Era uma manhã alegre. Do alto das árvores de um bosque verdejante uma pequena ave espreitava o horizonte. Seus olhos brilhantes de ave de rapina mapeavam a paisagem. De um lado a cidade, com suas ruas e casas, avenidas e prédios. De outro, uma vastidão de campos, com o verde intenso e atraente das folhas novas da lavoura.

A jovem ave abriu suas asas ainda um pouco frágeis e mergulhou num voo rasante sobre aquele oceano de folhas verdes. Porém, seus olhos poderosos não viram sequer um único inseto, verme ou pequeno animal naquela imensidão. O vento fazia ondular a superfície do campo. Ainda experimentando as sensações daquele primeiro voo a ave brincou em volutas graciosas entre o azul do céu e o verde intenso da plantação.

Estava ela assim, distraída em divertir-se na luz da manhã, quando ouviu um ronco ensurdecedor e na linha do horizonte viu surgir, em meio a uma nuvem fumacenta, um grande e assustador pássaro de metal pulverizando um pó esbranquiçado e mal- cheiroso sobre tudo. Cheia de medo, a ave refugiou-se de volta no bosque. Mal estava a salvo do monstro rugidor, percebeu um movimento tenso por entre as árvores: os animais terrestres corriam e as outras aves alvoroçadas, fugiam em bandos. O bosque incendiava.

Amedrontada, voou as tontas até encontrar um lugar aparentemente seguro entre as telhas de um barraco a beira da rodovia. Moravam ali três malfeitores. Gente sem escrúpulo capaz de toda sorte de atrocidades. Eram traficantes de aves silvestres. Em gaiolas sujas amontoavam-se araras, papagaios, gaviõezinhos, tucanos e outros pássaros. Encolhida entre o vão e o telhado a avezinha procurou permanecer invisível para não ser descoberta. Aguardaria o momento oportuno de voar para bem longe dali.

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As horas se passaram sem que ela ousasse sair do seu esconderijo. Estava com muito medo e isso a paralisava.  No meio da tarde ouviu pancadas fortes na porta do barraco. Assustada encolheu-se ainda mais. ”Policia!” Uma voz de trovão anunciou e em seguida, homens armados invadiram o recinto,   prendendo os bandidos em flagrante. Vistoriaram o local e além das aves apreendidas encontraram a pequena avezinha quieta e encolhida sob as telhas do vão. ”Vejam” disse um deles, “um falcão Kirikiri! Parece muito assustado! “ Todas as aves foram então encaminhadas ao centro de reabilitação de animais silvestres da polícia ambiental. Receberam tratamento adequado, pois muitas estavam doentes e debilitadas devidos aos maus tratos sofridos.

Dias depois, um jovem formando em medicina veterinária interessado no estudo de aves de rapina esteve no local, e assim que a viu encantou-se por ela, entre todas era sem dúvida a mais gentil. Pequena e graciosa foi-se afeiçoando ao seu treinador. Hoje mora com ele na sua casa. Aprendeu a piar alto para pedir alimento. Ganhou um nome próprio, a falcoa pequenina. Vida longa, Serafina!

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