Conheci virtualmente o professor, mestre, escritor, tradutor, carioca que mora em São Paulo, há cerca de dez anos. Na época eu estava colaborando com o site Overmundo e o Fábio escreveu uma resenha elogiosa sobre meu livro Eunóia. Desde então a gente vem mantendo um relacionamento fraterno e amigável pela internet. Sempre à distância. Já faz um longo tempo que quero trazer o mestre Fábio Fernandes aqui em Cuiabá. Abrir uma conversa de um viés pouco usual na literatura local. Sei que acontecem umas experiências esparsas, aqui e ali, Sei também que existe uma porção mais significativa fazendo uma linha mais punk e experimental, sobra nas sombras dos becos cuiabanos, vozes marginais, se esgueirando na direção do caos. Isso tem. Mas o Fábio trás ingredientes que podem aumentar o caldo com diálogo provável e até improvável, com segmentos mais marginais da literatura. Mas ele tem um histórico largo em sua experiência como tradutor e muito mais, eu vejo e torço muito por ele, como autor. Recentemente estava em primeiro lugar na gangorra ultra veloz da galeria de e.books via Amazon. Os Dias da Peste, romance esgotado, cultuado no meio F.C.(ficção científica). Isto, e muito mais, rola em nosso papo, que já está velho, há cerca de um ano insisto e cobro, depois esqueço, paro de cobrar, desisto e logo retorno, mas aqui estamos nós: Fabio Fernandes na área! Preparem seus pilotos que a viagem vai começar!

O site Cidadão Cultura sente-se honrado em recebê-lo para essa entrevista e torce para que você venha a Cuiabá para um encontro presencial, aliás, você deve essa visita há um bom tempo, rsrs…

Eu é que agradeço a honra. Já começo me desculpando, pois essa entrevista era para ter saído há um ano atrás, mas eu me enrolei tanto com trabalho que deixei para depois e olha só… Por outro lado, é bom, porque parece que em muito breve estarei indo a Cuiabá, veja você que maravilha. Sou doido pra conhecer a sua cidade, e você pessoalmente.

Você dá aulas, escreve, traduz livros, lê muito, frequenta oficinas, oferta cursos, como é o tempo para o Fábio, é um tempo aumentado?

Isso tem tudo a ver com a pergunta anterior. Nós vivemos numa sociedade onde o tempo é escasso, justamente porque o mundo nos empurra goela abaixo um trabalho massacrante, cuja função é impedir que você pare para pensar que está sendo massacrado. Como professor, não estou nem um pouco imune a isso, mas um lado bom é que eu tenho uma flexibilidade de horário que me permite respirar um pouco. Além disso, voltei ao budismo Theravada depois de anos afastado, e a meditação me dá um centro necessário neste momento. Acho que isso também torna o tempo (que ao fim e ao cabo é uma construção mental da humanidade) um tanto mais elástico. Quando estou mais tranquilo, consigo fazer quase tudo a que me proponho no decorrer de um dia. E se não consigo, abro mão e faço no dia seguinte. Assim não me estresso.

Você é um dos papas da literatura de ficção científica no Brasil, onde fica essa galera? Em Cuiabá não é, em que planeta?

Obrigado pelas palavras elogiosas. Felizmente essa turma está começando a invadir o Brasil, e uma invasão de literatura de qualidade pelos próprios brasileiros é bem melhor que uma invasão alienígena. Até onde sei, o grosso da produção de ficção científica nacional se encontra no eixo Rio-São Paulo, mas tem muita gente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná, em Pernambuco, em Minas Gerais e no Pará produzindo ficção científica – cito de memória, mas tenho certeza de que cada estado do Brasil tem muita gente boa escrevendo e publicando.

Você já traduziu inúmeras obras literárias, mas Laranja Mecânica é um marco, assim como Neuromancer ,de William Gibson, um clássico da literatura cyber punk, como é isso de ficar marcado com obras de tamanha repercussão?

É um sentimento agridoce. Tenho o maior orgulho de ter traduzido Laranja e Neuromancer, mas também traduzi alguns livros de Filosofia e História, entre outros temas, que me encantaram muito – sem falar de outras obras de ficção científica, claro, mas que não são muito comentados. Atualmente tenho traduzido muito pouco – estou finalizando a tradução para o inglês da antologia brasileira SOLARPUNK, editada por Gerson Lodi-Ribeiro – e estou dando ênfase às minhas próprias narrativas.

Recentemente você fez uma oficina com o autor de Sandman, o Neil Gaiman , em Seattle, como foi encontrar um monstro de tamanha envergadura da HQ mundial? O que você trouxe de produtivo para repassar a seus alunos ou mesmo para suas experiências como autor?

A oficina foi a Clarion West Writers Workshop, uma das mais conceituadas do mundo para quem escreve ficção científica, fantasia e horror. Passei seis semanas numa casa tipo Big Brother, mas com escritores do mundo inteiro, gente superbacana, todo mundo produzindo contos semanalmente para os instrutores. Gaiman é um sujeito incrível, estava sempre disposto a ajudar, e nos deu dicas importantíssimas. A maior de todas, claro, é: termine o que começou. Mas ele me apontou diversas coisas nos meus textos, e fez sugestões sobre como conduzir uma narrativa que hoje eu transmito aos meus alunos de oficinas literárias Brasil afora.

E os projetos literários do Fábio Fernandes?

Durante anos fiquei escrevendo apenas em inglês. Em 2017 voltei a escrever em português também, e acabo de republicar em formato digital meu primeiro romance, Os Dias da Peste. Ainda este ano devo lançar pelo menos mais um livro, a segunda parte (é uma trilogia), e talvez mais um de não-ficção, voltado para escritores iniciantes. Continuo escrevendo em inglês também, e tenho uns três projetos engatilhados sobre os quais não posso falar ainda, mas que são bem interessantes. Além do inglês, devo publicar um conto em espanhol para uma antologia argentina (mas infelizmente não escrevo – ainda – em espanhol, portanto esse será traduzido).

Qual a próxima onda?

Publicar toda a minha obra – inclusive teatro – no formato digital. Fiquei anos com projetos engavetados sem encontrar editora que se interessasse. Cansei. A autopublicação agora não só é uma realidade, como é bastante eficiente. Então vamos à luta.

O site gostaria muito de publicar alum conto seu, é possível????

Mas é claro! “sacando um conto da algibeira”. Tome lá!

 

Nota do Editor*: Fábio está revirando um HD externo em busca do conto. Algibeira virtual! Logo logo publicaremos aqui no site!

3 Comentários

  1. scyfy é idéia infinita..asas pra imaginação..que mal lhe pergunte..o UBER ta funcionando em Cuia ? Pois vou pra essas paragens no dia 22 de agosto..sorver cervejas geladas no BOA…seu Manels ainda existe?

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