Tem coisas que acontecem em nossas vidas que parecem vir carregadas de encantamento. Digo isso por que passamos um final de semana mágico, como convidados de nossa amiga Glória Albuês, em seu pequeno pedaço de paraíso às margens da Baía de Chacororé em Barão de Melgaço. Um lugar paradisíaco.

Logo na chegada, fomos recepcionados com fogos de artifício que quebraram o imenso silêncio com rumores de festa. Sim, éramos bem recebidos. Anna Marimon e eu, abrimos um largo sorriso de satisfação e felicidade. A água da Baía se perdia ao longe, recortada por morros azuis brumosos. Pensei com meus botões, quem disse que aqui não tem mar? Zelito, irmão de Glorinha já apresentou o lugar sorrindo e dizendo que estávamos chegando a um pequeno pedaço do céu.

Poesia para meus olhos, poesia para meus ouvidos ouvir aquele senhor de 83 anos, dizer, seja bem vindo! As surpresas não pararam de acontecer. Glorinha anuncia: tem uma champanhe ultra gelada no congelador, pronto! A recepção estava completa.

A fogueira estava sendo preparada na pequena praia para alimentar nossos sonhos naquela que parecia, seria uma bela noite, no pantanal mato-grossense. Os jacarés boiavam ao lado da canoa que repousava inerte, mantendo apenas os olhos de fora, como a indagar, mundo, vasto mundo!

Mario Friedlander
Mario Friedlander

Que mundão de água, que paisagem. A luz refletia naquela imensidão aquosa e a cada minuto mudava o padrão de cores. Paletas variadas, multicromatismo fulgurante, sim, aquilo parecia um show particular de beleza e êxtase.

Garça branca cruzou o céu, mergulhou e surfou sobre a água num voo que acompanhei com os olhos, embevecido, aquele ponto de luz refletido com suas penas brancas e brilhantes a cruzar toda a Baía. Estava magnetizado ainda, quando surgiram dois Tuiuiús desfilando majestosamente pela beira, catando coisas (seriam peixes?) mergulhando seu longo bico na água rasa que banhava o costado. O colherereiro com suas penas róseas a embelezar aquele momento num deslumbrante desfile da fauna pantaneira.

Mario Friedlander
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Tudo mágico. Sentíamos o prenúncio de uma bela noite de luar enquanto os primeiros sinais da fogueira crepitavam no ar, o fogo lambia as bordas da noite e o vinho fazia estalar a língua.

Muitas histórias em volta da fogueira. A viola caipira soava com lamentos que saíam de meus dedos na noite que escorria pelas frestas de luz da lua que rasgava a escuridão. Anna, Glorinha, Márcia e Zé Bala, todos brindavam aquele instante, Zelito ao meu lado, dizia que a música era a arte que realmente fazia sua cabeça. Aí veio a história que achei incrível. Ele confessou em alto e bom som, “sou o cara que mais vezes esteve presente nos concertos da Orquestra de Mato Grosso. Sou fã desses dois Carvalhos que comandam duas Orquestras que considero magistrais em Mato Grosso. O Leandro e o Fabrício são dois caras incríveis, que nos proporcionam coisas belas”. Ele não parava de falar. “Fui a um concerto da Orquestra de Mato Grosso em São Paulo como convidado especial. O Leandro sempre me apresenta nos concertos e me apresenta para os músicos solistas convidados. Já conheci vários, e faço questão de não perder nenhum concerto. Em onze anos, perdi apenas quatro apresentações”, diz com extremo orgulho e brilho comovente nos olhos. O sorriso estampado em seu rosto simpático.

A noite corria no ambiente. A fogueira crepitava. A presença do Pantanal se fazia forte. Um silêncio que ia longe.

A lua cortava a Baía como uma ponte de luz, pronta para a travessia e estávamos numa harmonia impressionante.

O céu, um esplendor, com cachos de estrelas a iluminar nossos mais verdadeiros e iluminados sentimentos. Sim, sentimos ali que a vida vale a pena, simplesmente isso, viver vale muito a pena.

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