É sempre muito bom brindar o primeiro livro de um escritor. Desses de boa lavra, caras que surgem por aí de tempos em tempos. Tempo de maturar, tempo de emergir das profundezas catatônicas das cavernas abissais do que ainda não foi escrito. Daquilo que ainda não foi revelado. A literatura é um caminho que surpreende até mesmo os menos ligados. Mas é um percurso que é sempre novo para quem arrisca escrever.

Ainda não li o livro, não vou ser leviano e dizer que é isso ou aquilo, mas pelos contos do Santiago que já li aposto que seja um grande livro. Estou lendo o release, mas não me interesso muito pelos releases. Prefiro o deslize do risco crônico de embrenhar na escrita como quem vai à guerra. Não há tempo para paz, isso ficou para trás.

Vivemos entre uma trégua e outra. Portanto não há paz, existem tréguas.

Aí o poeta assalta: eu não quero as réguas para traçar os meus caminhos, eu prefiro as éguas num galopar torto e veloz (Antônio Sodré).

Mas, conversa de escritor é que nem conversa de bar: ou melhor, conversa de botequim é que nem conversa de escritor, é tudo no fiado.

Escritores são seres duros de natureza monetária, sobra tempo apenas para uma escalada nas montanhas dos textos que se acumulam pelas tardes e noites da vida.

Santiago Santos e eu estávamos prometendo uma roda de cerveja há meses. Enfim, aconteceu. Chego primeiro. Tomo uma, bem gelada. Bar do Azambuja, na Praça da Mandioca, que prefiro chamar de Largo da Mandioca, pois o entorno da praça se agigantou demais, abriram muitas casas noturnas ofertando bebidas, comidas, eventos culturais, música, literatura, saraus, rap, samba e rock’n roll.

Foto-autor-orelha-do-livro-PBEle chega com o livro na mão: Na Eternidade Sempre é Domingo. Santiago de cara já confessa: apropriei-me dessa frase do RGDicke, do livro “O Velho Moço” e dei título ao meu livro. Que massa! Pensei! Isso é ótimo. Ele quer saber sobre os escritores de Mato Grosso, vamos tecendo fios desconexos na velocidade do pensamento num fluxo brutalmente livre.

Ele instiga a memória e vamos puxando cavalos e cavaleiros do passado recente, Antônio Sodré, Ricardo Guilherme Dicke, Silva Freire, Wlademir Dias Pino, Jose de Mesquita, Wander Antunes, Eunóia, Flash Fiction, as estradas da vida, caminhos e descaminhos, ele quer saber de tudo. Diz que sempre acompanhou nossos movimentos pela cultura e que acredita nisso tudo. Digo que só vive isso quem acredita muito nisso e ama isso que fazemos. É uma entrega, uma espécie de suicídio muito maior que o sentimento de mercado. Na real estamos falando de cabras marcados.

O samba rola solto lá da Praça, quando saímos já era noite alta e o lugar estava completamente lotado. Gente por todos os lados. Ele insiste, mas você não quer mais publicar?

Ele enfatiza a importância para ele de colocar no papel. O fetiche pelo objeto livro. Parece que não se consagra um escritor só nas digitais. Precisa do livro. Dou um sorriso e acho ótimo esse sentimento. Penso que a juventude tem crenças das antigas. Sei lá parece que escritor é tudo igual, conversa fiada, dou risadas internas e vejo seus olhos brilharem ao falar do livro e da publicação que agora tenho em mãos. Por sinal três livros, o de Santiago, o de Jorge Filholini, “Somos Mais Limpos Pela Manhã” e o do comparsa de Caximir, Luiz Renato, cronista colaborador desse site, com o “Duplo Sentido”, duplo livro de crônicas, Cuiabá-Recife, com Carlos Barros. Estou lendo os três ao mesmo tempo, se é que é possível! Intermitentemente, é claro!

Jovens e velhos escritores na mesma pegada, publicando os escritos como que para eternizar no papiro as experimentações de hoje e de ontem. Amanhã também, quem sabe?

Capa-(só-capa)-Domingo

Fragmento release: Os incas ganham novo sopro de vida em Cuiabá no dia 18 de outubro. É quando o escritor Santiago Santos lança o seu primeiro livro, Na Eternidade Sempre é Domingo, no Sesc Arsenal, a partir das 19h. O livro foi contemplado no Edital 2015 de Literatura da Prefeitura de Cuiabá e chega agora às prateleiras da cidade. Publicado pela Editora Carlini & Caniato.

Na Eternidade Sempre é Domingo traz 20 contos que se entrecruzam para formar uma única narrativa: a de uma escritora que faz um mochilão pela Bolívia e pelo Peru acompanhada de Nipi, um enviado da deusa da Linguagem dos incas, encarregado de contar à viajante histórias esquecidas do seu povo.

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