“Um disco é um frame, é um recorte de muita coisa vivida, de muita coisa pensada, de muito choque” – Criolo

Ele começou com “Ainda há Tempo”, partiu pro “Nó na Orelha”, intimou um “Convoque seu Buda”, releu o “Ainda há Tempo” e agora adentrou a “Espiral de Ilusão”.

No início, em “Ainda há Tempo” você se depara com um álbum cheio de rap, bem cruzão mesmo, sem muito enfeite de arranjo do produtor – foda – Daniel Ganjaman! Letras fortes que exploram e permeiam os caminhos da realidade das favelas brasileiras, do mundo de quem perde pessoas e de pessoas que se perdem pras drogas, da realidade dos rappers e do rap brasileiro. De família Cearense, Criolo nasceu ali no Grajaú de SP, criou a “Rinha dos MC’s”, trouxe com ele uma galera que anda junto até hoje na estrada da música!

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Depois, com um nó na orelha, ele já chegou chegando com uma variedade de ritmos que percorreram o rap, o MPB, o blues, o soul e até um bolero com  uma letra romântica que remete a uma relação entre um viciado e a droga em “Freguês da meia-noite”. Ali, os arranjos do Ganjaman já vieram com tudo ilustrando e criando muito bem essa diversidade musical que inspirou o álbum. As letras todas vieram carregando um peso enorme, abordando a vida ali no Grajaú, a situação política brasileira, a favela, a carga de um artista independente, a luta constante e diária.

O que eu senti a primeira vez que dei play em “Convoque seu Buda”, é que ali, o músico não teve medo de arriscar e permear nessa diversidade que ele colocou no álbum anterior. Aqui, dá pra perceber a riqueza dos arranjos de Ganjaman e o resultado dessa parceria incrível! As questões sociais/culturais são bem colocadas em letras empíricas, a realidade de quem se perde nas drogas, a desigualdade social – ou como ele diz, o “abismo social” -, o capitalismo, o consumismo e a ideia de cada um realmente convocar o seu Buda pra buscar a paz interior. Mais do que um álbum, um manifesto poético. Criolo no palco é como um profeta. Sempre pregando o amor, a igualdade, a humanidade, a liberdade de ser.

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Um tempo sem ouvir algo novo de Criolo e me deparo com o lançamento de um novo single! Empolguei, play. Um sambinha. Pensei com meus botões “Criolo vai lançar um álbum só de samba?”. E então, esses dias atrás, me deparo com essa espiral de ilusão dentro de um álbum recheado de samba. Samba, samba, samba! Ele mergulhou fundo no samba com letras românticas, abordando o cenário político brasileiro atual e a vida na favela. Ele não fugiu de suas raízes, não fugiu dos temas antes abordados com suas letras profundas e repletas de reflexões acerca dos conflitos sociais.

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O que dá pra notar é que Criolo se envolve e desenvolve em caminhos com as mesmas temáticas em diversos ritmos, mistos e que te levam a questionar e refletir, que te levam a enxergar a realidade mesmo que as letras não deixem isso tão claro. Com suas composições, você pode se confundir, ele tá dizendo uma coisa, mas quer dizer outra. Metáforas, analogias, fazendo você caminhar pelas letras e buscar o real sentido que ele quer dar a elas.

Não sei o que os outros admiradores, apreciadores da música e do artista que ele é vão achar (ou tão achando né) desse espaço que o Criolo encontrou e se deixou abrir em si, mas na minha ideia, é um álbum maduro, com a mesma pegada de letras fortes num samba refinado, de uma produção madura que carrega muita poesia.

Como ele mesmo cita no encarte deste último álbum: “O samba não é quando você quer, é quando o seu coração está preparado”.

*Dá um play aqui.

**Aproveita e dá uma lida na revista que ele lançou junto ao álbum nesse mesmo link!

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