Dedico esta matéria ao amigo, jornalista e colaborador deste portal, Paulo de Tarso. Por dois motivos: primeiro, sua contribuição neste espaço com toda a sua maestria em discorrer sobre música e com seu refinado humor. Segundo, que um dos principais motivos da existência do Cidadão Cultura é a conexão, e quando estas conexões acontecem pela sincronicidade do Universo é bom abrir espaço para elas.

Foi assim que por Skype entrevistei os diretores do documentário Premê – Quase Lindo (2015), Alexandre Sorriso e Danilo Moraes. O grupo de música e humor que nasceu da Lira Paulistana, Premeditando o Breque, foi tema de matéria do Paulo de Tarso, aqui.  E foi através desta matéria que surgiu a oportunidade de conexão com eles.

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Como os mesmos disseram: a história do documentário começa como quase todas as histórias do grupo, em uma mesa de bar. Em um trabalho que faziam juntos, Danilo que é filho do Wandy, contava um fato sobre o Premê e entre risadas, Alexandre sugeriu fazerem juntos um filme. E assim começou a busca dos dois para montarem um acervo com as imagens de apresentações, entrevistas, etc., em uma pesquisa que começou em 2008.

“Sinto muita saudade do Premê e eles cada vez fazem menos shows, é cada vez mais raro de acessarmos. Buscávamos no YouTube e não saía nada, mas quando propus para ele, eu disse você vai ser o nosso HD da história, porque tudo que perguntava, o Danilo sabia data, todos os detalhes, formação da banda. Então eu disse que só ia entrar nessa se ele entrasse como diretor também, para ajudar a formatar com essa parte da riqueza da informação de saber o que era importante para banda e para o público. Buscamos esse equilíbrio de ser legal para banda assistir e bacana para o público que já conhecia, com curiosidades, imagens inéditas e cativar pessoas que não conheciam. Pelo retorno que tivemos foi muito melhor do que esperávamos, a gente conseguiu”, lembra Alexandre.

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Foram seis anos em que Alexandre e Danilo empenharam-se na busca pelas imagens e os arquivos do Premê. “No início era só eu e o Danilo e começamos o processo de ir atrás do que ia conseguir primeiro, sem grandes esforços como na TV Cultura, nas famílias, íamos também conseguir levantar fácil. E o Paulão Jacaré um fã que possui registros inéditos de muitas coisas. Esse início foi vamos ver o que a gente encontra e depois conseguimos um patrocínio pela Lei Rouanet e a partir daí conseguimos ir mais a fundo nas pesquisas de emissoras também de entender quanto custava direitos de imagens e de músicas que não eram deles”, explicou Alexandre.

Foi a partir daí que começaram a selecionar o que iriam adquirir devido aos valores dos direitos autorais e o que deixariam de fora. Este foi um dos momentos estratégicos do documentário em que Danilo foi preponderante para as escolhas. Muitos arquivos ficaram de fora do filme e ambos consideram que montaram apenas uma das possibilidades de cinema com o conteúdo que conseguiram reunir.

“O patrocínio proporcionou o que queríamos que era um filme só de imagem de arquivo e ficamos felizes com isso. As pessoas próximas ao Premê na época se identificaram e se viram, como um mergulho no tempo, as entrevistas dadas para a TV na época, 30, 40 anos atrás. É um mergulho na história, falando do presente voltando para o passado. Mas sem patrocínio é impossível fazer esse tipo de filme, imagens tem donos, músicas, então tivemos que optar. Isso foi realmente muito importante, sem patrocínio era outro filme. São 70 minutos só com imagens de arquivo e conseguimos dar a cara do Premê”, afirmou Danilo.

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Levantar todo este material foi o maior desafio que enfrentaram. “Levamos seis anos no processo todo do filme, não procuramos todo dia imagem, mas você contactava alguém com material, a resposta às vezes podia demorar até 10 dias. Depois tem que fazer a triagem e tudo tem seu tempo. Foi muito legal levantar esse material, vimos um monte de coisa, conhecemos mais o grupo e percebi que as histórias que contavam não era mentira, aconteceu de fato, até diminuíam as histórias”, lembra Danilo.

“Não queríamos entrar muito no presente, o grande barato era construir a história e entregar o que é hoje que foi o que fizemos. Temos mais dois arquivos. Hoje temos um acervo que o Danilo fala muito bem isso, não fizemos o filme do Premê, fizemos um filme, tem tantas possibilidades que a gente escolheu uma. Conversando chegamos nesse acordo e nesse caminho, tanto que no DVD tem 2 horas de entrevistas nos extras que não foram para o filme e são muito engraçadas, já é outro filme do Premê”, observou Alexandre.

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Premê – Quase lindo circulou pelos festivais no Brasil, mais especificamente os de documentário. “Fomos pra bastante capitais, mas para documentário musical brasileiro o espaço é pequeno. Logo mais iremos disponibilizar no YouTube, por causa do contrato de distribuição, mas queremos continuar e manter sempre a posição, quando faz filme você coloca na Internet, a gente quer que a pessoa possa ver e saber o que foi e o que é ainda o Premê. Este é um trabalho lento mas tem que ser duradouro”, destacou Danilo.

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“O som do Premê está muito atual ainda, questões políticas que falavam veladamente é muito atual, crítica mais aos costumes. É difícil definir o que é o som do Premê, uma busca e pesquisa musical mais aprofundada com isso dos arranjos, da experimentação, esse bom humor, é difícil porque para você entrar em um mainstream de mídia, a mídia tem que definir o que é, é um grupo de rock, concerto, choro? O Premê é um grupo engraçado, mas não é só isso e isso dificultou ter um sucesso maior como foi o caso do Mamonas Assassinas”, analisou Danilo.

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O título do documentário leva o nome do álbum de 1982, que tem um dos maiores hits do grupo, a música São Paulo, São Paulo. “Premê Quase Lindo achamos engraçado, é muito bom, ambíguo. Quase lindo é quase lindo mas é meio feio? É engraçado e é o nome do disco deles que fez o maior sucesso e o Premê estava a toda nessa fase. Então os nomes surgiram, queríamos música, pensamos em títulos que eles já tinham e que fosse a cara do Premê. Esse ganhou por unanimidade”, conta Danilo.

Para Alexandre, o nome do documentário surgiu de forma natural. “Na minha cabeça tem dois tipos de disco que acho sensacional, e um deles é o Quase Lindo, a gente chamou assim desde o início por conta de alguma coisa que alguém falou. Foi meio natural e ficou Quase Lindo o nome do trabalho, e lá para frente decidimos que era isso mesmo. Até chegamos a cogitar de mudar e alterar, mas para que? Para onde? Achamos que aquilo resolvia o que era o Premê, essa coisa do humor refinado”.

Aos interessados, o DVD está disponível para compra pela Internet e também pelo ITunes.

3 Comentários

  1. Opa, que bacana, Marianna! Ficamos muito felizes pela oportunidade de falar um pouco desse processo maluco que é fazer documentário no Brasil! Só para ficar claro, pelas nossas mãos, não irá para o youtube num futuro recente pois temos contratos de distribuição, coisa e tal… A ideia é, no dia em que não estiver mais disponível em nenhum meio, a gente, aí sim, disponibilize em um canal de vídeo para que todo esse registro não se perca no tempo e fique disponibilizado para as novas gerações! Bj!

  2. Minha cara menina talento. Foi muito legal poder voltar no tempo e homenagear. O “Premê” Não existe ninguém mais feliz do que eu em poder participar do “Cidadão Cultura ” Em frente é o brado dos que não se rendem a mesmice. Mais uma vez obrigado pela oportunidade de voltar aos tempos dos bons tempos.

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