Parece que quando encaro a tela em branco as palavras me somem. O que quero dizer é que as vezes é difícil começar a escrever. A escolha do que dizer e do que deixar de dizer não é impune. Mas aos trancos e barrancos damos vida ao que consideramos como essencial e um dos propósitos deste espaço em branco é justamente este, ser preenchido com as possibilidades que acontecem aqui e no mundo.

As possibilidades se transformam em encontro, em conexão e depois se traduzem em palavras para compartilhar um sentimento, um sentido. E a equipe do Cidadão Cultura teve a oportunidade de fazer a primeira entrevista internacional para o TV de Quinta(L), com o músico e artista visual americano, Rashad Jamaal.

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De Pittsburgh, chegou até o Brasil através do contato com a produtora Bárbara Rosa, que o acompanha em tour com a apresentação do seu projeto solo intitulado Billy Pilgrim. Fomos até a casa de Babi para entrevistá-lo e apesar de alguns tropeços, tivemos uma entrevista muito bacana. Uma pesquisa rápida e me deparei com o clipe “Selfies at a Funeral”, achei interessante a composição das imagens e a música. “É meu primeiro trabalho oficial, estou muito orgulhoso”.

Mesmo com a barreira da língua, como o próprio Rashad diz: o português dele é praticamente inexistente, sua visita ao Brasil estava na sua lista de coisas por fazer. E Ziggy Sawdust que produziu o clipe acima foi a ponte para a conexão entre Rashad e Babi. Apresentou-se em Cuiabá, Mogi das Cruzes (SP), Goiânia e Anápolis (GO).

Em Pittsburgh tem um projeto chamado “Junk Foods” em parceria com o produtor DJ Thermus, e anteriormente estava em uma banda chamada Mega DEF (as músicas estão disponíveis para download gratuito). Também é cantor na banda punk “Killer Sheep”, gravaram um álbum e Rashad espera fazer outra tour quando voltar.

A música surge em sua vida na adolescência quando junto com primos fundam um grupo que se reunia para tocar e se divertir. A arte esteve presente durante toda a vida. “Comecei a levar a sério quando me formei na faculdade. Voltei e comecei a trabalhar com meu primo na sua companhia de vidro e isso me fez voltar a pintar e eu não parei mais, e aqui estamos”.

A vontade de vir ao Brasil nasce dos seus estudos culturais, formado em História com foco na América Latina e Caribe, Rashad queria conhecer a história dos negros no outro continente.

6861_10202014153417“Eu sei a nossa história na América, mas eu queria conhecer como viviam aqui. A escravidão na América Latina e no Caribe não só durou mais, como foi mais brutal do que em outros lugares. Eu não sou um cara religioso, mas eu gosto de estudar essas coisas e esses lugares são muito ricos em tradição, cultura, e essa relação com a África, estou tentando conectar todos os pontos”.

“Eu preciso da música e da arte por diferentes razões, servem para diferentes funções para o meu bem estar, é quase como terapia”.

Em contato com uma cultura estrangeira, mesmo com a barreira da língua, Rashad diz que a experiência da viagem está além de suas expectativas e emendou: “ainda não sei se quero ir embora”.

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Billy Pilgrim em apresentação no Malcom Pub

“Estar aqui e ver toda a arte de rua e como esta cultura não é realmente suprimida como onde estou agora em Pittsburgh, é lindo de se ver e é muita inspiração, estou tentando aprender tanto quanto posso”.

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Foto: João Fincatto

O intercâmbio acontece também com os artistas daqui. Em uma tarde em que dividiram silêncios e pinturas, Rashad teve esta troca de cultura com André Gorayeb, o Gora. E agora trabalha em uma música junto com André Coruja. E da qual a equipe do Cidadão Cultura orgulha-se de produzir o videoclipe (aguardemos novidades!).

“Estou em contato com alguns artistas. Meu português é realmente muito ruim, praticamente não existe, mas eu estou aprendendo. Minha primeira experiência foi com o Gora, e eu não me senti desconfortável, tivemos um tempo legal juntos, não conversamos muito, mas teve uma boa vibe, boa música, pintura, e faremos isso de novo. Estou feliz de ter tido a chance de quebrar o gelo e quero seguir adiante, claro”.

A arte é a língua em comum. É o que une e proporciona esta troca entre os artistas.

“Sobre a música, tem tantas coisas para falar, eu tento não me limitar, eu estava conversando com a Miss Rosa, sobre o poder das palavras e como as palavras definem o mundo em que vivemos, você tem muito poder e influência quando tem uma plataforma assim. E como temos muito a falar, penso que o que você escolhe falar pode limitar ou abrir uma perspectiva. Eu tento levar isso em conta quando faço o que faço e respeito, a comunicação não necessariamente precisa ser entendida”.

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Ao final da entrevista, gosto de repetir uma pergunta que é uma constante em nossos encontros pelo Cidadão Cultura: por que fazer arte?

“Porque eu preciso. Essa não é realmente uma questão. Todo o resto seria uma morte lenta, tudo é uma morte lenta, mas neste ponto da minha vida sinto que seria uma perda de tempo fazer qualquer outra coisa. É o que sinto que faço de melhor, trabalhar com as coisas que eu amo, fazer as coisas que eu amo, então, não é bem uma escolha, entende?”.

Para mostrar que está empenhado em aprender o português, Rashad ainda arriscou um “obrigado Cidadão Cultura”.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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