Por Antonio Torres Montenegro*

Por volta de 2013, um motorista de táxi me dizia em Montevidéu que uma das suas decepções com o governo do então presidente Pepe Mujica era ele não ter cumprido o que prometera em termos educacionais. Depois, li a entrevista do próprio ex-presidente em que reconhecia não ter alcançado seu objetivo no plano educacional. Gostaria de um dia entrevistá-lo para conhecer as razões que o impediram de realizar seu projeto. Quais as forças políticas, culturais e econômicas barraram um novo projeto educacional para o Uruguai? Projeto que certamente teria ampla ressonância na América Latina.

Hoje, muito mais do que em outras épocas, as pesquisas no campo da neurociência, da linguística, da antropologia, da história, da pedagogia, da psicanálise entre outras áreas do conhecimento apontam que somos o que aprendemos. Afinal, diferente dos animais e plantas, não temos natureza, ou seja, não somos capazes de nos tornarmos ‘humanos’ por meio apenas das condições naturais que garantam nossa sobrevivência.

Sem o contato com outros humanos não aprendemos a linguagem e, por extensão, a cultura que constitui nossa subjetividade coletiva e individual, associadas e inseparáveis. Afirmo sempre em minhas aulas: “questionem sempre o discurso daquele que afirma: sou assim, essa é a minha natureza”. O que ele/ela está realmente dizendo é “aprendi a ser assim e não desejo mudar”. Além do mais, nem a natureza é imutável.

É em razão do atual estágio do desenvolvimento do conhecimento no plano cognitivo/social/cultural/científico que a educação básica e fundamental de qualidade é condição necessária a uma sociedade que se projeta para os desafios do futuro. Nesse contexto, o profissional da educação de todos os níveis necessita de um permanente processo de atualização e aperfeiçoamento, haja vista que o conhecimento se inventa e reinventa a cada dia. Esta qualificação necessária, constante e permanente diferencia essa profissão de diversas outras.

Entretanto, o Brasil ao estabelecer o piso salarial de professores de R$ 2.455,35, com jornada de 40 horas em 2018, aponta que esta profissão é tratada pelo Estado brasileiro como de muito pouca importância. E para revelar a amplitude da gravidade do problema, em 2017 mais da metade dos Estados brasileiros sequer pagavam o piso salarial aos professores.

Do meu ponto de vista, ao se aprovar uma nova Base Nacional Comum Curricular,  sem enfrentar a questão salarial compatível com a qualificação que a profissão do professor obriga, é continuarmos de costas para o futuro.

*Antonio Torres Montenegro Professor Titular do Departamento de História da UFPE.

*Publicado no Jornal do Commercio (PE) em 11/01/2018

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