Abro meus olhos e está tudo embaçado. Ouço a chuva cair do outro lado da janela, sinto alguns respingos. O som da chuva me levou a outro lugar da memória. Pego meus óculos e tento retomar as lembranças. Algo aconteceu e você cedeu. Nós ficamos sozinhos ali pela primeira vez. Mas eu não conseguia agir, a sua presença me causa um estranhamento, me intimida. Meu corpo trava, eu não consigo sequer olhar pra você.

A memória me confunde e eu misturo as lembranças. Chovia, e era ensurdecedor enquanto a chuva caía. Seus lábios me atacaram, você veio como um gigante e arrancou um pedaço de mim. Mais uma vez tudo se mistura eu já não sei se era você ou ele. Pensei naquele momento que quem me atacava era Bukowski e aquilo me fez ferver e enlouquecer ao mesmo tempo. Me senti como  uma de suas mulheres nos momentos em que ele ficava bêbado. Era tudo um caos.

A chuva parou e nossos corpos se desgrudaram subitamente. Sinto um arrepio correr pelo meu corpo. Você percebe e me olha com olhos quentes. Penso “ele vai me atacar de novo”, mas você recua. Você vai e volta. Não se decide. “Escolha um caminho e vá por ele, siga até o fim do corredor e depois pule”, foi o que eles disseram aquela noite. Nós fomos, mas você ficou na metade do caminho, disse que não tinha certeza se queria pular. Eu disse “medroso, então fique aí no escuro”. Estava muito escuro e chovia forte, mas mesmo assim você preferiu ficar parado ali. Eu segui, caminhei por horas até encontrar o buraco. Pulei, e no meu pulo eu encontrei várias flores e cores. Ainda tava caindo até que “peraí! Não são mais flores”, me espetei num espinho. Mas agora cicatrizou.

Compartilhe!
Economista, realizadora audiovisual, produtora e ativista cultural. A arte é intrínseca aos seus múltiplos olhares.

2 Comentários

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here