Por Glauber Lauria*

insights – relampejos, meteóricas frases surgindo de tal forma ebulientes que transtornado obedeço ao encargo, escrevo disparates, pego um ônibus vou ao supermercado e volto curtindo jazz pornografia decadência saudade. poderia abrir um vinho, preparar um sanduíche sem carne, acarinhar os gatos ou mesmo ler Thomas Mann, mas não sei bem porquê, talvez apenas o diabo, trago o comput-a-dor pra a área e escrevo coisas imitativas, carecidas de significado. escrevo para significar-me, não transcendo, não elevo leitores, acaso um dia eu os tenha, para esferas mais altas. escrevo porque preciso, assim como um condenado, cela prisão e vício, escrevo para me livrar de taras pesadelos insônias interstícios. a escrita, aviso, mesmo para os não iniciados, é um problema do tamanho de um vale, uma condenação àqueles que sabem do mundo injustiçado, não é um brinquedo, não ajuda a passar o tempo, é sim um trabalhar com o medo, cair direto nas garras do perigo chafurdando néscio a obscuridade de abismos. Roth dizia que o único beneficiário da escrita é quem o faz, uma espécie de medicina da alma para pessoas desprovidas de deus. sarais, poesias em juventude, tudo isso passa assim como a beleza das atrizes, o que fica são os ensandecidos que perderam seus dias debruçados sobre livros, aprendo com outros insatisfeitos da vida aquilo que eles aprenderam em outros tantos livros, dando continuidade àquilo que seria transferência de conhecimento se houvesse na humana sociedade algum não apenas bárbaro sentido. escrever, não é algo que se faz quando estamos aflitos, os que escrevem tem a aflição como rito, escrevemos, mesmo quando as palavras não tem mais sentido porque ao fazê-lo fingimos estar controlando o incognoscível. Lúcio Cardoso dizia que escrevia por não ter olhos azuis, Faulkner dizia que para se escrever era necessário apenas uma bolsa de tabaco e um quarto de uísque, não acreditem nessas coisas, escrevemos apenas porque a vida não possui sentido. escrevemos por nihil-estesia.

*Glauber Lauria é poeta, lê, escreve e alucina aos trancos um coração decadentemente Verlaineano. Nascido em Torixoréu-MT, cursou e abandonou Museologia e História da Arte (UERJ) no Rio de Janeiro. Entrou em duas antologias de poemas em 2016, uma é marginal e chama-se “Soco no Olho”, a outra será lançada na Bienal do Livro no RJ. 

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