*Por Alessandra Marimon

Praças, parques, córregos, ruas, pontes, casas, prédios, pessoas, animais, plantas… o universo dessa cidade é tão vasto que eu poderia contemplá-lo o dia inteiro, não fosse a falta de tempo e o estresse do dia-a-dia, provocado por ele, o tal do trânsito. Ah, como eu gostaria de poder andar livremente, a pé ou de bicicleta, segura de mim, sem precisar me preocupar com carros poluentes e seus motoristas irresponsáveis, e poder apenas respirar o oxigênio liberado pelas tantas árvores da cidade, enquanto ouço o canto das variadas espécies de aves que compõem a fauna daqui.

Uma das minhas maiores vontades, quando vim morar sozinha em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, era ter meu próprio carro. Pensa só o tanto de lugares que eu poderia ir a bordo de um veículo de quatro rodas! Chegaria tão rápido, sem derramar uma única gota de suor, apenas curtindo uma música e conversando com meus amigos. Uma pena que a realidade não é tão colorida assim. As desvantagens de se ter um carro são infinitas, já que polui (alô CO2, dá uma trégua para o efeito estufa aí, vai), te estressa por causa de congestionamentos e motoristas, te faz correr inúmeros riscos (até de morte!), te deixa mais sedentário e, enfim, faz o suado “dindim” voar longe, além de tantos outros motivos.

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Então, tive que me contentar em me virar com ônibus. O transporte público é essencial para a maioria da população, que vive verdadeiras “aventuras” ao usufruir deste meio. Mas enfrentar o cotidiano dentro desse gigante do asfalto não é nada fácil, principalmente quando se é mulher. Ao entrar lá dentro, ficamos espremidas contra dezenas de desconhecidos e é difícil de escapar, ainda mais quando aquele cretino abre tanto as pernas que invade o assento em que você está, ou quando o tarado insiste em roçar na sua pele, enquanto te olha com “fome”. Motoristas loucos que acham que estão em uma corrida de fórmula 1 não são raros. Pessoas de todo tipo que te pisoteiam também não. E você ali, sofrendo com ônibus lotado, muitas vezes velho e sem segurança, além de esperas intermináveis nos pontos e terminais de ônibus escuros e mal cuidados. Enquanto isso, os empresários desse transporte se esbaldam em rios de dinheiro.

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A verdade é que mobilidade urbana não é prioridade no país tupiniquim. Educação no trânsito, algo ainda distante das escolas e da nossa cultura, é extremamente frisada na Holanda, por exemplo. A terra das tulipas, famosa também pelos seus ciclistas de plantão, nos dá um ótimo exemplo de como a qualidade de vida está diretamente ligada ao ato de pedalar. Lá as crianças são ensinadas desde pequenas a como se comportar no trânsito, seja de carro, bicicleta ou a pé. E a “bike” é preferência entre esse povo, que soube investir em infraestrutura e criou mais de 20 mil km de ciclovias em todo país. Como gostaria de poder andar de bicicleta até a faculdade ou trabalho, protegida do calor pelas árvores e sem ter medo de ser atropelada!

Carro é sinônimo de conforto e isso todo mundo quer, mas a situação da mobilidade urbana é cada vez mais caótica e carecemos de soluções imediatas. Sabemos que o luxo desse automóvel é para poucos e a maior parte da população depende do transporte público, então por que nossos governantes não investem nessa área e em alternativas como a bicicleta ou, às vezes, até o carro elétrico? Acredito, no entanto, que os interesses políticos e econômicos só serão ignorados quando a natureza continuar mostrando sua força em uma proporção cada vez maior, o que não deve demorar tantos anos para acontecer. Sinceramente, cansei disso tudo. Tenho muito medo do que terei que dizer para os meus futuros filhos. Quero respostas. Quero soluções. Já.

*Alessandra Marimon é jornalista, escritora e feminista. 
De alma flutuante e sem fronteiras, enxerga o mundo como sendo o seu país.
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Jornalista mato-grossense formada pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e aluna de mestrado no programa de Divulgação Científica e Cultural da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

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