Por Paulo de Tarso*

Aqui no Cidadão Cultura nossa homenagem aos 100 ANOS do maior patrimônio cultural do Brasil: O samba!

África, navios, escravos, mar, praia, libertação e a sabedoria popular são os principais ingredientes para se fazer a receita perfeita do chamado samba.

Mas, de onde vem o samba?

O samba nasceu na Bahia, no século 19, da mistura de ritmos africanos. Mas foi no Rio de Janeiro que ele criou raízes e se desenvolveu, mesmo sendo perseguido. Durante a década de 1920, por exemplo, quem fosse pego dançando ou cantando samba corria um grande risco de ir batucar atrás das grades. Isso porque o samba era ligado à cultura negra, que era malvista na época. Só mais tarde é que ele passou a ser encarado como um símbolo nacional, principalmente no início dos anos 40, durante o governo de Getúlio Vargas.

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Os Oito Batutas, em sua primeira formação, incluía Pixinguinha (flauta), China (canto, violão e piano), Donga (violão), Raul Palmieri (violão), Nelson Alves (cavaquinho), José Alves (bandolim e ganzá), Jacó Palmieri (pandeiro) e Luís de Oliveira (bandola e reco-reco)

O samba, como conhecemos atualmente, tem origem afro-baiana, temperado com misturas cariocas. Nasceu da influência de ritmos africanos, adaptados para a realidade dos escravos brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu inúmeras transformações de caráter social, econômico e musical até atingir as características conhecidas hoje.

O gênero, descendente do lundu (canto e dança populares no Brasil do século 19 , começou como dança de roda originada em Angola e trazida pelos escravos, principalmente para a região da Bahia. Também conhecido por umbigada ou batuque, consistia em um dançarino no centro de uma roda, dançava ao som de palmas, coro e objetos de percussão e dava uma ”umbigada” em outro companheiro da roda, convidando-o a entrar no meio do círculo.

Com a transferência, no meio do século XIX, da mão-de-obra escrava da Bahia para o Vale do Paraíba e, logo após, o declínio da produção de café e a abolição da escravatura, os negros deslocaram-se em direção a capital do país, Rio de Janeiro.

Instalados nos bairros cariocas de Gamboa e Saúde, eles dariam início à divulgação dos ritmos africanos na Corte. Eram nas casas das tias baianas, como Amélia, Ciata e Prisciliana, que aconteciam as festas de terreiro, as umbigadas e as marcações de capoeira ao som de batuques e pandeiros. Essas manifestações culturais propiciariam, conseqüentemente, a incorporação de características de outros gêneros cultivados na cidade, como a polca, o maxixe e o xote. O samba carioca urbano ganha a cara e os ritmos conhecidos.

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Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga, que fez o primeiro registro de um samba: “Pelo Telefone”

Em 1917 foi gravado em disco o primeiro samba chamado ”Pelo Telefone”. A música, de autoria reivindicada por Donga (Ernesto dos Santos), geraria polêmica uma vez que, naquele tempo, a composição era feita em conjunto. Essa canção, por exemplo, foi criada numa roda de partido alto (pessoas que partilhavam dos antigos conhecimentos do samba e designava música de alta qualidade), do qual também participaram Mauro de Almeida e Sinhô (José Barbosa da Silva), que se auto-intitulou ”o rei do samba” – Pelo telefone aqui na voz do grande Martinho da Vila

Por volta dos anos 30, diferentes estilos de samba surgiram no Rio de Janeiro

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Samba de Roda

Muito parecido com a roda de capoeira, é a raiz do samba brasileiro e está registrado na Unesco como patrimônio da humanidade. Surgiu entre os escravos na Bahia por volta de 1860 e logo desembarcou também no Rio de Janeiro. O samba-de-roda, como a dança, começa devagar e se torna cada vez mais forte e cadenciado – sempre acompanhado por um coro para repetir o refrão. Várias canções do estilo têm versos sobre o mar e as tradições africanas.

SAMBA DE BREQUE

Um dos primeiros estilos nascidos no Rio, foi criado no final dos anos 20 em botecos da cidade. No meio do samba rolavam “paradinhas” onde o cantor falava uma frase ou contava uma história. Um dos mestres foi Moreira da Silva. O ritmo é mais picadinho – ou “sincopado”, como dizem os músicos, mas a marca registrada é mesmo a parada repentina. Daí o nome “samba de breque”. Quase sempre conta uma história engraçada, de um tiroteio entre malandros, marca registrada Moreira da Silva e seu sucesso “O rei do gatilho“.

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Moreira da Silva

PARTIDO-ALTO

Na década de 1930, o partido-alto se popularizou nos morros cariocas. Entre um refrão e outro, os músicos criavam versos na hora, quase como repentistas. As antigas festas de partido-alto chegavam a durar dias! A partir dos anos 70, Martinho da Vila virou um músico marcante do estilo. A principal característica é a improvisação. O partido-alto se mantém, principalmente, pelo jogo de palavras encaixadas no momento certo. O estilo trata de temas do cotidiano, e sempre com o maior bom humor.

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Martinho da Vila

SAMBA-ENREDO

Na década de 1930, quando surgiram os primeiros desfiles de escolas de samba no Carnaval do Rio, nasceu o samba-enredo. No início, os músicos improvisavam dois sambas diferentes: um para a ida e outro para a volta na avenida onde as escolas desfilavam. Com o passar dos anos, o samba-enredo ganhou uma batida mais acelerada que outros sambas – o que ajuda as escolas a desfilarem no tempo previsto. A partir dos anos 80 a coisa mudou, mas, até então, samba-enredo só abordava a história oficial do Brasil. Salgueiro mostra a magia do samba enredo, o ano de 1993 – Fala Salgueiro … manda ver Quinho !

SAMBA-CANÇÃO

Outra cria dos botecos cariocas, o samba-canção apareceu na virada dos anos 30 para os 40. Logo ficou famoso como “samba de fossa”, perfeito para ouvir após um pé na bunda… Cartola e Noel Rosa fizeram grandes músicas do estilo. A batida mais lenta e cadenciada do samba-canção lembra bastante o bolero, outro ritmo musical que fazia sucesso nos anos 40. Em geral, as canções falam de desilusão amorosa – de amores não correspondidos às piores traições!

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Cartola e Noel Rosa

Por sua história, suas conquistas, sua originalidade e por ser um ritmo que traduz o sentimento, o jeito de ser, a essência do povo brasileiro, o samba hoje é uma paixão nacional,  que passa de pai para filho e continuará a conquistar gerações. Aqueles precursores africanos hoje prestamos justa homenagem  por 100 anos de uma verdadeira paixão nacional que ilustra de norte a sul do nosso pais a identidade de um povo que tem em suas festas típicas o samba como referencia cultural.

6 de novembro de 1916 com a homologação e autorização dada Ernesto dos Santos para registro do samba “ Pelo Telefone “ dada pelo Departamento de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional.  A partitura feita para piano por Pixinguinha que dedicava o samba  a dois foliões , os carnavalescos Peru, Mauro de Almeida e Morcego o Norberto Amaral. O samba foi executado pela primeira vez em 25 de outubro de 1916 no Cine Teatro Velho, desde então somos acalantados, animados e vivemos dias de gloria deste que é o ritmo do Brasil.

Nestes 100 anos do samba , compromisso firmado de sermos guardiões do nosso ritmo, valorizarmos e estimularmos o samba como  cultura. A todas as comunidades do mundo do samba espalhadas em todo o Brasil nossos maiores agradecimentos por manter viva a tradição da genuína música brasileira. Viva o samba.

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Batuque na cozinha  –  Martinho da Vila –  João da Baiana

A Deusa dos Orixás    =  Clara Nunes

Segura esse samba    = Oswaldo Nunes

Antonico   = Ismael Silva

Ola o samba sinhá    =   Candeia

Pelo Telefone   = Martinho da Vila – Donga  / Mauro de Almeida

Samba quente / oi    =  Fundo de Quintal e Xande de Pilares

O rei do gatilho = Moreira da Silva – Miguel Gustavo

Mel na Boca    =  Almir Guinetto com Jorge Aragão

Explode coração  –   Salgueiro  –    1993

Saigon    =  Emilio Santiago

Deixa a vida me levar     =  Zeca Pagodinho

*Paulo de Tarso é jornalista, radialista, pesquisador e produtor musical, 
de quebra campeão com o Palmeiras!

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