Por Sika*

Conhecer gente famosa é algo curioso. Você vê a pessoa e acha estranho porque ela não está em uma revista, um disco ou em uma televisão. Não. Ela está ali. Na sua frente. Se pá, mostrando alguma reação – boa ou ruim. Eu sempre fui bem avulsa a reações quando isso acontece. Sei lá, ele é só um ser-humano na sua frente que teve lá seus mais de 15 minutos de fama. Mas quando se trata de um ídolo – aquele que te fez chorar, sorrir, sentir e amar muito mais, aí a coisa muda. Felizmente tive a oportunidade de estar de frente com um desses ‘monstros’, capazes de fazer verdadeiros estragos pulsantes nos meus dias. Sim. Eu conheci Arnaldo Baptista, dos Mutantes.

Era em outubro de 2013. Estava vivendo um dos momentos mais doidos da minha vida. Tinha me livrado de um namoro abusivo e saído do pior emprego do mundo. Estava livre. No meio do mato, trabalhando em um festival com amigos da vida inteira e morando há alguns meses no sul do país. Foi em Sapiranga, há poucos quilômetros da Capital gaúcha, quando recebi a notícia que eu iria entrevistar o ex-Mutante.

1383382_10200885527076548_251894132_n

Fiquei eufórica e imaginando que finalmente o meu diploma iria fazer a diferença – pensamento constante de uma jornalista frustrada. Tentei reunir tudo que sabia dele em breves perguntas. Queria impressionar. Mostrar que eu realmente era uma fã de verdade. Mas no fim, vi que todo fã é fã, e ponto final.

Foi no ‘Hotel das Rosas’, no centro da cidade (lembro até o nome). Fiquei na recepção com alguns novos amigos e, de repente, eis que ele aparece. Na hora me levantei com um sorrisão no rosto. Fui em sua direção e sem pestanejar, dei um forte abraço. Disse o quanto era honroso conhecê-lo. E ele, de fala baixa, um tanto angelical, só respondeu que o prazer era todo dele (imagina, né!).

Com o meu amigo e jornalista do site Putz Grila, Caio Rocha, fui à sala ao lado e começamos a entrevista. Eu, com alguns rabiscos nas mãos, pés frenéticos e borboletas ensandecidas no estômago, comecei a falar.

Lembro que havia perguntado sobre a relação dele com Rogério Duprat. Saudoso e genial produtor dos Mutantes, que foi o verdadeiro George Martin para a banda. A parte engraçada é que ele falava sobre o produtor como se o mesmo estivesse vivo (ele morreu em 2006) e pincelou sobre o Hermeto Pascoal, quando de repente, pergunta – Ele morreu?, sendo que o cantor está firme e forte nos 80 anos de vida.

20080616123105_32_original

Meus ouvidos estavam atentos a cada palavra. Confesso que no início estava cuidadosa, pois acreditava que ele havia algumas limitações. Bobagem. Mesmo após os excessos da juventude, uma história intensa com Rita Lee e uma tentativa frustrada de suicídio no alto do quarto andar, nada foi capaz de apagar a lucidez do cara.

Várias perguntas transcorreram nos meus poucos minutos. Uma delas (que eu não poderia deixar de fazer) foi o ponto de vista dele sobre os discos voadores, uma vez que os mesmos foram tão presentes em suas obras. E de forma bem sensata e inteligente, ele começou a discutir cientificamente sobre estes seres não identificados que permeiam sobre o nosso imaginário. Além do mais, jurou que já viu um OVNI e confirmou com sua esposa, Lucinha, que estava ao lado durante a entrevista. E, não. Não foi durante a época de ácidos e loucuras no ápice dos Mutantes. Foi na década de 80, recuperado e em sua casa. (A entrevista na íntegra você escuta aqui)

Após o bate-papo, não me contive e pedi várias fotos. Beijei, abracei e me declarei mais de dez vezes. Ainda consegui conversar sobre outras coisas, depois da rodada de entrevista que ele teve. Foi ótimo!

1424535_10201039537966724_1328333883_n

Mais à noite, rolou o show solo no teatro municipal de Sapiranga. Foi inesquecível. Me posicionei na primeira fila de cadeiras, fiz diversos cliques e curti cada minuto. Ele, bem na minha frente. Estava com uma camisa de paetê roxa, tocando um piano de calda com várias rosas no entorno. Também tinha imagens de algumas de suas obras ao fundo. O repertório, nem se fala. Estava divino! Parece que ele havia escolhido cada canção só pra me fazer chorar (o que realmente aconteceu) e lembrar tão fielmente dos momentos mais intensos da vida que aquelas músicas fizeram parte (aconteceu também).

Saí daquele teatro com outra perspectiva e fui viver a melhor fase da minha vida – com os festivais, novos amigos, novos amores e outros ‘mais’. Sem as antigas dores que me afligiam há poucos dias. Três anos se passaram e ainda me lembro daquele dia inesquecível, como se fosse hoje. É bom fazer isso.

E sem demagogia ou coisa do tipo. Mas já que estou no meu papel de fã aqui, vamos lá! Queria só agradecer (mais uma vez) pela existência do Arnaldo. E siim, dizer que eu o amo demais demais demais!

1383075_10200903257679802_2040572161_n

*Sika é jornalista, artista, gosta de desenhar e agora descobriu a cerâmica 

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here