Por Sika*

“O MUNDO ESTÁ PERDENDO A SENSIBILIDADE!” – gritou ela aos quatro ventos após uma frustração interna.

Tola. Logo depois de uma breve reflexão, percebeu-se que o mundo sempre foi essa bolha de ignorância, e que ela é quem estava equivocada. Quem era ela para questionar a ‘ordem natural das coisas?’

Se formos olhar nossa história, nada dela foi construído com sensibilidade. E, aqueles que ousaram em colocar o coração à frente da razão, foram taxados de loucos humanistas, que valorizam a vida demais.

O que importa a vida? Ela que sempre foi descartável aos que tentaram ultrapassar determinados limites, impostos conforme o seu tempo.

Dignidade então, esqueça. Porque ela pode muito bem acabar amarrada em um poste, humilhada, amordaçada e julgada. Sem ao menos ter o direito de se defender ou falar o que pensa sobre as coisas.

E, assim, que se dane os nossos princípios. Precisamos de soluções imediatas, mesmo que alguns sejam injustiçados e algumas vidas se percam por aí.

E se algo mais trágico acontecer, ainda é possível fazer uma piada disso tudo. E gargalhar infinitamente, com a mão debaixo da barriga caída, obesa de arrogância.

O bom do brasileiro é ser assim, criativo. Ter o dom de rir da desgraça, seja ela qual for. Afinal de contas, somos a terra da alegria, que conta com bundas, carnaval e futebol. Empilhados com um monte de merda estridente.

Eu quero segurança, porra! E realizar meu desejo de sair pelas ruas com diferentes carros blindados, para que nenhuma bala perdida atravesse o meu corpo. Mas acho lindo armas de fogo. E me deixa ter o direito de ter uma no meu porta retrato. Na minha memória seletiva, que só vê o bem onde julga ter. Não pelo que é.

Afinal de contas, o que importa analisar demais os lados da moeda? Para com essa chatice de discordar com tudo! Isso mesmo, C-H-A-T-I-C-E! Mania feia de questionar, mulher!

Não preciso nada disso para ser feliz. Aquela revista já pensa por mim. Não é à toa que a pago mensalmente para ter ideias feitas, ideais feitos, princípios feitos. E se estiver difícil demais, compartilho alguma notícia falsa que satisfaça meu ego e muito mais o meu rancor por quem pensa diferente de mim.

Gosto assim. Desta sensação de ter o mundo formado conforme observo minha vizinhança. Aquele cachorro esbravejando atrás do portão, o casal que quebra os pratos atrás da parede e as crianças enfurnadas no celular. Todas dentro de suas devidas residências, enjauladas com grades, cercas elétricas, câmeras e espinhos de aço. Seguras deste mundo violento, cheio de gente esquisita.

Esquisitos e maltrapilhos. Que na maioria das vezes são pretos e de dentes cariados. Quero a morte! Este ser, que só enxergo quando convém. Na real, não consigo enxergar invisíveis, e nem tenho interesse de saber quem eles são e qual a história de cada um. Para mim, leis são leis. E estou dentro do meu direito civil, como bom pagador de impostos que sou. Não é crime ter ‘opinião’.

E assim caminho com o meu coração pulsante, verde e amarelo. Com gritos de ordem e progresso, sem ao menos saber qual o significado disso tudo. O importante se movimentar conforme a dança, bater continência dentro de uma sabedoria de dar inveja aos porcos.

Fé em Deus e no nosso senhor Jesus Cristo, que me deu o conforto de uma vida boa. Ser feliz e ter oportunidades é o que há! Mas ai daquele que vier protegendo pobres, leprosos, prostitutas e bandidos. Essa onda de pregar o amor entre os seres já está ultrapassada demais.

E, reforço. Larguem de ser chatos e radicais. Vocês precisam é rir de piadas racistas, homofóbicas, machistas e violentas. É fácil. O mundo já está horrível demais para repensar todos os conceitos novamente.

Sempre foi assim e sempre será, menina boba.

Sem sensibilidade.

*Sika é jornalista, artista plástica e extremamente sensível. Que bosta!

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