata da música paulistana, ao lado de Arrigo Barnabé e a banda  Sabor de Veneno. Em 1979, apresenta-se no Festival da Música Popular, da extinta TV Tupi, com a Sabor de Veneno, sempre ao lado de seu grande amigo Arrigo Barnabé.

itaCriar sua meta, inovar sua missão, Itamar misturou samba, reggae, funk e rock, e lançou no início dos anos 80 acompanhado da banda Iscas de Polícia, os álbuns “Beleléu, Leléu, e eu“ e “As próprias custas S.A”. Já em 1983 lança “Sampa Midnight, seguindo os trabalhos, “Isso não vai ficar assim”, de 1986. Em 1988 lança seu trabalho mais controverso “Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava“. Suas letras, sempre marcadas por críticas contundentes, e sua música de pouco apelo comercial, acabaram lhe valendo a aura de “artista maldito”, alcunha que odiava. Em 1988, também começa a produzir artistas ligados ao movimento da trupe Lira Paulistana.

No inicio da década de 90, mais uma reviravolta artística do inquieto Itamar, que passa a ser acompanhado pelo Grupo Orquídeas do Brasil, grupo com o qual lançou em 1993, o CD “Bicho de sete cabeças“, que em 1994 teve sequência com o “Bicho de sete cabeças, vol 2“. Itamar também  ganha o Prêmio de Melhor CD do ano, cedido pela APCA, pelo disco “Ataufo Alves  por Itamar Assumpção – para sempre agora”, lançado em 1996, contendo a obra daquele compositor. O álbum “PretoBrás”, lançado em 1998, foi o último trabalho do músico.

maxresdefaultCantado por artistas como Ná Ozetti, Zélia Duncan e Cássia Eller, Itamar é reverenciado por grandes músicos por sua obra criativa e inovadora.  Atuante junto a Vanguarda Paulistana (Movimento que foi criado para romper com regras de gravadoras tradicionais) teve como referência nomes como Paulo Leminski e Alice Ruiz.

Itamar doente, faleceu em 2003, de câncer de intestino, após lutar 4 anos contra a doença. Um ano depois foi lançado o álbum “Vasconcelos e Assumpção – Isso vai dar repercussão“ com sete músicas gravadas com o grande amigo.

arrigEm 2006, Itamar foi celebrado pelo parceiro e amigo Arrigo Barnabé com o CD “Missa in Memoriam”, contendo cinco faixas em latim, com arranjos de Tiago Pinheiro, seguindo o ritual ortodoxo da Igreja Católica. Em 2014, foi lançado o livro “Itamar Assumpção, cadernos inéditos”, onde se destacam versos soltos, letras de músicas, listas de compras, bilhetes de desculpas, crônicas, poesias e contos infantis escritos pelo artista ao longo de sua produtiva vida e guardados por sua esposa.

Francisco José Itamar Assumpção: criativo, controverso, musical, percussivo, cara do Brasil que ousou, cara da vanguarda. Obrigado, velho!

*Paulo de Tarso é radialista, jornalista, produtor e pesquisador musical. Verde de paixão pelo Palmeiras.

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