*Por Augusto Krebs

 

ele esculpe as nossas estradas, as linhas de teu rosto

 

ocupa o espaço lido entre nós dois

 

quero

 

anseio

 

mas escorres pelas mãos

 

é melhor amar o silêncio em suspenso

 

é melhor amar em silêncio,

 

em segredo

 

na busca do que é sincero, sem alarde

 

como o segundo que emerge

 

quando respiro teus suspiros

 

um frenesi que se esconde em brumas cansadas no céu

 

de frentes frias passando por Cuiabá

 

e precisamos da vigília das estrelas para descansar

 

estas mesmas

 

as que brilham pálidas

 

e em brilhos pálidos

 

tentamos com as mãos em vão alcançar

 

e anseio a chegada dos verões

 

o abalo sísmico no cheiro das chuvas

 

mar e mar

 

e resvala o ar que passeia as narinas

 

numa insustentável sofreguidão

 

os brônquios

 

nervosos

 

os brônquios

 

e os alvéolos

 

os alvéolos manchados em torturas de sonhos

 

que não se permitem ao certo respirar

 

que cospem fogo aos céus

 

estes instantes

 

cantando ironicamente: “enfisema pulmonar!”

 

segurava tuas mãos,

 

era uma jardim de pêssegos

 

e passeava ladrilhos com os pés

 

um bronze queimado

 

os olhos

 

e uma sina de frações

 

nossa rotina repleta de frações

 

esta

 

de juntar as mãos

 

e como numa reza fazer a alma cair

 

aos recônditos dos braços entrelaçados

 

de  lembrar em rimas que a vida pode ser desgraçadamente sólida

 

e feliz

 

mas cabe nos olhos te ver

 

nos dedos te tocar

 

na sala de estar

 

que sem sombras não há dúvida

 

tem muita tinta pra esquecer as glórias

 

tem muita música pra vidas simplórias

 

há de ter o gosto fustigado do sal

 

a maresia

 

que vomita minha ânsia

 

no entardecer

 

aqui só restam flores e hospitais

 

de minha boca saem flores e hospitais

 

puta que o pariu

 

restam-me a estupidez, os estampidos de ternura

 

para subir a Getúlio

 

as avenidas do centro

 

procurando um rosto que têm habitado

 

meu silêncio

 

o rosto de uma idéia bárbara

 

não há lucidez em foco

 

nos perguntamos: “Que será das canções¿”  “Aonde iremos parar¿”

 

como todo ser de Homero à Rosa

 

somos lacaios

 

num ato circunflexo

 

do cosmo

 

abençoado

 

desnudo e tímido

 

que nos embala

 

no segundo que emerge

 

e atinge minha pele também

 

formando sulcos

 

e onde quebram as ondas

 

é que moram minhas rugas

 

te quero e me escorres pelas mãos

 

desabam os impérios

 

eclodem-se guerras

 

fazemos amor

 

brincamos de não importar

 

no sofá, na cama

 

e gosto do teu gosto cinematográfico

 

de viver

 

afiada

 

invadem as favelas

 

as sinfonias se acabam

 

tudo tem verniz

 

na memória somente

 

porque tudo se destrói inevitavelmente

 

no segundo que emerge.

 

Ela é bárbara e investe

 

contra o segundo que emerge

 

no presente a força intrínseca do futuro

 

*Augusto Krebs, 24 anos, chapadense, cidadão do cosmo.

Comentário

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here