Por Lucas Rodrigues*

Era tão doce quando o conheci. Trocávamos olhares ardentes. Tudo bem, confesso que era eu quem mais o desejava. Na época, ele sairia com quem o pegasse primeiro. Foi um erro. Havia prometido a mim mesma que iria resistir à tentação daquele desejo que me consumia. Mais uma vez fui fraca e a carência falou mais alto.

Nosso primeiro contato me deu orgasmos múltiplos. Minha boca salivava e pedia mais daquele amor puro e genuíno. Não sabia se era recíproco. Tanto faz, não importava. Só queria mais e mais. O tempo passou e tudo mudou. A paixão deu lugar à convivência não tão harmônica. Ele foi me conhecendo minuciosamente por dentro. Sabia que era inevitável, mas fazia de tudo para ocultar o desconforto.

Se sentia preso e cada dia mais para baixo. Tudo o que podia comigo era navegar no escuro, sem saber o rumo. Tentava consolá-lo, mas sabia que o enganava. Eu o usava e o descartaria quando não tivesse mais nada a me proporcionar. Sim, esse era o ciclo e sempre foi. Quanto mais me conhecia, mais chegava perto da verdade: a de que já não significava mais nada para mim e que eu já estava paquerando outros.

Chegava a hora da despedida. Esperei o momento certo, mas tive que ter força para conseguir fazer o que devia. Quando ele chegou, tirei a roupa aos poucos até ficar completamente nua, abaixando a calcinha sem qualquer delicadeza.

Em poucos instantes, nos separamos. Eu fui para o chuveiro. Ele desceu pela privada após a descarga. Não olhei para trás. Aquele delicioso chocolate da mercearia deixou saudades. E umas gordurinhas.

*Lucas Rodrigues é jornalista, ator enferrujado, ama espetacularizar o cotidiano

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