Por Eliete Borges Lopes*

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Me llaman calle

(Mano Chao)

Me llaman calle, me llaman calle
Calle sufrida, calle tristeza de tanto amar
Me llaman calle, calle más calle

NO FRONT DA VIDA>>Comunidade nômade>>População de Rua

Foto: Eliete Borges Lopes
Foto: Eliete Borges Lopes

Meu lugar de pertencimento na pesquisa junto da população em situação de rua na cidade de Cuiabá é um lugar que está no coletivo, não é meu, é deles. E nesse lugar onde pesquisa e vida não se separam o esforço é o de compreender, por exemplo, como se constitui uma ética da rua. Como se constituem as comunidades com traços particulares de bando e nomadismo. Junto dessa população percebemos, por exemplo, o aprofundamento dos laços sociais que criam pertencimentos e afetos e que revela uma população ativista e rebelde, que em face do abandono, tem como estratégia de defesa e de luta, o ‘bando’ que somado à afetividade, trazem a tona comunidades nascentes, comunidades em Devir. Comunidades de sujeitos coletivos que se negam ao coletivismo. Sujeitos políticos que destronam a política na crítica que fazem enquanto aqueles que se sabem que foram tornados vulneráveis e que essa condição é ao mesmo tempo uma forma de r-existir. Sujeitos éticos que na radicalidade da vida no front afirmam a potência de uma existir radicalmente questionador dos padrões de controle e de governamento das populações.

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Estas comunidades mobilizam espaços, temporalidades, fatos e artefatos sociais e da cultura, de maneira a subverter o desejo de pólis e consagrar-se ao desejo de Plaza (praça). O desejo de plaza é o desejo de rua, aquele que se constitui na “inexpropriação”. O que é irredutível a essa população, o que lhes é inexpugnável, é justamente não apenas a contingência da rua, mas o seu desejo, tanto a amparo como a r-existência. Essa ambiguidade, e não apenas essa, forja em grande medida o sentido da comunidade que vem, essas potências ensaiam as condições de possibilidade de uma política da rua, de uma vida comum, no sentido de uma vida compartilhada, isto é o mesmo que uma utopia de uma comunidade nascente ou uma comunidade que ainda está vindo.

*Eliete Borges Lopes é professora e artista. Atualmente cursa Doutorado em Educação no Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) na Linha de Pesquisa – Movimentos Sociais, Política e Educação Popular.

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