Volta e meia um ou outro, um e outro, não importando a ordem ou a desordem de como isso aconteça, integrantes do lendário grupo Caximir se juntam para reacender a chama que os inflama e faz transpirar de criação.

O grupo Caximir já teve até quinze participantes em uma apresentação, logo no início, o nome do grupo na ocasião era Bandugira. Foi em um evento no Clube Feminino, Cuiabá, no começo dos anos 80, Mecânica da Palavra, produzido por João Sebastião e Juarez Compertino. Foi um marco aqui na capital do cerrado. Inaugurava-se nos salões oficiais a anarquia libertária e saudável de jovens artistas que imprimiam uma linguagem mais urbana, contemporânea, um franco diálogo e escracho com as vanguardas, com as experimentações artísticas que rolavam no Brasil e no mundo. Novas formas e meios inexplorados até então no meio cultural cuiabano que tinha no regionalismo sua expressão mais contundente. O Mecânica da Palavra contou com outros grupos, como o Grupo de Risco, de Chico Amorim, Lorenzo Falcão, Fátima Sonoda, Munir Nasr, e outros companheiros. Surgiu ali o embrião do Caximir. Não dá para esquecer do entusiasmo do Maurício Leite: -Vocês fizeram a revolução moderna em Cuiabá. Não podia perder a ocasião e ironizei: – Pô, bem atrasado, hein? Há sessenta anos atrás a turma de 22 escandalizava o Brasil com seu nacionalismo europeizado, com Oswald bebendo do Futurismo de Marinetti e outras expressões da vanguarda europeia. Importava a transgressão e com humor e ironia Serafim Ponte Grande fez o papel da vez, fez a ponte para o Tupi or not Tupi, Manifesto Antropofágico e outras.

Mas cá estamos em 2017. De novo, outros integrantes do núcleo se rearranjam e se lançam na boca da plateia. Fico a imaginar o que esses caras, Luiz Renato e Amauri Lobo, vão apresentar agora? Sinto uma ponta de curiosidade. Penso que vou lá ver e saber do que se trata. Ando numa fase louca de ir a poucos espetáculos e muitas impaciências. Fato é que depois de uma experiência devastadora e vulcânica como a do Caximir, o que resta na floresta? Pergunta chata e incômoda. Algo me diz que os limites que a gente impõe pra gente mesmo são frutos de nossa preguiça ou falta de imaginação. Nada pode delimitar uma história e decretar sua morte antes da prova definitiva, enquanto há vida há jeito. Então enterre o morto e faça-se o defunto. Mas os caras estão aí vivos produzindo criando e tals. Importante é não parar dizem os mais atentos e persistentes. Outros nem ligam. Importante é viver do jeito que vai indo e não nadar contra a maré, dizem alguns despreocupadamente.

O encontro de Amauri Lobo e Luiz Renato já vem de longa data. Apresentei-os, um ao outro, lá pelos anos de 1982, quando começamos a incendiar esse pedaço de chão com publicações poéticas, quadrinhos, performances, intervenções urbanas, vídeo arte, rock, era um bando que agitava a cena em Cuiabá, na época.

Mas é natural agrupamentos e reagrupamentos quando se viveu uma experiência em que foram reunidas tantas cabeças criativas e pensantes. Do núcleo anarco-criativo saíram muitos trabalhos, solos, duos, trios, bandas e bandos sempre flertando uns com os outros, sempre inventando uma coisa diferente. Lembro que Antônio Sodré, pouco antes de morrer, alimentava fortemente o desejo de uma volta do Caximir. Ele provocava, instigava, queria retomar aquela vivência explosiva criativa e anarco-poética. A poesia era o alimento para nossas vidinhas de poetas do interior do Brasil. Sempre flertamos com os grandes movimentos nacionais e ficávamos aqui no fim das contas. Estávamos marcados pela capital de Mato Grosso para sempre, aqui sempre foi o nosso lugar.

Segundo exposto no release que já deve estar circulando por aí, recentemente os dois se reencontraram como professores no IFMT. Luiz ensina linguagem, Amauri atua em sociologia. Luiz lançando mais um livro, Amauri com trabalho musical nas mangas. Encontro fatal, os dois decidem lançar um trabalho de música e poesia que traga toda esta carga do passado, mas sem ficar nele. A aposta é no devir. Surge o “Daqui Pra Frente”.

O lançamento será nesta sexta-feira, às 20h, no Espaço Magnólia. Tudo pode acontecer.

Com a hospitalidade tradicional de Creuza Medeiros e serviço do Betit Café, serão duas horas de música, poesia e, é claro, algumas surpresas.

O que: Daqui Pra Frente. Música e Poesia, com Luiz Renato e Amauri Lobo (autoral).

Onde: Betit Café. Espaço Magnólia (Rua 24 de Outubro, 949, Centro Norte),

Quando: 06 de outubro (sexta-feira), 20h.

Entrada franca.

Informações: 99938-4834 e 99974-9293. Facebook.com/espacomagnoliacba

2 Comentários

  1. teve paulé on percussion esses dias com balbino na viola e vocais-viola da Lieb…vc esqueceu…e la nave va…massa demais..vacilamos em não realizar o sonho do Sodrézin…teria sido uma boa oportunidade da galera que não viu.. sentir a vibe.

  2. Verdade Pauleh, são vários reagrupamentos, só que me lembro aqui, br364, gtw,, nihdog, osviralata, os beneditos, livros solos, teatro, recitais, sarau das artes free, caramba, eh muita coisa, vídeos como cerimônias do esquecimento com vários caximirs na parada, & outras mais…

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