*Por Túlio Paniago Vilela

 

Inventei tintas sem cores pra descolorir
Um quadro abstrato que pintei sem tintas.
Feito de enfeite num muro despido de tijolos
Que ergui pra cercar o vazio que me habita.

Teci uma manta sem linha ou agulha
E o que me orgulha é que serve em mim.
Porém, aos olhos nus, vão pensar que estou nu.
É que só entendem de algodão e cetim.

Fiz uma oração sem ‘Deus Pai’ ou ‘Amém’,
Bebi água profana, comi a carne de Cristo.
Assassinei a vida eterna num terreno baldio
E se agi sem pensar foi pra provar que existo.

Esculpi sem argila uma mulher ardilosa,
Que degustou minha costela com vinho e vinagre.
Sem misericórdia, cozinhou minhas vísceras,
E me temperou menos doce que agre.

Desenhei figuras desdenhadas em muros
Em becos obscuros como a alma humana.
Me desfiz em partículas pra ser parte do todo
E absorvi todo o nada que de tudo emana.

* Túlio Paniago Vilela é jornalista, escritor, da cidade de Mineiros,
e vive em Cuiabá desde 2010.
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