Por Alan Borges

Meu caro amigo! Nem sei como começar a comentar a sua peça musical.

Nem você poderia esperar um comentário ontem mesmo.

Ainda porque sua música não está dentro da categoria: gosto ou não gosto; e porque eu não toco uma nota.

Ainda que eu tenha ouvido muita música, não poderia dizer: gostei, ou, não gostei. Ouvi ontem mesmo duas vezes, e a estranheza forçou a pensar numa antimúsica, o que era mais óbvio. Hoje ao ouvir novamente vi que trocara o título para DesConcerto; aí achei perfeito o título com o tema, pois a música se desconstrói, sugere, propõe, para logo em seguida chegar ao caos utilizando a sonoridade até o paroxismo; e, quando de nova sugestão, como se fosse desenvolver o tema suposto antes, mal se estrutura para se desfazer como uma flor às marretadas da bigorna do tempo. O sino, constante como um despertador, aparece novamente como telefone, um caos sonoro que desfaz sempre os temas propostos, e que são pastiches, colagens, creio. A peça começa com um sino que parecer um despertador, o som da orquestra parece metais, daí o sino volta abrindo o tema às distorções da guitarra até o deboche. O xilofone é um “desconstrutor” assim como as batidas na chapa de aço, ou golpes num serrote e suas vibrações; ou as distorções de sintetizadores. Os temas que parecem se desenvolver, são desconstruídos; e, no geral, a peça passa uma sensação mental de um dia comum de um ser citadino, o dia que acaba em caos que mais do que silêncio, incendia a insônia numa evolução sonora que não dorme até o fim. Assim como o som chega ao limite, o paroxismo da própria música, o silêncio chega ao incômodo mesmo da própria música. Silêncio longo, o serrote golpeado e vibrado, a orquestra se entimbra mais suave com cordas, e a orquestra evolui até o xilofone que lhe barra o caminho cobrando conta à porta de entrada da cidadela do caos. Silêncio. O xilotelefone: distorções até o máximo, golpes em chapa de aço, batidas e silêncio, batidas e silêncio: até o fim, que parece um desenvolvimento interrompido. E, antes do silêncio completo, a insônia, a insânia sonora.

Acho a peça ousada, e, sem conhecer nada de música, teoricamente, dou minha opinião de ouvinte, e que a verdade não deixe tremular a minha voz: como já disse acima, a peça se desenvolve em temas que parecem se desconstruir. Os temas que parecem vão se desenvolver, se desfazem numa cacofonia limítrofe que parece desconstruir tudo o que havia sido insinuado ou proposto, desconstruindo com humor e arquitetando uma antimúsica.  Como simples ouvinte, não sei se mesmo porque o tema do DesConcerto assim o exige, esteticamente, acho que falta, eu dizer isto, eu que não sei música, acho que falta um certo virtuosismo, o que daria maior sofisticação à peça. Fico contente de que surja aqui, eu que sou poeta mato-grossense, uma virulência na arte, a ousadia, o humor e, o deboche, que você tão humorado não deixaria passar.

Falei.

Alan Borges é poeta

 

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