Por Glauber Lauria*

 

-nadas?

-eu não nado

-te afogas?

-em tudo

-brincas né?!

-outra cousa não faço

-então por que não brincas n’água?

-não posso dar-me ao descuido de morrer sem ter sentido nada

-esquisito tu

-por quê?

-pareces sisudo, mas és divertido

-palavras são minha água, nadar nelas meu tudo

-tenho que ir, outros me gritam

-por que viestes aqui?

-parecias estar sozinho

-sei…

-tu me agradas…

-teus amigos te gritam

-não sabes meu nome

-sou infeliz

-já mudastes tanto, parecias ser mais divertido

-a alegria é um contraste, deus não a faz rindo

-mas voltastes a rir

-teu riso me deixa embevecido

-meus amigos me gritam

-deixe por um momento teus amigos…

-posso sentar-me ao teu lado?

-desde que não te critiquem

-és curioso…

-nem um pouco metafísico

-o que é isso, falas difícil

-é como comer chocolates pequena suja

-o quê?!

-calma, foi um poeta quem disse isso

-não gostei do teu poeta

-é possível que nem ele mesmo gostasse de si

-gostas de ler?

-muito

-fale um poema pra mim!

-mais vale o amor depois do suicídio

-cruzes!

-arrepio?

-não, es-qui-si-to

-sei…

-tu só falas isso?

-o quê?

-coisas estranhas, sei…

-não, também sei dizer coisas bonitas

-fala uma…

-era uma vez um rapaz que não nadava ainda

-rsrsrsrsrs

-e para chamar a atenção da bela que adorava

-rsrsrsrsrsrsrsrs

-arrojou-se na água sorrindo

-rsrsrsrsrsrsrsrs

-mas como ela estava com amigos o viu morrer e depois foi para casa muito triste

-você, putz, é dose!

-quer uma?

-mais ainda sou uma menina

-dão-se bebidas quentes para aqueles que à água sobrevivem

-só um pouquinho, vinho, argh, difícil

-estás salva

-vêm helicópteros a caminho?

-estrelas se incendeiam e abrem-se nos céus caminhos

-isso é bonito…

-…

-nada dizes?

-as coisas belas são as que oferecem maior perigo

-és diferente…

-estou agora contigo

-me olham rindo os amigos

-constranger-se é estar no mundo

-hum?

-sentir o peso maldoso do olhar alheio significa que estás viva

-parecia-me divertir-me tanto antes de estar aqui contigo

-e não te divertes agora?

-me divirto, mas uma sensação de medo, como se estivesse a cometer um equívoco

-esta é a verdadeira vida

-por isso olhas ao invés de adentrares a água?

-já me sinto imerso, estou quase sem sentidos

-sabia que assim é que também me sinto?

-vamos morrer afogados?

-não, quero viver contigo.

Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no Rio de Janeiro. 
Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, 
já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros 
e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, 
Expresso Araguaia e A Semana.

 

 

 

2 Comentários

  1. No quarto escuro onde as ilusões se afogam
    ódio e rancor, amor e dor se enlaçam
    e nesse encontro se consomem
    restam palavras, seu lirismo, seu poema
    eis que surge a criação de um homem

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