Há sonhos recorrentes. Como um retorno a lugares conhecidos e situações semelhantes. Circunstâncias que se repetem, num roteiro com detalhes que revelam o mesmo ambiente. Nestes lugares revisitados as transformações aparecem num processo contínuo. E tem sentido a partir da memória dos sonhos anteriores.
Muitas vezes esses lugares passam por transformações profundas. Mas ainda assim são reconhecíveis. Os personagens que habitam esses lugares são também estranhamente semelhantes. Até mesmo os conflitos e as adversidades se parecem, transcendendo as histórias que se misturam. E o protagonista é sempre um eu perdido em busca de um lugar específico para abrigá-lo numa noite escura em uma floresta erma, onde não existem caminhos seguros, porque todos parecem esconder algum tipo de perigo eminente e misterioso.
As estradas se misturam em campos longínquos, fontes brotam entre pedras e musgos e roças cercadas surgem do nada cortando os caminhos que se transformam em trilhas arenosas amarelo azuladas e sempre a tarde cai e não existe um abrigo. Um lugar seguro onde descansar da longa caminhada.
No entanto, o medo não prevalece como um pensamento dominante, a estranha sensação de que algo maior nos protege parece superar os receios humanos. E assim suportamos aquele momento de absoluta insegurança, esperamos a grande noite passar para que a luz do dia revele novos caminhos, onde reconhecemos enfim uma rua acolhedora, uma casa que nos recebe com seus habitantes sentados ao redor de farta mesa. E o sonho acaba, como uma música interrompida e acordamos mais uma vez para um novo dia.

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