Em frente à Praça Alencastro, com a vista que remete à uma Cuiabá com ares cosmopolita, está o prédio Maria Joaquina. Antigo, comento com minha irmã que era o mesmo edifício que nossa mãe conta que morou na década de 80 e sentia-se em qualquer lugar do mundo com os turistas que encontrava no centro. Subimos pelo elevador até o 11º andar. A porta branca se abre e com um sorriso largo ela nos recebe. Seu cabelo é rosa. Sua roupa é vintage, parece uma personagem de filme. Comentamos que nos sentimos em São Paulo, naqueles prédios antigos do centro, janelas amplas dão vista para o hotel Getullio e a Igreja da Matriz. E este pedaço de Cuiabá mostra-se verde.

Foto: Marianna Marimon
Foto: Marianna Marimon

A menina de cabelo rosa e sorriso largo é Bianca Poppi. Seu nome já se tornou referência e inspiração no que diz respeito a moda, arte, sustentabilidade, economia criativa. Desde pequena tem uma relação com este mundo que criou para si na vida adulta. Desenhos, bordados, roupas. Ela molda o seu universo com as próprias mãos.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

“Comecei a produzir mais com 15, 16 anos quando ganhei uma máquina que era da minha avó. A história é assim, meu pai comprou uma máquina para minha avó com o primeiro salário dele, e quando ela faleceu, a máquina veio para casa, de pedalzinho, ele colocou motorzinho e eu usava, fazia ecobags, foram as primeiras peças e comecei a vender em eventos de rock, no MISC, no Grito Rock, produzia para vender, e nunca mais parei”.

Ateliê Bianca Poppi - Foto: Carol Marimon
Ateliê Bianca Poppi – Foto: Carol Marimon

“Eu gosto muito de pesquisar, passar horas na internet, redes sociais, lendo, vendo imagens de moda, ilustração, arte de rua. Tudo isso de cor e estética se impregna em mim, e no que eu uso, no que eu faço e isso se transforma em desenho. O lance da ilustração, todo mundo pergunta se eu me desenho, se é autorretrato, mas a referência acaba vindo para mim, no modo como eu me visto, como corto o cabelo, o que vou desenhar e o que vou passar para a roupa. Gosto muito do fazer manual e acabo misturando, o crochê, o bordado, com a roupa, é mixzão assim”, conta.

Ateliê de criação - Foto: Marianna Marimon
Ateliê de criação – Foto: Marianna Marimon

E de todo este fazer nasceu o Brechó da Poppi e a sua própria marca. Afinal, o que acaba falando mais alto em seu mundo de arte, são as roupas. “Tenho o meu brechó, e eu até converso com as roupas quando vou garimpar, as pessoas devem pensar que sou louca (rs), mas a gente consegue se comunicar através disso. As pessoas pensam que moda é muito fútil, porque a primeira coisa que vem a cabeça é vogue, consumismo, e eu acho que podemos traduzir muitas coisas através da moda, através do fazer”.

Brechó da Poppi - Foto: Facebook
Brechó da Poppi – Foto: Facebook

Este caminho passa pela economia criativa e colaborativa. “Tenho gostado muito dessa questão da economia criativa e colaborativa, é uma solução incrível, e necessária, essencial. Hoje eu pago todas as minhas contas com esse trabalho que eu faço, e eu comecei do zero, e até hoje to meio no zero. Mas quando você sai do mercado, eu não tenho salário fim do mês que vai garantir. Hoje eu moro sozinha, pago minhas contas, então, a gente encontra nesse meio colaborativo, das trocas, uma solução criativa para conseguir se sustentar. A questão do brechó é muito legal porque o negócio é bem pequeno, eu costumo chamar de closet, fica no Espaço Magnólia, uma galeria muito fofa e acho super aconchegante, é pequeno, mas mesmo assim é grandioso para mim”.

Bianca Poppi - Foto: Facebook
Bianca Poppi – Foto: Facebook

O Brechó da Poppi começou junto com a Feirinha da 24, há dois anos e meio. “Surgiu com o Alê, com a vontade da Creuza Medeiros, junto com a Feirinha da 24. Não tinha espaço físico, só estava expondo nos eventos. O espaço físico é desde outubro do ano passado, vai fazer um ano”.

O futuro aponta também para uma lojinha virtual. Mas, ainda assim, Bianca quer manter a produção intimista. Mesmo que tenha uma equipe de parceiros no futuro, para que profissionalize a marca, não vai deixar de sentar-se à máquina para o seu fazer com as próprias mãos.

Bianca Poppi - Foto: Facebook
Bianca Poppi – Foto: Facebook

Este nadar contra a maré de Bianca Poppi – afinal ela vai na contramão das revistas de moda, do consumismo desenfreado que bombardeia as pessoas com publicidade barata, do mercado capitalista, e de como o sistema se põe para o mundo – é inerente ao seu ser, é uma escolha que não se escolhe.

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Foto: Carol Marimon

“Eu quero isso mais horizontal, sincero, não precisamos pisar no outro. Esse negócio de nadar contra maré é o que eu procuro fazer, o brechó é sustentável, são peças de segunda mão ou são muito antigas e você está dando uma nova vida para elas. Fiquei pensando quando criei a marca, como vou fazer, eu queria manter a ideia da sustentabilidade e porque tem a ver com o que eu penso de mundo, mas aí vou produzir mais roupa nova quando poderia estar usando outras?”.

Com uma ideologia forte, Bianca trabalha com tecidos fora de coleção, produções ‘lado b’ como classifica, retalhos, pequenos refugos. “Procuro reaproveitar”.

“Aqui dentro mesmo você não quer ir por esse caminho, eu poderia ir para São Paulo e comprar lá, mas você tem um ideal na vida e quer fazer aquilo, não é uma escolha. É que é muito sincera dentro de você, você não consegue escolher o caminho mais fácil, você simplesmente sente que tem que fazer aquilo, que está na sua cabeça, aquela ideia que está ali”.

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