*Por Flamarion Scalia

A tentativa de elevar o Ser, ode ao Carpe Diem

Admito que não é fácil abster de algo material, que muitas vezes tem um certo valor sentimental, que para um saudosista convicto como eu se torna uma tarefa ainda mais complicada. O fato é, abdicar de toda tralha velha para darmos uma chance às novas oportunidades. A tentativa de anular aquela vontade consumista incontrolável, o acúmulo descabido, a ânsia da posse em prol da vida simples, do desapego e das vantagens de direcionar sua potência energética para outras esferas fora do acúmulo e do consumismo demasiado, como por exemplo na prática da meditação e a vida contemplativa. Sim, meu caro, parece um absurdo tudo isso para nós ocidentais, que muitas vezes pautamos nossa existência mais no que temos do que de fato, naquilo que somos. É questão de prática, começa na mudança de pensamento e depois com um certo tempo a mudança de atitude quanto a isso.

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a busca da iluminação por meio da meditação

A tradição do Zen-Budismo, que tem sua origem por volta do século VII na China, que para alguns estudiosos o Zen conduz uma miscelânea entre a filosofia taoista e o budismo, na tentativa de elevar o ser a iluminação. O autor inglês Alan Watts em seu livro o “Espírito do Zen”, cita: “Assim como é impossível explicar a beleza de um pôr do sol a um homem cego de nascença, é impossível aos sábios encontrar palavras que transmitam sua sabedoria aos homens de menor compreensão.” Watts reafirma à luz dos estudos do Dr. Trigant Burrow: “É como esperar que a visão de um cardápio possa atingir e satisfazer o organismo de um homem esfomeado”. A grande dificuldade é a tradução e a compreensão ocidental da essência do Zen, pelo fato da imensa discrepância que há na concepção religiosa do ocidente e do oriente. Cumpre mencionar a palavra chinesa Tao, para a qual não se conseguiu até agora nenhuma tradução europeia. Os escritos originais budistas contêm pontos de vista e ideias mais ou menos inassimiláveis à compreensão ocidental média.

Um termo usado no Zen-Budismo é a palavra Satori, que é a percepção central de uma singularidade inigualável, que também pode ser entendida como iluminação. Satori é a razão de ser do Zen e sem ele não há Zen. “Uma vez libertados da falsa concepção do ser, temos em seguida de acordar a nossa mais íntima e pura sabedoria divina, chamada pelos mestres de Zen.” Cita Kaiten Nukariya, professor do colégio budista de Tóquio.

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imagem de uma estátua de Buda

As compulsões, o ímpeto de alguns excessos, os vícios da alma e do corpo, com a iluminação e o alcance do Zen, pode de fato anular-se caso haja uma introspecção na natureza do ser, que é uma emancipação do consciente da ilusória concepção do ser. Ora, a iluminação inclui uma visão da natureza do ser, é a libertação da mente das decepções referentes ao ser.

Tal proposta pode facilmente ser aplicada ao nosso cotidiano, à tentativa de dar valor as coisas simples da vida, da contemplação do céu no fim de tarde depois de um dia cansativo de trabalho, ou da simplicidade da companhia de alguém especial. Práticas que parecem não ter valor algum e que no fim é onde existe a verdadeira alegria de viver, o imenso prazer de existir apenas por perceber as coisas simples que são esquecidas no canto empoeirado.

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a busca da iluminação por meio da meditação Autor: Vincent Van Gogh Data (1888) Técnica: óleo em tela – Dimensões 93 × 73,5

Pensemos na profundidade que há na prática da vida simples, voltada para dentro, o uso do Carpe diem; expressão em latim que significa “aproveite o dia” ou ”colha o dia”. O artista holandês Vincent Van Gogh em sua imensa simplicidade retrata seu quarto em Arles, no sul da França, e escreve a seu irmão Theo após o término da obra: “Eu tinha uma nova ideia na cabeça e aqui está o seu esboço… desta vez, trata-se simplesmente do meu quarto, só que a cor se encarregará de tudo, insuflando, por sua simplicidade, um estilo mais impressivo às coisas e uma sugestão de repouso ou de sono, de um modo geral.” Vincent depois pinta uma cadeira simples, um cachimbo e um saco de fumo, dizia ele que a própria cadeira o representava, exprimia simplicidade.

14021686_1091795530910694_8286884284358915762_n*Flamarion Scalia - Jornalista (colunista), 28 anos, 
morador de Goiânia. Permaneço,desde criança, imerso na filosofia 
e atualmente na deliberação da reestruturação das diretrizes 
fundamentais da epistemologia tradicionalista que para mim, 
é demasiadamente reducionista. Estudante de Artes Visuais (UFG), 
design gráfico e um aprendiz nas artes plásticas. 
Entusiasta da proposta surrealista e da crítica Dadá.

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