Por Glauber Lauria*

“Quanto a mim, faço que meu gênio sirva para pintar as delícias da crueldade!”         Conde de Lautréamont

Talvez por não querer despertar acordar certa náusea de ser adulto ou devassar a intimidade trágica desse ou daquele atributo. Meu porto é um navio náufrago tantas histórias por contar que não tenho tempo de escrever nenhuma a não ser alhures em concepções ideais que nunca se realizam dado minha incapacidade orgânica de estabilizar a criação como um projeto intelectual desmembrado de minha urgência agônica e cíclica de sentir essa existência de forma tal que nunca consigo arder e me entregar a cousas externas… contemporizações de um diário infinito? Ou apenas abjeções de um emplumado arrogante queimando suas divagações como uma vela que repousa em altar inexistente? Não me dou ao trabalho de uma resposta, enfeitiço como posso cada traço e deixo que as consequências abatam-me, pouco importa quão risíveis são as tangentes que mo impelem, não obedeço regras que por mim não sejas ditadas, sôfrego ofereço-me sempre o asilo que necessito, sem por isso amortizar com certezas a intranquilidade que me persegue. Não existem saídas, apenas atalhos para percorrer enquanto os suicidas se inscrevem na história. O óbvio é que a impermanência não choca, a vida é levada como se houvesse objetivo e o não questionamento pouco atormenta os espíritos que se esfalfam na atrocidade violenta dos dias. Quereria enganar-me, esganar-me-ei um dia, pois como vingança dessa coisa pingada que são os dias, quero espatifar-me contra a porta da vida. Ofende-me deus sua inexistência. Ofende-me a graça ofertada e nunca recebida. Quero congratular-me com a graça que me permito e dou, pois é com ela e álcool que permito-me sobreviver na hediondez mesquinha e abjeta que congratula arrebol e aurora, noite e dia, nesse inferno que chamamos cotidianamente à vida. Não há paixão mais visceral do que a própria paixão de se sentir as cousas visceralmente. Frases feitas com o vagar de anjos diabolicamente malévolos e deliciosos e inexistentes. Oh “minha lírica, minha dádiva” perversa que erige a beleza em meio a inescrupulosidade geral e nefasta. Quando iremos juntos abraçar a desgraça que nos transtorna e constrói? Não deixemos que sejamos abatidos pelas asas tristes que conduzem o destino dos homens, vamos arborizar o século de nossas existências com ipês miríficos de insensatez, com incongruentes paineiras para nos abrigar do causticante sol que assola a existência de ambos. Quão distantes andam os sonhos de outrora. Quão distantes andas os sonhos. Quão distantes andam. Quão distantes. Será que diverte-me a brincadeira das palavras? Ou esmero-me em compungido desafio para a tortura própria? Na verdade não sei o que impele-me, se uma vaidade exibicionista ou a busca inadimplente de uma vaga beleza que considero real. O amor pela arte não faz de ninguém um artista, este, é uma alma torturada pela intempérie, obcecada por uma encomenda do inferno e impelida por dilacerantes forças a continuar tangendo bois imaginários. Não importa, aqui estou eu tergiversando cômicas tragédias para expelir de mim um mal estar intrínseco. Quanto álcool é preciso para espacializar em si esse percurso de minúcias indecisas que conduzem a tal sofrimento? Minha crise é um processo. Meu problema um acesso. Minha solução um passo? Tanta tragédia inquieta-me. Tanto soçobrar absorve-me. Tanta nuvem dissipa-me. Tanto sol eclode-me. Vem, vai, não está, queremos. A vida é ansiedade.

Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no mundo. 
Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, 
já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros 
e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, 
Expresso Araguaia e A Semana.

 

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