Camila Cecílio 

Galhos de árvores, folhas secas, pedras, sementes e cacos de utensílios domésticos. Esses foram os brinquedos da artista plástica Ruth Albernaz durante a infância em Chapada dos Guimarães (a 68 quilômetros de Cuiabá), onde cresceu e vive até hoje. Naquele tempo, ela não imaginava que os primeiros contatos com a ludicidade proporcionada por elementos da natureza lhe dariam repertório para retratar as paisagens do Cerrado e do Pantanal mato-grossense, além de trazer à tona em suas telas a ancestralidade e os saberes dos povos originários da região. 

Manifesto Cerrado fogo que arde em mim 2021, autorretrato

Ruth nasceu em Cuiabá em 1972 e aos seis meses de idade partiu com a família para Chapada, onde viveu boa parte com seus familiares maternos. Nessa época, Chapada não tinha mais do que dois mil habitantes e, nas férias escolares, ela ia para a fazenda de parentes. “Lá, eu ficava em contato com um ambiente rural e com as paisagens do Cerrado. Não havia bonecas ou outros brinquedos industrializados, por isso meus brinquedos foram inventados por mim. Passava os dias nos galhos das árvores”, lembra. 

Caminhada noturna, 2019

Inspirada também pelos pais, que tinham uma relação estreita com trabalhos artesanais e desenho, Ruth teve seu primeiro contato formal com a arte aos 13 anos, durante uma oficina de experimentações artísticas com o artista Bené Fonteles e, em seguida, em uma oficina de confecção de papéis artesanais com Miriam Pires, ambas no Festival de Inverno de Chapada dos Guimarães, década de 1980. Desde então, ela nunca mais parou de criar.

O jogo do Aviator envolve tempo e intuição. Com base no multiplicador crescente, os jogadores devem escolher se querem pagar, ponderando a chance de um acidente de avião contra a possibilidade de mais recompensas. Em jogos de baixa volatilidade, como o Aviator, alguns jogadores que caíram no jogo aconselham fazer uma grande aposta e obter pequenos lucros sempre que possível. Essa pode ser uma tática lucrativa.

Hoje, suas obras carregam símbolos e cores de elementos da natureza, além de saberes ancestrais, como o xamanismo e as benzeções. “A temática ambiental está impregnada no meu DNA. Meu bisavô foi um grande benzedor em Chapada dos Guimarães, Totó Félix.  Curava com as plantas do Cerrado, benzeções e fazia bilocação. O conhecimento sobre as plantas medicinais foi transmitido para minha avó, que ensinou a minha mãe, que me ensinou esse caminho. Vem daí essa força ancestral”, conta. 

Voo Xamânico (exposição Voos Xamânicos, 2014)

Em 1990, Ruth ingressou na faculdade de Biologia e logo começou um estágio focado em Etnobiologia, estudo científico da dinâmica de relacionamento entre pessoas e seus meios. “Foi assim que comecei a ser uma pesquisadora dessa interface ciência e conhecimentos tradicionais”, diz a artista, que é doutora em Biodiversidade Amazônica, mestre em Ciências Ambientais e especialista em Gestão colaborativa de sistemas sócio ecológicos da Amazônia brasileira. Atualmente, ela realiza uma pesquisa de pós-doutorado em Ensino na Amazônia com foco nas artes visuais produzidas na Amazônia Legal. 

Paisagem Aquática do Pantanal, Exposição Bio, 2019, acrílica sobre tela, 95×75 cm

Recentemente, Ruth foi indicada ao prêmio PIPA 2021, um dos mais importantes do país, e foi a primeira mulher mato-grossense a ser finalista da premiação. “Sou uma ativista ambiental e a arte é a melhor forma de pautar os assuntos da ciência e da vida que me tocam. O que me impulsiona a criar é a necessidade e urgência em comunicar sobre as temáticas que me interesso e as que pesquiso: paisagens da minha infância que estão sendo apagadas pela conversão de paisagens,  espiritualidade, conhecimentos ecológicos tradicionais,  pressões e ameaças ambientais e conservação da sociobiodiversidade”, explica. 

Para a artista e ativista, o atual momento político do Brasil é de urgências e emergências, de modo que é preciso levantar pautas  que envolvam a conservação da biodiversidade e dos saberes indígenas e das demais comunidades tradicionais. “São temáticas de extrema importância frente às políticas para sedimentar o modelo de desenvolvimento que não considera a visão sistêmica, o enfrentamento às mudanças climáticas e a erradicação da fome, consequentemente, ameaça de extinção em massa de populações humanas e de outros seres”, ressalta. 

Conheça mais obras da artista em https://www.ruthalbernaz.com.br/

Camila Cecílio é jornalista e escrevedora das coisas de dentro da gente. Cuiabana, vive entre São Paulo e o interior do mato, onde encontra o fôlego e força necessários para continuar em busca de mistérios do viver.

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