Eduardo Ferreira com Inker Agência Cultural

A produção artística e cultural que vem rolando pelas bordas de um Brasil que não enxergamos é maior do que o que vemos. Muita gente boa vem produzindo pelas beiradas, nos escombros de um país que privilegia grupos ou faixas de artistas que são basicamente business e entretenimento. Quando alargamos o olhar podemos perceber uma produção subterrânea que coloca nossa arte num plano de diálogo com a arte contemporânea de qualquer cidade ou país, desmistificando a visão periférica que têm sobre nós de um ponto de vista bastante negativo e diminuidor da importância. Mas talento aqui sobra. E os diálogos com as linguagens planetárias estão na ponta dos cascos, numa forma bem direta e grosseira de dizer que estamos nos lixando pra essa promiscuidade avassaladora dos retentores da indústria cultural e dos meios de circulação e do pensamento crítico. Nada o que temer, nada que nos rebaixar, ao contrário, precisamos afirmar nossa universalidade e nossa poética que não deve nada a ninguém ou a nenhum lugar. Essas elites toscas e concentradoras já não tem lugar no mundo novo. Isso já era. As verdades estéticas morreram com as vanguardas, estão pulverizadas e as poéticas estão livres de amarras. Temos nossos próprios meios de criação e de circulação.

Digo tudo isso para falar de Sandra X de São Paulo que tem um trabalho de primeira, altamente qualificado para frequentar as hostes contemporâneas. Foi-me apresentado seu trabalho que me remeteu a tantas coisas boas, de referências fundamentais na cultura pop da música eletrônica das últimas décadas. Um trabalho artístico de pesquisa e linguagem criativa.

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Foto: Cacá Bernardes

Turbulência (2016) seria autoexplicativo se não apresentasse muito mais que um turbilhão de sensações. Em oito faixas de seu primeiro trabalho solo, a cantora e compositora Sandra Ximenez, conhecida como Sandra-X, mescla performance de spoken word com música experimental eletrônica.

De sonoridade extremamente urbana, provocativa e sensorial, Turbulência explora timbres, texturas e une música e literatura pela lógica do hipertexto. A voz etérea e interpretação singular de Sandra-X conferem um clima intimista para as faixas, com bases eletrônicas produzidas por ela em conjunto com Felipe Julián, seu parceiro de palco.

Sobre o uso da spoken word, a artista afirma que é quase um processo cíclico: Sandra revisita as matrizes da música chegando à palavra falada enquanto o canto volta a ser poesia como forma de expressão contemporânea. “Quando você fala, você ganha mais atenção do que quando canta. É uma experimentação relacional”, comenta a cantora. Ela se inspira no slam poetry, nos saraus e em artistas como Laurie Anderson.

Em seu site a cantora disponibiliza web vídeos que ilustram as faixas do disco, alguns deles provenientes das performances do Coletivo Dodecafônico. Ao vivo, Sandra-X toca quem a ouve em uma apresentação audiovisual: se ocupa dos vocais e mixers, fala peças musicais do álbum, lê trechos de textos filosóficos e interage corporalmente com o espaço. Felipe Julián completa a experimentação com projeções surrealistas de videomapping, dialogando diretamente com a música, o espaço e o público.

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Foto: Cacá Bernardes

Sobre Sandra-X

Cantora, compositora e performer, Sandra Ximenez já acumula trinta anos de carreira nas artes e um vasto currículo, com trabalhos autorais nos grupos Vésper Vocal, A Barca e Axial – este último, em parceria com Felipe Julián, onde atua também na criação e operação ao vivo de trilhas sonoras para dança e cinema. Atualmente integra o Coletivo Dodecafônico, realizando performance e intervenção urbana. Com Axial e os demais grupos, participou de festivais e turnês pelo Brasil – promovidos pelo SESC ou por meio de prêmios, fomentos e editais, como o Tim Festival e Projeto Pixinguinha – e também pela Europa, entre eles com o Axial ao lado de Naná Vasconcelos para o evento Copa da Cultura de Berlim. O Axial ganhou o Prêmio Catavento na categoria Música Experimental, da Rádio Cultura, pelo Conjunto da Obra.

Por meio da persona Sandra-X, iniciou seu primeiro projeto solo intitulado Turbulência (2016) no Cine Performa da Red Bull Station em 2015. Durante o processo de criação, participou de performances lítero-musicais com o Projeto Baião de Spokens, pelo Circuito SESC de Artes, Festival de Inverno do SESC-Rio e SESC-SP, com participações de Alice Ruiz, Alzira E., Arrigo Barnabé, Kiko Dinucci, entre outros.

Participou também de eventos de performance, música e literatura como o Seminário Vozes Performáticas, da USP, a Mostra ObsCENAS, o Seminário Nacional de Pesquisa em Arte e Cultural Visual de UFG em Goiânia, o projeto ExperimentaSom no SESC Sorocaba e o Cinerama no SESC Campinas.

Este ano, Turbulência vem com lançamento de álbum apoiado pelo ProAC , com composições de Sandra-X, produção musical e audiovisual de Felipe Julián, pelo Selo Fonográfico Circus, acompanhado de livro de imagens criado pela artista Vânia Medeiros, que  assina também a arte do álbum, e site desenvolvido por Papá Fraga.

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