Tenho acompanhado com certa frequência os concertos de música contemporânea na UFMT.  Fora isso, de vez em quando acontece alguma coisa que atiça minha vontade de voltar aos tempos de estudante e ficar flanando, ou melhor, acompanhando os eventos mais interessantes que acontecem no campus. Pois bem, uma mistura explosiva de cinema e filosofia volta a sacudir as paredes do curso de Filosofia na UFMT, com o compa, professor Gabriel Mograbi.

Bom, vamos à luta, ou à luz do cinema, já que na filosofia as luzes já ficaram pelos séculos. Parece que o trabalho dos filósofos está restrito aos meios acadêmicos hoje em dia, para dar aulas, e mesmo assim parece que querem acabar de vez com o ensino de filosofia nas escolas, que significa logicamente o fim da picada, o fim do caminho mesmo, a meu ver, pois a lógica do sistema dominante é cristalina: queremos seres não pensantes, nulos, burros, incapazes de um raciocínio lógico ou crítico! Será o fim da filosofia? Será o Serafim, Oswald? Enfim, vejo que estamos na ponta do iceberg de uma contra revolução quase comparada aos tempos tenebrosos da ascensão nazi-facista. Pensamentos corrosivos e antiéticos descarados e escancarados se multiplicam velozmente, tudo exposto como fratura aos nossos olhos na rede mundial, na internet.

filosofoSeparados por décadas de avanços no comportamento do corpo social desde a década de 60, 70, quando emergiram em pensamentos e lutas, filosofias libertárias, com o surgimento de movimentos que lutavam por práticas de vida mais livres e desimpedidas dos conservacionistas, enfim, retrocedemos a um ponto de intolerância e ódio em doses cavalares e explícitas e parece que estamos chegando ao limiar das trevas, se é que isso é possível.

Mas o cinema aliado à filosofia, ou a leitura do cinema numa perspectiva filosófica é um alento. Uma coisa bacana, para provocar dissonâncias, questionamentos, resistências, e nisso Gabriel é mestre, é um provocador e é um cara que conhece muito de cinema, tem uma memória com uma capacidade absurda de detalhar cenas e passagens fílmicas. Está aberta aí uma janela, que se abre após se fechar outras vezes, esse curso é uma retomada, pois já participei de outras edições. Precisamos de pontos de fuga na perspectiva histórica.

ambrosia-especial-oscar-fundo-filme-cinemaSegundo Gabriel Mograbi, vem coisa boa por aí: “Começamos na semana passada e vimos dois filmes do comecinho da história do Cinema “L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat” dos irmãos Lumière e “Le Voyage dans la lune”  de Georges Méliès e começamos a ler o comecinho de “A obra de Arte na época de sua reprodutibilidade técnica” do Walter Benjamin. Neste começo de curso estamos pensando o impacto do cinema como tecnologia de virtualização da imagem em movimento, a novidade que isso representou num dado momento. “

É uma boa oportunidade de revisitar alguns filmes e lançar novas luzes e olhares por essa janela do cinema que vai sempre permitir novas leituras, novas adequações ou readequações, reajustando o foco para o contemporâneo.

1265047_backdrop_scale_1280xauto
“L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat” dos irmãos Lumière

Aliar filosofia e cinema é um desafio, já nem tão novo, mas também está longe de se esgotar. É importante arriscar e pensar nesses novos tempos em que predomina o poder quase absoluto da imagem, de larga e diária produção audiovisual. Isso exige atenção e velocidade, o que por si já é uma contradição, pois para se pensar é exigido tempo e ócio, e nossa matéria é o volume de clicks e posts diários a alterar de vez as relações do homem contemporâneo que produz e consome. Deixou de ser o homem passivo que era só receptor, agora recebe, cria e emite mensagens em tempo real, com a tecnologia ao alcance das mãos em mobile system.

Como fica a arte moderna e contemporânea diante desses novos componentes? Como pensar o ser humano criador e criatura de sistemas e linguagens que ao mesmo tempo produz e consome? Como fica a arte, a linguagem, os sistemas de avaliação do que é ou não é? O que é arte? O que é linguagem? Como definir o que é mais ou menos nessa escala gigantesca que cresce dia a dia elevando a potência produtiva e consumidora que praticamente torna a maioria invisível? É impossível acompanhar o volume de produção nos dias que vivemos.

Gabriel abre janelas com essa provocação e diz que se alguém quiser acompanhar e participar do curso como ouvinte basta procurá-lo: “Basicamente, vamos ver alguns filmes superclássicos, revolucionários ou filmes que chegam nos limites de linguagem, e também discutir à luz de autores que vamos ler e que mexem com cinema, sejam da Filosofia ou do Cinema: Benjamin, Carrol, Deleuze, Foucault, Eisenstein, Bazin, Xavier. “

O curso acontece nas quartas-feiras às 19h na sala 9 do ICHS na UFMT.

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here