Que venham outros momentos como esse que rolou no Foto na #tchapa, o primeiro passo para uma longa jornada. O encontro foi de uma simplicidade encantadora, de guerrilha cultural, uma zona autônoma temporal, um temporal de energias se encontrando e gerando atividades, um sopro de novidades em movimento. Todos querendo um modo de vida em que compartilhar e somar são login e senha para um mundo diferente.

O fotógrafo Márcio Pimenta foi o convidado desse primeiro encontro via Skype, com um note, uma tv, um microfone, uma sala e pronto. Quase trinta pessoas se debruçaram nessa tarefa de Sisifo, subir ao topo para cair e subir novamente e cair… ad infinitum. Mudam as tecnologias e o ser humano permanece o mesmo.

Foto: Fabrício Chabô
Foto: Fabrício Chabô

Mas, vamos em frente, para trás agora, para seguir adiante e remontar os cacos de uma história mal fadada, mal engendrada, mal ajambrada. Tem que pular o alambrado e jogar o jogo no mesmo campo, correr pelas beiras para furar a retranca, no jargão futebolístico.

Uma ideia de Marianna Marimon e Lucas Ninno, realizada pela equipe do site Cidadão Cultura, (que vem se desenhando muito mais como um catalizador de diversos movimentos vivos e orgânicos que vem emergindo em Cuiabá e em outros lugares) provocando fotógrafos, jornalistas, artistas e filósofos, para um debate sobre o fotojornalismo, em tempos de mídias ninjas, livres, onde todos fotografam, registram, gravam som, imagem em movimento, onde todos vivem, literalmente, um pós big brother orweliano, já estamos bem a frente, tudo coligado, convergindo em multimídias móveis.

A partir da experiência do Márcio, que mostrou trabalhos seus, como a sequência sobre os haitianos migrando para o Brasil, um projeto mais amplo, um ensaio fotográfico documental que exige tempo, recursos, saúde, mobilidade, equipamentos, enfim, é um trabalho árduo. O Márcio me pareceu de uma sinceridade e dignidade singular. Absolutamente naturais nele, e uma coragem que só os mais ousados conseguem. Se livrar das amarras de sua zona de conforto e provocar novos movimentos de vida, política, jornalismo e arte, tudo numa pegada de entrega total para conseguir realizar seus trabalhos.

This photograph shows the status of one of the houses of the rural village Bento Rodrigues, Mariana, Minas Gerais, Brazil, 12/09/15. "The noise was deafening. Iron noise twisting, glass being broken, trees being uprooted from the ground, the cry of the people ... and all being dragged without any resistance, "says Mr. Vandir, a local resident. He and his family survived the tailings slurry tsunami caused by dam break in Mariana (MG, Brazil) - Foto: Marcio Pimenta
This photograph shows the status of one of the houses of the rural village Bento Rodrigues, Mariana, Minas Gerais, Brazil, 12/09/15. “The noise was deafening. Iron noise twisting, glass being broken, trees being uprooted from the ground, the cry of the people … and all being dragged without any resistance, “says Mr. Vandir, a local resident. He and his family survived the tailings slurry tsunami caused by dam break in Mariana (MG, Brazil) – Foto: Marcio Pimenta

Márcio Pimenta ficou chocado com a experiência radical de fotografar os destroços de Mariana após a lama de dejetos químicos e industriais que lançou as pessoas num inferno. Desolado diante das fotos, ele confessa que foi muito mais forte rever as fotos, que estavam ali impregnadas de morte e abandono. Isso o chocou de tal maneira que passou a ver tudo de outro modo.

O encontro vai abrir uma série em sequência, com outros segmentos e temas, mesmo a fotografia novamente, que ao que já soube, tem gente articulando para que rolem outros encontros de fotografia Foto na #tchapa, todo mês e no futuro, quem sabe, a cada quinze dias. Em outros espaços, circulando pela cidade pelos quintais, salas de associações, clubes, espaços culturais, praças, circos, etc.

A idéia é essa, espalhar encontros e propiciar o surgimento de alternativas locais e globais para minimizar os desastrosos efeitos do capitalismo e os estados de marginalidade gerados, que, para nós, são os frutos vivos das novas possibilidades. Ingênuos ou não, é preciso amar.

Fico feliz demais com isso que está se mexendo nos escombros da vida. Algo que pulsa e anima para que novas atitudes surjam. Basta se mexer, não deixar de fazer, para as coisas acontecerem.

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