Desde sempre observei que casas abandonadas, sem moradores, acabam em ruínas. Parece tão estranho esse processo de desmantelamento que ocorre aos poucos, de forma imperceptível no começo e de repente eis que surge ali a imagem da ruína.

É doloroso perceber como o abandono condena um imóvel a morte. Falo aqui de uma casa famosa na historia cuiabana. A casa de Bem-Bem. Ali vivi momentos encantadores no final da década de setenta e inicio de oitenta, quando ainda cheia de vida, abrigava a festa de São Benedito e seus festeiros.

Ali conheci o bolo de arroz, a paçoca de pilão, a maria isabel e a farofa de banana, preparados nos fogões de lenha com amor verdadeiro, com fartura e generosidade. Ali conheci a hospitalidade alegre de um povo caloroso e gentil.

Lembro-me de uma ocasião em que o pai de Aline chegou da fazenda carregando praticamente um boi inteiro nas costas, e jogando a manta de carne sobre o varal, abriu um largo sorriso cumprimentando a todos que ali estavam.

Naquela época era eu uma estrangeira na terra de Bem-Bem. Não tinha a menor ideia da importância das festas de santo, e fiquei apaixonada pelo movimento de pessoas que entravam e saiam como se a casa fosse de todos, todos bem vindos, recebidos com fartura e alegria.

Muita música e animação durante o dia todo, de madrugadinha até a noite, quando enfim as pessoas se retiravam para voltarem no dia seguinte.

Hoje, dói ver a casa sem telhado, no abandono e no descaso. Me pergunto qual o sentido de destelhar o imóvel, para deixa-lo assim, exposto a intempérie, em total descaso pelo patrimônio histórico, cultural e afetivo da cidade. Nas paredes desnudas, já se vê o reboco rachado, deixando a mostra o barro da taipa.

Com certeza as chuvas, que começam a desaguar, provocarão danos dramáticos as paredes frágeis…

Diante desse cenário me  pergunto qual a intenção do poder público, que deveria zelar pelo patrimônio histórico em deixar  ruir essas paredes que abrigaram outrora uma das celebrações mais marcantes do imaginário cuiabano.

Não existe resposta para isso.

Com indignação e tristeza deixo aqui meu relato, pois posso constatar apenas a falta de compromisso e sensibilidade das autoridades responsáveis, (ou irresponsáveis), que pouco se importam com a memória e preservação do patrimônio cultural de nossa cidade.

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