*Por Lucas Rodrigues

Considerado um dos maiores vocalistas da atualidade, o cantor norueguês Jorn Lande já pode se orgulhar pelo lançamento de um dos melhores álbuns de metal de 2015.

freedvdcover_jorn-lande-trond-holter-dracula-swing-of-death-japan-inlayEm uma dobradinha inusitada – mas muito eficiente – com o guitarrista Trond Holter, o disco “Drácula – Swing of Death” tinha tudo para ser mais um misto de clichês com mais clichês: tema conceitual, dueto com vocal feminino e baseado em um clássico da literatura.

Ledo engano. Quem esperava a frustração de passagens intermináveis, invencionices sem sentido e firulas típicas de álbuns conceituais, tem aqui uma grata surpresa.

Confesso que, a princípio, a voz de Lena Fløitmoen Børresen não me agradou muito no álbum. Em novas audições, percebi que era puro recalque por querer que Jorn cantasse mais refrões, pois ela mandou muito bem no papel de Mina, a noiva de Drácula – no caso, Jorn.

Como um todo, o disco faz uma releitura de alto nível do conto lançado por Bram Socker, em 1897. Jorn Lande não só canta furiosamente, mas interpreta com maestria todas as angústias, fúrias e emoções de seu personagem.

O instrumental não deixa por menos, unindo a técnica com a obscuridade e o feeling que o conceito do álbum exige (e feeling é uma qualidade cada vez mais rara no metal atual, infelizmente).

Trond Holter não só se destaca, como é praticamente a cereja do bolo. Sabe aquela música ótima, mas aí no meio da canção vem aquele solo com 50 mil notas por segundo, que parece que colocaram ali só para encher espaço? Pois é, aqui isso não ocorre.

Nada de Trond Holter neste álbum está só por estar. Seus riffs e solos produzem agonia, tristeza, esperança, desespero, e, como no caso de “Queen of The Dead”, chegam ao ponto de serem melhores que a própria música em si – o detalhe é que a canção é ótima.

Swing of Death começa com a soturna “Hands Of Your God”, com ritmo lento e efeitos sonoros típicos de introdução (raios, trovões), para dar entrada a uma das melhores faixas do álbum.

“Walking On Water” tem, sem sombra de dúvida, a melhor pegada e o melhor refrão do álbum. O solo não fica por menos e proporciona uma mistura perfeita de hard rock e power metal.

A faixa título do álbum inicia em uma ambientação mais “vampirística”, lembrando um baile de elite dos anos 30. Não demora muito para se tornar um hard dançante, com vocais de apoio e um refrão cativante, sem perder o peso.

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O baile inaugura de verdade em “Masquerade Ball”, quando Drácula passa a seduzir Mina. Piano fúnebre, muitos bumbos, e Jorn usando a versatilidade vocal para alcançar seu objetivo: sugar o sangue de Mina e traze-la ao seu mundo.

As mudanças impactantes de sonoridade ao longo da música são fantásticas. Jorn passando de cavalheiro a “sou eu quem manda nessa porra”, em abruptos segundos. A atmosfera de mórbida sedução evolui para uma perseguição pesada e implacável pelo sangue de sua amada, com direito a efeito da “chupada”. Segue então um solo de bandolim/violão nylon nas cordas agudas (?) com castanholas, segurado pelo peso encorpado das guitarras e frieza do piano, instrumento que termina a faixa da mesma maneira como a começou.

A segunda metade de Swing Of Death é praticamente dominada por Lena Borresen. Jorn Lande faz uma pontinha em “Save Me” e um dueto em “Rivers Of Tears”, mas sempre deixando o principal no controle de Mina. Nesta faixa, inclusive, Trond Holter faz um dos solos mais cativantes do álbum.

“Queen Of The Dead” é perfeita do início ao fim. Sinos, violões e um piano fúnebre para falar da Rainha da Morte. Condensando lamúria e força, Jorn Lande exalta Mina com um refrão tão poderoso quanto sua voz, antecedendo os dois minutos finais reservados a Trond Holter. Por sua vez, este último faz um verdadeiro festival de guitarra, com um solo veloz, grudento e matador.

Jorn-Lande

Um novo dueto ocorre em “Into The Dark”, com um refrão marcante e Jorn encerrando a canção mostrando seu impressionante alcance e potência vocal.

O show de Trond Holter continua na faixa True Love Through Blood, um instrumental feroz e direto ao ponto. “Under The Gun”, apesar de boa, não se destaca entre as demais.

Uma versão mais light de “Hands Of Your God” encerra o álbum. Talvez o disco desagrade quem não curte vocais femininos mais “doces” no metal. De resto, a união de grandes músicos em um projeto sólido, empolgante, bem executado e que faz jus ao clássico no qual se baseia.

Line up:

Vocais: Jorn Lande e Lena Floitmoen Borresen

Guitarra: Trond Holter

Baixo: Bernt Jansen

Bateria: Per Morten Bergseth

*Lucas Rodrigues é jornalista, ator enferrujado, aficionado pelo Metal e suas vertentes. Ama espetacularizar o cotidiano

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