Nos meses de inverno em que o sol é oblíquo, as sombras se alongam nas calçadas, nos muros, nos passeios públicos, nas praças e jardins. As pessoas esquecem da própria sombra. É como se fosse algo imperceptível, destinado a invisibilidade. Quem ainda hoje repara na própria sombra? Quem hoje observa o movimento suave e leve das sombras que se projetam em tantas direções, desenhando formas e sugerindo corpos?

As vezes nos deparamos com o rendado de um recorte projetado pela luz através da ramagem oscilante de uma árvore.

Ou a silhueta de um gato que passa no telhado ao lado.

Quando criança costumava correr da minha sombra ou atrás dela sem nunca conseguir alcançá-la. Hoje sei que a minha sombra nasce dos meus pés e que por mais que tente entendê-la será sempre um mistério não resolvido.

Descobri também que a minha sombra gosta de muros, de calçadas, de pedras e areia do mar onde se espalha por muitas direções em busca de não sei o quê, que desconheço.
E a sombra dos objetos, que pouco percebemos? Instáveis, mutantes, cambiantes.

A sombra nasce da luz que ilumina o mundo. Tudo que tem corpo tem sombra. Até mesmo a fumaça volátil revela sombras. Elas podem ser densas, suaves, misteriosas. Nos acompanham sempre, até mesmo na escuridão de uma noite fechada.

É a grande sombra que envolve o nosso ser e de onde viemos. A grande sombra do mistério da vida que vivemos.

Sem sombra de dúvidas

Estamos diante de nós mesmos ao nos depararmos com a sombra que nos segue, agarrada aos nossos calcanhares firmemente. E quando a noite chega, a grande sombra nos abraça para acalentar nosso sono.

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