Não há mais tempo para desamor

Como uma andarilha da poesia, ela percorre seu caminho com arte. Nestas andanças pelo mundo sentiu a necessidade de carregar consigo o sentido do seu existir, levar a sua poesia materializada em páginas que pudessem contar a sua história. Foi assim que Jade Rainho reuniu uma coletânea com seus poemas de 2009 a 2015 no seu primeiro livro “Canção da Liberdade”.

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Foto Cla Virmond

Em encontros com outros artistas percebeu que precisava ter algo físico com a sua própria arte. O desejo de nascer o livro surgia. Mas, não era simplesmente mandar as páginas escritas para a impressão. Jade queria que o livro traduzisse a sua experiência de vida, a sua vivência em ir além do consumismo, em pensar nos processos de produção e como dar um toque pessoal.

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Foto Allyson Alapont

Juntos somos imensidão

Quando morou em Berlim na Alemanha, Jade descobriu como fazer seu próprio papel. A confecção do papel começou através do papelão. “Na Europa o lixo é todo separado, então eu descia do prédio e encontrava o que precisava para confeccionar o papel de maneira sustentável e reciclável”, contou.

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As poesias estavam ali para nascer no papel feito pelas suas próprias mãos. “Não queria que o livro fosse impessoal, esse processo de mandar pra gráfica e receber pronto”.

Um amuleto. Assim define o próprio livro. Sagrado. Com uma aura mágica de encantamento.

O carimbo do pássaro marca a capa da “Canção da Liberdade” enquanto ela assina os exemplares durante o lançamento realizado em São Paulo no dia 13 de maio. Agora, como todo bom filho retorna ao lar, Jade vem à Cuiabá neste sábado, 20 de maio para lançar o livro, no Espaço Magnólia às 17h.

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Fotos Allyson Alapont

Toda vida é uma obra de arte

Durante a nossa conversa informal, sentadas no chão do apartamento da minha irmã em São Paulo, Jade discorre sobre o seu caminho. De aldeias indígenas às maiores urbes do mundo, ela perpassa a vida com poesia e arte. No processo de fazer o livro, perdeu a mãe. “Perder a pessoa que eu mais amo na vida foi muito difícil. E ela sempre me incentivou a publicar o livro. Depois que tudo aconteceu, com ele hoje materializado, e amanhã (um dia depois do lançamento) dia das mães, então eu sinto ele como um amuleto mesmo, algo sagrado”.

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Foto Allyson Alapont

Toda a sua poesia está ali, todo o seu amor, a sua crença em como o mundo pode ser um lugar melhor através da arte. Ela lembra do seu primeiro documentário “Flor Brilhante e as cicatrizes da pedra” (cheguei a escrever sobre ele aqui), e que tê-lo em mãos foi essencial para distribuição na Europa. “As pessoas lá tem essa cultura de consumir arte, de comprar, então é diferente daqui, e você ter a sua arte em mãos te dá a possibilidade de vender, trocar, enfim, viver disso com dignidade”.

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No lançamento em São Paulo, Jade contou com a minha irmã Isis Talita, que deu o seu toque para trazer mais magia à noite da amiga: a comida foi feita pela Kiki Kituteria. Foto Allyson Alapont

Jade chegou em nossas vidas há muito tempo. Muitas vezes abrir a porta de casa para ela é como abrir uma janela para outro universo. Com suas roupas coloridas e com um instrumento musical para nos encantar com seus acordes, sinto sua presença como a de uma entidade artística, uma verdadeira bruxa. Nesses encontros, percebo a força feminina, nós, mulheres, que já fomos queimadas, amordaças e silenciadas, encontramos no voo da arte, a liberdade para ser e criar.

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“Para Jade, os livros são objetos mágicos, capazes de ressoar além de seu tempo e abrir janelas da Alma. Por isso, a cópia física de “Canção da Liberdade” foi desenvolvida ao longo de uma pesquisa de materiais e processos gráficos, buscando combinar, de modo sustentável, a produção artesanal e industrial. O resultado é o projeto criado junto ao editor Gabriel Kolyniak, em que cada exemplar leva na capa o toque pessoal e único da arte desenhada e carimbada pela autora. A publicação sai pela Editora Córrego, que distribui no meio independente e publica poetas de todo o Brasil, ao lado de grandes nomes como Roberto Piva, Claudio Willer e Roberto Bicelli”. 

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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